NETLAB

Deputados bolsonaristas tentam censurar pesquisadores que denunciam desinformação

Pesquisadores do NetLab, da UFRJ, foram convocados para uma audiência na Câmara que questiona a atuação do laboratório; reitor de posiciona

Universidade Federal do Rio de Janeiro.Créditos: Reprodução/UFRJ
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Pesquisadores do NetLab, laboratório da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) que pesquisa desinformação e mídias sociais, foram convocados, por deputados bolsonaristas, para uma audiência pública na Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado da Câmara dos Deputados.

A audiência, convocada pelos deputados Paulo Bilysnkyj (PL-SP) e Gustavo Gayer (PL-GO), visa questionar os resultados de uma pesquisa do NetLab que mostra a atuação das fake news sobre o Rio Grande do Sul durante as últimas enchentes.

No requerimento dos parlamentares, eles questionam a legitimidade do NetLab, que atua desde 2013, após uma matéria do deputado federal Marcel van Hattem que diz que o laboratório "conta com recursos do Governo Federal, advindos do Fundo de Defesa dos Direitos Difusos, vinculado ao Ministério da Justiça, para promover a perseguição de críticos do governo".

No documento, eles utilizam aspas ao escrever sobre o laboratório e os pesquisadores que o compõem, novamente deslegitimando a comunidade acadêmica. Além disso, acusam os pesquisadores de fazerem parte de uma "extrema esquerda", que busca criminalizar a direita e "defender o socialismo".

Após a convocatória, o reitor da UFRJ, Roberto Medronho - que também foi convocado para a audiência - saiu em defesa dos pesquisadores e da ciência, publicando um artigo em que denuncia a tentativa de intimidação por parte dos deputados. "O requerimento leva professores à comissão com o objetivo de censurar a ciência no Brasil, criminalizando professores. Portanto, esse não é um ataque apenas à UFRJ, mas a toda a comunidade acadêmica brasileira", diz um trecho.

Em relação ao questionamento sobre o financiamento das pesquisas por parte do governo federal, o reitor esclarece que "os recursos públicos para pesquisa são escassos diante das imensas demandas e desafios colocados ao desenvolvimento científico e tecnológico de ponta, especialmente para os que necessitam de processamento de grande volume de dados e exigem altos investimentos". Por isso,pesquisadores, laboratórios e instituições complementam seus orçamentos apresentando projetos a fundos públicos e aos disputadíssimos financiamentos privados nacionais e internacionais de fundações filantrópicas, como faz o NetLab UFRJ, segundo o reitor.

Trata-se de um roteiro já conhecido e usado noutros países por atores antidemocráticos para censurar a ciência por meio de ações no Parlamento. Nesse caso, o objetivo é inibir os estudos sobre desinformação e pressionar os pesquisadores a desistir de seus temas de pesquisa em anos eleitorais. É justamente por conhecermos esse roteiro, que relembra os tempos mais sombrios da História de nosso país, que reafirmamos nosso compromisso com o ensino e a pesquisa independente. Declaramos que não nos deixaremos intimidar por manipulações e ameaças a nossa autonomia universitária, a nossa independência acadêmica e à liberdade de pesquisa, os pilares da universidade pública e uma conquista do Estado Democrático de Direito.

O reitor finaliza reafirmando que a comunidade acadêmica não irá admitir censura à pesquisa científica, muito menos que criminalizem professores e pesquisadores quando resultados de pesquisa desagradam. "Nós, da UFRJ, seguiremos em nossa missão social de contribuir para a solução de problemas da nossa sociedade. Assim, conclamamos a população brasileira a permanecer vigilante em defesa da ciência livre, sem censura e com recursos necessários, fundamental para o desenvolvimento econômico, social e político de nosso país e para garantir a soberania nacional".

Pesquisa do NetLab sobre fake news no RS

Em maio, o NetLab lançou estudo que analisa a desinformação multiplataforma sobre o desastre climático no Rio Grande do Sul. Analisando diversas redes sociais como X, antigoTwitter, Instagram, Facebook, YouTube e outras, os pesquisadores mostraram como influenciadores, sites e políticos de extrema direita utilizaram a comoção gerada para se autopromover e espalhar desinformação com o intuito de atacar e descredibilizar o governo.

Entre as narrativas falsas mais compartilhadas e convincentes, estavam “Lula não está comprometido com as vítimas das enchentes”, “Marina insiste em culpar Bolsonaro por tragédia”, “Starlink é a única internet que está ajudando nos resgates”, “Show da Madonna recebeu recursos que deveriam ir pro RS”, “Governo está impedindo que doações cheguem às vítimas”, “As chuvas são um castigo de Deus”, “A tragédia foi planejada por globalistas” e “Figuras de direita estão ajudando mais que o governo”, apontou o estudo. 

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Outras pesquisas do NetLab

Além da pesquisa sobre as fake news no Rio Grande do Sul, o NetLab também já promoveu outros estudos sobre desinformação acerca do debate socioambiental, mostrando a atuação do agronegócio para defender agrotóxicos através de anúncios na Meta; a circulação de golpes, fraudes e desinformacão em publicidades abusivas contra mulheres também na Meta; anúncio de golpes financeiros em relação ao programa Desenrola; entre outras.

O laboratório funciona desde 2013 e vem se destacando com suas pesquisas sobre desinformação, atuando no combate a esse fenômeno que tomou conta, principalmente, da esfera política.