PL DO ESTUPRO

Lira sente pressão e nome de Benedita da Silva ganha força para relatoria do projeto sobre aborto, que pode ser arquivado

Deputada federal do PT, que é evangélica mas já se posicionou contra a criminalização do aborto, conversou com o presidente da Câmara após votação da urgência da proposta

A deputada federal Benedita da Silva.Créditos: Mário Agra/Câmara dos Deputados
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O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), enfrenta pressão após a repercussão negativa do Projeto de Lei 1904/2024, uma proposta que criminaliza ainda mais mulheres e meninas que precisam recorrer ao aborto apelidado de "PL do Estupro" e "PL da Gravidez Infantil". Lira estaria considerando alternativas para aprovar o texto, mesmo que com modificações. Uma das possibilidades é indicar a deputada Benedita da Silva (PT-RJ) para relatar o projeto.

Ele aprovou a urgência do projeto em uma manobra no final da sessão da última quarta-feira (12). A aceleração da tramitação do PL, que equipara um aborto após 22 semanas a um homicídio e prevê penas maiores para meninas que abortarem do que para um eventual estuprador que as tenha engravidado, gerou revolta no país, levando milhares às ruas para protestar.

Com manifestações contrárias, inclusive de membros do governo Lula, e mais de 70% da população dizendo "não" ao projeto em enquete no site da Câmara, o presidente da casa legislativa teria decidido "esperar a poeira baixar" antes de colocar a proposta em votação. Para "acalmar os ânimos", ele revelou que pretende escolher uma mulher para ser a relatora do projeto, de preferência uma mulher do "centrão".

Ao site Valor, Lira afirmou que, após a votação da urgência do projeto, conversou com Benedita da Silva, coordenadora da bancada feminina, para que o colegiado indique uma relatora para a proposta.

“Sugeri à Benedita que a bancada feminina escolha uma mulher moderada, porque elas mesmas estão divididas. O que a lei já permite hoje ninguém vai mexer. O que o texto fala vai ser moderado (...) Vamos fazer seminário, fazer discussão para a proposta amadurecer”, declarou Lira.

Após a conversa com Benedita da Silva, Lira estaria cogitando indicar a própria deputada do PT como relatora do projeto, segundo informações divulgadas pela jornalista Eliane Cantanhêde, da GloboNews. Essa seria uma 'jogada' de Lira para colocar Benedita, que é evangélica, em uma 'sinuca de bico', já que a maioria dos evangélicos é favorável à maior criminalização do aborto, enquanto a ala majoritária do PT, partido da deputada, é contra.

Benedita da Silva, contudo, já se manifestou em várias ocasiões contra a criminalização das mulheres que recorrem ao aborto. Em 2015, por exemplo, votou contra um projeto do ex-deputado Eduardo Cunha que visava dificultar o acesso ao aborto legal em caso de estupro.

Caso Benedita aceite relatar o PL que equipara o aborto ao crime de homicídio, ela pode fazer modificações ou mesmo rejeitar totalmente o texto, sugerindo seu arquivamento. A deputada ainda não se manifestou publicamente sobre a possibilidade. 

Pacheco desafia Lira sobre PL do Estupro

O presidente do Senado da República, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), desafiou de maneira clara e inequívoca o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), na noite desta quinta-feira (13) ao tratar sobre o PL 1904, uma iniciativa medieval patrocinada pela bancada evangélica bolsonarista que pretende colocar na cadeia por 20 anos mulheres que realizarem um aborto legal com mais de 22 semanas de gestação, equiparando a prática ao crime de homicídio.

Lira liberou a pauta em caráter e urgência, na quarta-feira (12), sem qualquer debate com as comissões da Casa e com a sociedade civil, como um tema deste tipo merecer, e como é sempre feito, por tradição democrática. Pacheco “colocou água na sopa” do parlamentar alagoana que dirige a Câmara e avisou que o PL 1904 “não é prioridade”, que se um dia fora analisado no Senado passará pelas comissões, e ouvirá senadoras, e que “há diferença evidente entre um aborto, que já é crime, e matar alguém”.

“Eu devo dizer que, com matéria dessa natureza, jamais, por exemplo, iria direto ao plenário do Senado Federal. Ela deve ser submetida às comissões próprias. É muito importante ouvir, inclusive, as mulheres do Senado, que são legítimas representantes das mulheres brasileiras, para saber qual é a posição delas em relação a isso... Aborto é considerado um crime doloso contra a vida. Está lá no Código Penal e ele é naturalmente diferente do homicídio. Há uma diferença evidente entre matar alguém”, disparou o presidente do Senado, num tom claro de confrontação às posturas ultrarreacionárias de Lira e seu flerte com os setores do fanatismo evangélico.

Nesta quinta, o assunto explodiu nas redes sociais, na imprensa e na sociedade. O tema foi parar nos termos mais utilizados em diferentes redes sociais e milhares de mulheres foram às ruas de várias cidades brasileiras protestar contra uma das maiores ameaças aos seus direitos já perpetradas na História do Brasil.