O relatório da Polícia Federal (PF) sobre o caso das joias, pelo qual Jair Bolsonaro e outras 11 pessoas foram indiciadas, aponta, para além do fato de que o ex-presidente teria liderado um esquema criminoso para desviar mais de R$ 6 milhões com vendas ilegais de presentes recebidos em viagens oficiais, uma série de evidências que podem incriminá-lo.
Entre essas evidências está um envelope com dinheiro em espécie recebido por Bolsonaro no dia 31 de dezembro de 2022, isto é, logo após o ex-presidente desembarcar nos Estados Unidos. Os valores em 'cash' foram entregues ao ex-mandatário por Samuel Oliveira, genro de Paulo Junqueira, empresário do agronegócio que hospedou o ex-chefe do Executivo em Orlando.
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O pagamento foi descoberto pela PF ao analisar mensagens via WhatsApp trocadas entre o ex-ajudante de ordens Mauro Cid e o assessor técnico militar Daniel Luccas.
"Diante dessas conversas entre Mauro Cid, Daniel Luccas e Marcelo Câmara, ficou evidente que Samuel entregaria uma encomenda (dinheiro) para o ex-presidente Jair Bolsonaro, ainda no ano 2022, enquanto ainda exercia o cargo de Presidente da República do Brasil", diz trecho do relatório da PF.
Ao portal UOL, o empresário Paulo Junqueira negou irregularidades na entrega de dinheiro vivo a Bolsonaro.
"Da minha parte, não foi pedido pra entregar, e nem acredito que o Samuel tenha entregue absolutamente nada para o presidente Bolsonaro. Eu cedi o imóvel pra ele ficar, ele não foi pro meu imóvel no início da temporada que ele teve lá, ele ficou num outro imóvel (...) Agora eu vou receber os meus amigos na minha casa, a casa tem que estar em ordem. Pode ser que o Samuel tenha entregue alguma coisa, não para o presidente Bolsonaro. Pra que alguma coisa tenha sido arrumada, alguma coisa nesse sentido, entendeu. Te garanto também que foi alguma coisa irrisória", declarou.
Bolsonaro e o dinheiro vivo
O ex-presidente Jair Bolsonaro teria recebido dinheiro em espécie em mãos oriundo da venda de joias que ele teria subtraído do acervo presidencial em um esquema criminoso para desviar R$ 6,8 milhões. É o que aponta o relatório da Polícia Federal (PF) sobre o indiciamento do ex-mandatário e outras 11 pessoas por associação criminosa, peculato e lavagem de dinheiro enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF), cujo sigilo foi derrubado nesta segunda-feira (8).
No documento enviado ao STF constam mensagens trocadas entre o ex-ajudante de ordens Mauro Cid e o ex-assessor Marcelo Câmara nas quais fica claro que ambos discutiam a melhor maneira de fazer o dinheiro da venda ilegal das joias chegar até o ex-presidente. Em dado momento, Cid sugere evitar transferências bancárias, que deixa rastros, e propõe entregar os valores a Bolsonaro "em cash", isto é, em espécie.
O diálogo via WhatsApp entre Cid e Câmara foi registrado em 18 de janeiro de 2023, quando o ex-assessor estava com Jair Bolsonaro em Orlando, nos EUA. Na conversa, Cid tenta organizar o repasse ao ex-presidente, revelando que seu pai, o general Mauro Lourena Cid, que teria negociado venda de joias no país da América do Norte, possuía R$ 25 mil de uma dessas vendas.
“Eu estava vendo o que era melhor fazer com esse dinheiro levar em ‘cash’ aí. Meu pai estava querendo inclusive ir aí falar com o presidente (…) E aí ele poderia levar. Entregaria em mãos. Mas também pode depositar na conta (…). Eu acho que quanto menos movimentação em conta melhor, né?", diz Cid.
“O relógio, aquele outro kit lá, vai pro dia 7 de fevereiro, vai pra leilão. Aí vamos ver quanto que vão dar”, afirma ainda o ex-ajudante de ordens.
Além de ficar explícito que Cid planejava entregar o dinheiro das joias a Bolsonaro sem deixar rastro, outra troca de mensagens mostra que o ex-presidente deu aval para que um kit de pedras preciosas, também subtraído ilegalmente do acervo presidencial, fosse a leilão nos EUA.
Em 4 de fevereiro de 2023, Cid enviou a Bolsonaro, via WhatsApp, o link com informações sobre um leilão nos EUA para tentar vender um kit de joias de ouro rose, que ocorreria quatro dias depois. Bolsonaro, prontamente, respondeu: "Selva".