RACISMO

Cláudio Castro afronta Itamaraty e nega ação violenta e racista da PM contra filhos de embaixadores

Em declaração absurda, governador ainda diz esperar “um pouco mais de respeito e consideração” pela Polícia Militar

Cláudio Castro em solenidade com policiais no Centro Integrado de Comando e Controle (CICC).Créditos: Divulgação/Governo do RJ
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Na tarde desta terça-feira (9), durante a entrega de um certificado de “qualidade internacional” à Central 190 da Polícia Militar, o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro insinuou que não houve racismo em uma abordagem da polícia miltar do Rio que foi racista contra um grupo de adolescentes, sendo três deles negros, em Ipanema, na Zona Sul da cidade do Rio, no último dia 4. Como mostra essa reportagem da Fórum.

Em declaração ainda mais controversa, o governador diz ser “muito complicado” para o policial saber se uma pessoa negra “ é filho de um diplomata” ou “alguém cometendo um delito”, justificando a abordagem violenta. Castro ainda disse que “não ter sido procurado” por nenhum representante do Ministério das Relações Exteriores (MRE - Itamaraty) para tratar do caso, defendendo os policiais.

“A gente tem que entender um pouco a complexidade do trabalho policial. Naquela região ali, o que os moradores mais reclamam é exatamente dos assaltos feitos por jovens. Aquele policial tá ali, como todos os outros que estão ali, procurando exatamente situações de jovens praticando delitos. O pessoal ficou falando da questão de racismo, mas tinham jovens negros e brancos. Então se houve algum erro, a Corregedoria tá investigando. É muito complicado pro policial saber se é filho de um diplomata ou se é alguém que tá cometendo um delito. Crucificar o policial é o mais fácil. Se teve erro, nós vamos corrigir, mas a gente tem que entender a complexidade da região. Já pedi ao coronel Menezes (comandante da Polícia Militar) que coloque todos eles em algum treinamento, reciclagem... Quanto mais a gente puder fazer para melhorar a abordagem policial melhor, mas eu não vou crucificar o meu policial”, afirmou. "Espero por parte do Itamaraty um pouco mais de respeito e consideração pela Polícia Militar. Quando os filhos deles estão aqui quem vai defender é a polícia”, diz.

No dia 5, o Itamaraty emitiu um pedido formal de desculpas aos embaixadores do Gabão e da Burkina Faso. Dois dos jovens abordados, que enfrentaram armas apontadas para eles, são filhos dos chefes das missões desses países. Além disso, um terceiro adolescente é filho de um diplomata da embaixada do Canadá, enquanto o quarto é neto do jornalista Ricardo Noblat.

Tanto os familiares dos adolescentes quanto o Ministério da Igualdade Racial destacaram o preconceito na abordagem. O órgão condenou veementemente a conduta dos policiais militares, classificando-a como violenta e irresponsável, e expressou solidariedade a cada um dos adolescentes e seus familiares. A pasta ainda enfatizou que todos os jovens, independentemente de classe social, relações políticas ou familiares, merecem viver com dignidade, sem violência, e com perspectivas de um futuro promissor, respeitando os direitos estabelecidos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente.

Relembre caso

Eram oito horas da noite e seis minutos, de acordo com a câmera de segurança do condomínio que filmou a abordagem, quando 5 adolescentes chegam ao portão e um deles adentra o local. Na cena seguinte, passa um ônibus, e, logo atrás dele, uma viatura da PM de tipo veraneio, com o camburão estendido, estaciona de sopetão.

Os PMs desceram já apontando a arma aos quatro adolescentes, como costumam fazer no Rio de Janeiro quando veem três jovens negros andando nas ruas. Os quatro foram colocados com as mãos nas paredes, vasculhados e interrogados. Os outros 3, negros de 13 e 14 anos, são filhos de diplomatas do Canadá, Gabão e Burkina Faso. Noblat contou a história nas suas redes sociais, onde compartilhou as imagens das câmeras de segurança e um relato de Rhaiana Rondon, sua cunhada e mãe do menino abordado. Leia a matéria completa aqui.

O que diz a Secretaria

A Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro enviou à reportagem, por e-mail, o seu posicionamento acerca do episódio. Leia a seguir na íntegra.

"Os policiais envolvidos na ação portavam câmeras corporais e as imagens serão analisadas para constatar se houve algum excesso por parte dos agentes. Em todos os cursos de formação, a Secretaria de Estado de Polícia Militar insere nas grades curriculares como prioridade absoluta disciplinas como Direitos Humanos, Ética, Direito Constitucional e Leis Especiais para as praças e oficiais que integram o efetivo da Corporação.

Reforçamos que a Ouvidoria da SEPM está à disposição dos cidadãos que se sentirem ofendidos para a formalização de denúncias através do telefone (21) 2334-6045 ou e-mail ouvidoria_controladoria@pmerj.rj.gov.br.

 A Corregedoria Geral da SEPM também pode ser contactada através do telefone (21) 2725-9098 ou ainda pelo site https://www.cintpm.rj.gov.br/. O anonimato é garantido".