"Sim, eu já fui antipetista e a favor do impeachment da Dilma. Sim, eu atacava a esquerda com ódio, como faz todo direitista. Sim, eu também acreditei nas fakenews da direita de que o filho do Lula era dono da Friboi e a filha da Dilma era dona da Havan. Mas aos poucos eu fui acordando e percebi que eu tava sentindo aquele ódio todo por causa das mentiras que tinham me contado e eu acreditei. Eu percebi que eu não era aquilo, sabe? Aquele rancor todo que eu sentia, aquele ódio doentio que a extrema direita te faz sentir, aquela maldade toda não combinava comigo. Eu acordei pra vida, eu sou artista, intelectual, é claro que eu estava do lado errado da história".
O relato na Rede X da escritora Denise Tremura, que virou alvo de Jair Bolsonaro (PL) e do deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) após declaração de que o deputado André Janones (Avante-MG) deveria ir para a comunicação, foi compartilhada pelo presidente Lula nesta segunda-feira (17).
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"Importante relato. Parabéns pela reflexão e pela coragem", escreveu Lula sobre a publicação de Denise, que relata como deixou a extrema direita e virou alvo dos bolsonaristas nas redes.
"Percebi meu erro logo após o Impeachment da Dilma, ainda em 2016 (oito anos atrás). Apaguei os posts porque não condizem mais com o que eu penso e quero pro meu país. Podem usar os prints à vontade, podem me xingar, me atacar, vocês só estão me deixando famosa", declara.
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"É preciso muita coragem pra mudar de opinião e eu tive coragem de vir pro lado certo da história. Lá em 2018 eu já votei no Haddad. O Brasil tá melhor hoje, fato, e esses ressentidos com a vitória do Lula estão com inveja porque o Bolsonaro é um perdedor. Um grande fracassado que precisa incentivar seus servos atacarem uma pobre influencer do interior pra se sentir poderoso. Podem publicar prints à vontade nos comentários, eu ganho por views, e quanto mais coments mais dólares na minha conta. Me deixem famosa, otários, é só isso que eu quero", emenda a escritora.
Alvo da horda bolsonarista
Denise virou alvo da horda bolsonarista após uma live no Spaces em que defende que "um Janones" deveria ir para a comunicação do governo para rebater os opositores.
"Lula tem que meter logo um Janones na comunicação para ele poder pautar a discussão do dia, como aconteceu no segundo turno das eleições. Foi o Janones que comandou a campanha inteira, não tem como falar que não, eu já entrava no Twitter, já ia direto no perfil dele para saber do que ele estava falando, para saber sobre o que eu ia falar, era ele que estava pautando", disse a escritora, que tem mais de 500 mil seguidores na rede X.
Na live, Denise conta como compartilhou da mesma estratégia de Janones na sua rede durante as eleições para desnortear os bolsonaristas, que precisavam rebater o deputado em vez de divulgar fake news contra Lula.
Segundo ela, a estratégia era disseminar informações "enviesadas" - como o caso em que Bolsonaro disse que "pintou um clima" ao visitar uma casa com garota de 14 anos - para tirar o foco do gabinete do ódio.
"Os bolsonaristas tinham que desmentir as fake news, que nem eram tão fakes assim (…) eles não tinham tempo de ficar criando fake news, porque estavam correndo atrás das nossas fake news. E nem era fake news, era uma pequena leitura enviesada de alguns fatos do Bolsonaro. Por exemplo, aquela declaração horrível que ele fez, que pintou um clima com uma menina de 14 anos, se não fosse Janones peitar isso e pautar e ficar falando disso, talvez tivesse passado batido. Mas não, aí foi toda a esquerda em cima desse assunto, porque a gente tinha um incentivo ali, tinha um apoio, tinha alguém a quem seguir, tinha um comando", disse.
No entanto, ao usar o termo fake news e falar em "um comando", a escritora deu vazão ao discurso de um "gabinete", que vem sendo pulverizada por veículos da mídia liberal como Estadão e O Globo, e despertou a ira dos bolsonaristas.
Em entrevista ao Diário da Região, de São José do Rio Preto, no interior paulista, onde mora, Denise afirma que apenas falou que "em 2022 Janones pautava". "Mas não existe uma ação coordenada", salientou.
Representação na PGR
A declaração foi usada por Bolsonaro para se vitimizar. "Se isso tudo não se tratasse de uma perseguição política implacável as exposições vistas por todos todos (SIC) os dias frente aos motivos de diligências espontâneas aconteceriam com frequência muito maior do que as aventadas pelos autodenominados 'defensores da democracia'", escreveu em texto parecido com os divulgados pelo filho, Carlos Bolsonaro (PL).
A publicação incitou os ataques da horda bolsonarista e fez com que Nikolas Ferreira anunciasse uma representação junto à Procuradoria-Geral da República (PGR).
"Acabo de protocolar pedido de abertura de investigação junto a PGR contra Denise Tremura e Janones em razão das declarações no Spaces de que a esquerda teria se unido, sob o comando do Deputado mencionado, para divulgar notícias falsas contra Bolsonaro nas últimas eleições. São fatos graves e que merecem a devida apuração", anunciou na rede X.