Segundo informações da Polícia Federal (PF), empresas controladas pela gestora de ativos Brookfield realizaram transferências de pelo menos R$ 3,3 milhões para contas bancárias da empresa Armis, da advogada Érika Andrade de Almeida Araújo, esposa do delegado Rivaldo Barbosa de Araújo Júnior, um dos acusados de envolvimento no assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) e do motorista Anderson Gomes em 2018.
A base para essa constatação vem dos dados do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e do relatório final do inquérito de investigação do crime. Na época do assassinato da vereadora, Rivaldo era o chefe da Delegacia de Homicídios da Polícia Civil do Rio de Janeiro. Dez dias após o crime, ele foi promovido a chefe de polícia.
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A PF descobriu que Rivaldo recebeu R$ 400 mil em propina para garantir a impunidade dos irmãos Domingos Brazão e Chiquinho Brazão, respectivamente conselheiro do TCE-RJ e deputado federal pelo União Brasil do Rio de Janeiro. Os irmãos Brazão, junto com o terceiro suspeito, Rivaldo, estão presos preventivamente desde 24 de março deste ano.
Disputa de terras em territórios de milícia comandadas pelos irmãos Brazão
Inclusive, a principal tese é de que Marielle Franco tenha sido assassinada pela disputa de terras na zona oeste do Rio de Janeiro, na favela de Rio das Pedras, vizinha à Gardênia Azul, região dominada por milícias ligadas tanto ao clã Brazão quanto ao clã Bolsonaro, de acordo com a investigação. Segundo aponta a delação de Ronnie Lessa, a vereadora defendia a ocupação de terrenos por pessoas de baixa renda na região e buscava o acompanhamento do processo por órgãos como o Instituto de Terras e Cartografia do Estado do Rio (ITERJ) e o Núcleo de Terra e Habitação da Defensoria Pública do Rio.
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Os mandantes, por outro lado, queriam a regularização de um condomínio inteiro em Jacarepaguá, ignorando o critério de área de interesse social. Ou seja, o dono do terreno possuía renda superior ao limite legal para tal regularização. O objetivo seria obter o título de propriedade para especulação imobiliária, o que levanta suspeitas do envolvimento da empresa canadense no caso.
O Coaf detalha que a Armis recebeu 256 transferências bancárias de clientes durante o período investigado. Dessas, 229 transferências (89%) foram feitas por empresas da Brookfield, evidenciando a forte relação entre a consultoria e a gestora. Entre 2016 e 2020, a Armis recebeu R$ 3,9 milhões de diferentes fornecedores. O que mais chama a atenção é que 84% desse valor (cerca de R$ 3,3 milhões) vieram de construtoras ou imobiliárias controladas pela gestora de investimentos Brookfield.
As transferências para a Armis de R$ 33 milhões foram realizadas por meio de empresas do ramo imobiliário ou da construção civil que estão ligadas à Brookfield. Procurada pelo UOL, a empresa alegou que os valores foram transferidos por empresas do portfólio da Tegra Incorporadora e da Erbe Incorporadora, e que, por isso, não poderia comentar sobre os envios de dinheiro. No entanto, ambas as empresas, Tegra e Erbe, são controladas pela Brookfield, conforme consta em seus balanços e comunicações oficiais.
Em resposta ao UOL, a Erbe, por email, informou que a Armis "prestou serviços de consultoria em segurança para empreendimentos no Rio de Janeiro", mas as relações contratuais foram encerradas em 2019. Já a Tegra, em comunicado, afirmou que "não mantém relação contratual" com a Armis desde 2020. A empresa também alegou que a Armis realizou "consultoria em análise de projetos e estudos de viabilidade".
Brookfield tem R$ 190 bilhões ativos no Brasil
Gigante canadense de gestão de ativos com mais de US$ 900 bilhões sob seu controle no mundo, a empresa tem R$ 190 bilhões em ativos no Brasil desde o ano de 2020. A Brookfield desembolsou R$ 7,7 bilhões na aquisição de 16 edifícios, segundo o site InfoMoney. Ao todo, foram 16 unidades apenas em 2022, distribuídas pelas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Barueri.
Armis seria uma empresa de fachada
A Armis foi fundada em abril de 2016 como uma empresa de "atividades de consultoria em gestão empresarial, exceto consultoria técnica". Érika é a única sócia da Armis. Segundo a PF, a Armis é na verdade uma empresa de fachada administrada por Rivaldo Barbosa.
A PF alega que a única finalidade da Armis era receber pagamentos destinados a Rivaldo, configurando desvio de recursos. Os investigadores anexaram prints de emails e transações bancárias como provas em um inquérito. Rivaldo e Érika negam as acusações. Afirmam que a Armis é uma empresa legítima que prestava serviços de consultoria para a Brookfield e outras empresas.