Enquanto segue com sua estratégia de impor uma narrativa de perseguição política para nutrir a horda de extremistas, Jair Bolsonaro (PL) avalia com aliados as consequências de uma possível prisão - ou absolvição - pelo Supremo Tribunal Federal (STF) nos processos sobre a organização criminosa que, segundo a Polícia Federal, usou a "estrutura do Estado para obtenção de vantagens" e causou o "enriquecimento ilícito" do clã e de seu entorno.
O furto de joias, segundo a PF, é parte de apenas um dos cinco braços onde atuou a OrCrim de Bolsonaro.
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No inquérito entregue ao STF e à Procuradoria-Geral da República, a PF lista ainda os "ataques virtuais a opositores" e também "às instituições, às urnas eletrônicas e ao processo eleitoral", os "ataques às vacinas contra a Covid-19 e medidas sanitárias na pandemia" e a "tentativa de golpe de Estado e de Abolição violenta do Estado Democrático de Direito".
As provas já levantadas contra o ex-presidente, segundo juristas de renome são robustas, e devem ser fortalecidas com o inquérito sobre a tentativa de golpe de Estado, que deve ser finalizado nos próximos dias.
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A estratégia de Bolsonaro, no entanto, é montar uma narrativa "generalizada sem especificar com detalhe", como combinou com o advogado Frederick Wassef.
Nesta terça-feira (10), o ex-presidente pinçou uma informação sobre suas apostas nas lotéricas, que constam no relatório, para desviar o foco dos apoiadores para ludibriar a população e manter os extremistas mobilizados em torno da narrativa vitimista.
"A PF foi com tudo na lotérica do interior de São Paulo. Esperavam achar algum esquema de lavagem ou outro ilícito por parte de Bolsonaro. Nada acharam", escreveu, emendando com a estratégia de vitimização: "depois a PF se incomoda quando é acusada de perseguir Bolsonaro".
Dessa forma, aliados do ex-presidente afirmaram à coluna de Malu Gaspar, n'O Globo, que “Bolsonaro preso é um problema para o STF e pode gerar um movimento popular pela sua soltura”.
A avaliação dos aliados vai ao encontro da aposta de Bolsonaro. "Se Bolsonaro for absolvido, o Supremo será considerado um covarde, capturado pela direita. Se condená-lo, alimenta a tese bolsonarista de perseguição e pode produzir um caos político", emenda o mesmo aliado.
A preocupação de Bolsonaro
Em sua estratégia, Bolsonaro vai aprofundar a propagação da narrativa vitimista, pois acredita que deve ser indiciado em todos os inquéritos em que é investigado - e há elementos e provas suficientes para isso.
No entanto, a preocupação maior do ex-presidente passa pelo jogo de xadrez com Alexandre de Moraes, relator das investigações sobre a OrCrim no Supremo.
Ao levantar sigilo das investigações, Moraes busca expor ao máximo as mentiras ditas por Bolsonaro e aliados na narrativa de perseguição política.
O ex-presidente se preocupa, portanto, mais com o conteúdo das investigações, que pode colocar em xeque a estratégia de comunicação para ludibriar a população.
As informações e provas robustas, que podem fazer desmoronar as bandeiras do "mito" - em especial a de "incorruptível" -, podem causar uma desmobilização da base de apoio e desestruturar a principal aposta de Bolsonaro: de levar os extremistas às ruas e provocar um caos político diante de sua possível prisão.