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VÍDEOS: Gabinete do ódio da Globo em ação

Como a Globo fabricou, produziu e editou um presidente da República

Créditos: Montagem: Antonio Mello
Escrito en POLÍTICA el

O Globo publicou uma reportagem com denúncia sobre um suposto grupo de comunicação alimentado pela Secom do presidente Lula, que seria semelhante ao "gabinete do ódio" de Jair Bolsonaro.

Acusação que havia começado há alguns dias no Estadão, depois se espalhou pela Folha, até chegar a O Globo. O próximo passo deve ser uma reportagem espetacular no Fantástico, sempre com ilações e meias verdades para tentar fazer mais uma equivalência forjada entre os governos Lula e Bolsonaro.

O Ministro-Chefe da Secretaria Extraordinária de Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul Paulo Pimenta, que chefiava a Secom até ser deslocado por Lula para cuidar da recuperação do Rio Grande do Sul após a tragédia das enchentes, respondeu em seu perfil na rede X, negando a existência do suposto "gabinete":

 

 

Não existe nem nunca existiu ‘gabinete’ nenhum envolvendo governo e comunicadores de esquerda para fazer luta política ou algo parecido. É uma tentativa irresponsável de igualar um esquema criminoso de produção industrial de mentiras e desinformação com opinião de ativistas digitais progressistas. Nunca existiu, repito, nada semelhante ao ‘gabinete do ódio’, que se utilizou de recursos públicos e com a máquina do Estado para investigar e atacar adversários

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O gabinete do ódio da Globo

 

No entanto, um gabinete do ódio existe, é das Organizações Globo, que sempre age na contramão dos interesses do povo brasileiro e em favor do mercado financeiro.

Em 1989, no segundo turno das eleições presidenciais, vemos esse gabinete do ódio em ação trabalhando para impedir a vitória de Lula no debate decisivo contra Fernando Collor para escolher o primeiro presidente do Brasil eleito em eleições diretas, após o longo período da ditadura — aliás, coberta e apoiada por um "gabinete do amor" da Globo.

Aqui, o homem mais importante da Central Globo de Produções, o mítico Boni da Globo, fala ao repórter Geneton Moraes Neto como foi sua participação no debate, a pedido da Globo:

Fica claro que "o conteúdo era do Collor" de que fala Boni é cascata, pois as pastas com folhas em branco que teriam denúncias contra Lula foram sugestão evidente da Globo. O que mais?

 

Edição manipulada decisiva para vitória de Collor

 

Mas não foi apenas na montagem do "personagem" Collor que a Globo auxiliou em sua eleição. Na edição dos melhores momentos do debate, a Globo pesou a mão em favor de Collor, dando a entender que ele havia vencido o debate por 7 a 1, como na goleada histórica da Alemanha sobre o Brasil, muitos anos depois.

A influência dessa edição no resultado foi confirmado por uma pesquisa científica que envolveu os pesquisadores Lucas Novaes, do Insper, e Alexsandros Cavgias (Universidade Ghent, Bélgica), com seus colegas Raphael Corbi e Luis Meloni, da USP.

Eles pesquisaram a influência da edição do debate apresentada no Jornal Nacional em três tipos de municípios pelo Brasil:

  • municípios onde a Globo era uma das emissoras, entre outras
  • municípios onde a Globo era a única emissora
  • municípios onde o sinal da Globo não era captado

 

Os pesquisadores concluíram que Lula foi desfavorecido nas cidades alcançadas pela Globo na parcela de votos amealhada pelo petista na passagem do primeiro para o segundo turno e também na parcela de votos conquistada pela centro-esquerda.

No grupo de 1.054 municípios onde a Globo era a única TV aberta a chegar com seu sinal, a inclinação pelo voto em Collor foi ainda mais acentuada, apontou a análise.

Uma pesquisa de intenção de votos feita pouco antes e pouco depois da veiculação da versão editada do debate foi utilizada no estudo para ajudar a fechar o foco no evento e avaliar o seu impacto mais isoladamente. Encontrou-se um prejuízo ainda maior para o candidato petista.

Tomadas as amplitudes dos efeitos apurados em todas as análises, os pesquisadores concluem que a transmissão da versão editada do debate pode ter tido efeito de escala em tese suficiente para reverter o resultado da eleição que sagrou Fernando Collor de Mello como o primeiro presidente eleito pelo voto popular após o período da ditadura militar (1964-1985). [Insper]

A manipulação da edição foi tão gritante que a Globo nunca mais editou debates entre candidatos.

 

A fabricação do antiLula

 

Mas não foi apenas na preparação de Collor para o debate final nem na edição manipuladora que a Globo ajudou a derrotar Lula.

Antes até de Fernando Collor ser candidato a presidente, ele teve sua imagem trabalhada pela Globo, desde que era governador de Alagoas, como informa o jornalista Cláudio Humberto, assessor de imprensa de Collor tanto no governo de Alagoas como na presidência da República.

O Alberico a que Cláudio Humberto se refere é Alberico Souza Cruz, na época diretor geral de telejornalismo da Rede Globo e, em 1990, após a posse de Collor, promovido "coincidentemente" a diretor geral de Jornalismo da Globo.

Taí o verdadeiro gabinete do ódio em ação.