TRAMA GOLPISTA

Heleno e Braga Netto foram abandonados pelas Forças Armadas, diz jornal

Militares da Alta Cúpula estariam blindando somente o ex-ministro da Defesa da Bolsonaro das investigações sobre tentativa de golpe de Estado

Os generais Augusto Heleno e Braga Netto.Créditos: Fernando Frazão/Agência Brasil e Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
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A editoria “Alta Cúpula das Forças Armadas em off” segue a todo vapor no jornal O Globo. Nesta terça-feira (5), a coluna da Bela Megale afirma que os militares da Alta Cúpula abandonaram os generais Augusto Heleno e Walter Braga Netto à própria sorte em meio às investigações da trama golpista de Jair Bolsonaro (PL). Por outro lado, estariam tentando blindar o general Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa.

De acordo com o texto, os interlocutores consideram que a troca de Nogueira, que deixou o Exército para assumir o Ministério, não lhe foi vantajosa nesse contexto. Sobretudo porque como ministro estaria “mais suscetível” às vontades de Bolsonaro. Essa seria a explicação da caserna para o envolvimento de Nogueira na trama golpista, conforme revelado pelo general Freire Gomes em longo depoimento à Polícia Federal.

Heleno e Braga Netto, ao contrário do discreto Nogueira, ficaram marcados como barulhentos defensores do ex-presidente inelegível durante o último período, mostrando subserviência ao capital reformado sob a ótica dos generais. Por essa razão, os militares ouvidos pelo jornal teriam abandonado a dupla em tentativa de descolar a imagem das Forças Armadas da de Bolsonaro.

Braga Netto seria o menos quisto na Alta Cúpula. O ex-candidato à vice-presidência e ex-ministro-chefe da Casa Civil de Bolsonaro teria caído em desgraça com os chefões uma vez que participou de ataques contra colegas que não toparam embarcar na aventura golpista. O próprio general Freire Gomes, que comandava o Exército em 2022, foi chamado de “cagão” por Braga Netto após a recusa.

Freire Gomes

Considerado por militares o "tiro de misericórdia" em Jair Bolsonaro (PL), o depoimento do ex-comandante do Exército, general Marco Antonio Freire Gomes, à Polícia Federal implica diretamente o ex-presidente na elaboração da minuta golpista e na articulação do plano para impedir que Lula voltasse ao Planalto após vencer as eleições em outubro de 2022.

No depoimento de quase oito horas realizado na sexta-feira (1º), Freire Gomes afirmou que foi o próprio Bolsonaro, juntamente com o então ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, quem lhe apresentou duas versões da minuta golpista.

A declaração de Freire Gomes coincide com a delação do tenente coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, que teria dito à PF que o ex-presidente recebeu do então assessor especial da Presidência, Filipe Martins, a primeira versão, que previa a prisão dos ministros Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e de Rodrigo Pacheco (PSD-MG), presidente do Senado.

Bolsonaro, no entanto, teria enxugado o documento, que em sua segunda versão previa apenas a prisão de Moraes, seu principal desafeto.

Freire Gomes ainda relatou que obedecia ordens diretas de Jair Bolsonaro para que não desmontasse os acampamentos golpistas em frente aos quartéis-generais - especialmente em Brasília, onde foi gestado o 8 de Janeiro.

No entanto, teria reiterado que, desde o princípio, se opôs ao golpe, o que fez com que virasse alvo do também general - da reserva - e candidato a vice, general Walter Braga Netto.

A oposição ao golpe também partiu do ex-comandante da Aeronáutica, Carlos Baptista Júnior, que confirmou a versão em depoimento no dia 23 de janeiro à PF. Baptista Júnior também virou alvo dos achaques e de memes de Braga Netto.

Segundo os investigadores, tanto o depoimento de Freire Gomes, quanto o de Baptista Júnior, foram "consistentes" e "reveladores", e teriam preenchido "lacunas" da delação de Cid.

O depoimento implica diretamente Bolsonaro como líder da organização criminosa golpista. Segundo Freire Gomes, por exemplo, foi do ex-presidente a iniciativa de convocar o general Estevam Theophilo, comandante do Coter, para mobilizar as Forças Especiais do Exército, os chamados "kids pretos".

Os ex-comandantes do Exército e da Aeronáutica também confirmaram ao menos duas reuniões da cúpula das Forças Armadas com o então ministro da Defesa para tratar do golpe. Apenas o comandante da Marinha, Almirante Almir Garnier, teria aderido prontamente ao chamamento de Paulo Sérgio Nogueira.

Um dos encontros, após a derrota nas eleições, foi convocado pelo próprio Bolsonaro, que incumbiu o ministro da Defesa de liderar a "cadeia de comando" das Forças Armadas para o golpe.

Bolsonaro agora quer anistia

Os últimos desdobramentos das investigações da Polícia Federal (PF), no âmbito do inquérito do Supremo Tribunal Federal (STF) que apura uma tentativa de golpe de Estado no Brasil, apontam para o fato de que a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro é apenas uma questão de tempo. 

A recente operação de busca e apreensão da PF contra Bolsonaro e aliados reuniu ainda mais provas e evidências de que o ex-presidente, de fato, articulou, junto a uma organização criminosa, uma intentona golpista no país que, felizmente, não obteve sucesso. O próprio ex-mandatário se deu conta de que sua condenação é iminente e, num ato de desespero, convocou uma manifestação, realizada no dia 25 de fevereiro na avenida Paulista, em São Paulo, para “se defender”. 

Nesta manifestação, Bolsonaro, cada vez mais encurralado, deixou evidente qual a nova tônica de seu discurso: a anistia para os golpistas do 8 de janeiro que, naturalmente, poderia beneficiá-lo. Ao discursar, o ex-presidente praticamente fez uma confissão de culpa ao confirmar a existência de uma "minuta golpista" e, de forma confusa, declarou que o documento não seria utilizado para um golpe, mas sim para se decretar um Estado de Sítio depois das eleições em que fora derrotado e o atual presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, saíra vitorioso.

Foi então que o ex-mandatário fez o pedido de anistia para, hipoteticamente, evitar sua própria prisão, a dos bolsonaristas que participaram da invasão às sedes dos Três Poderes e de aliados que integrariam o que a PF chama de organização criminosa que articulou golpe de Estado.

"Quero passar uma borracha. Já tivemos uma anistia no Brasil. Peço outra. E que as pessoas que atacaram os Três Poderes paguem pelo que fizeram (...) Já anistiamos no passado quem fez barbaridade no Brasil. Agora pedimos a todos os deputados e senadores um projeto de anistia."

Apesar do apelo desesperado, a maior parte da população brasileira vem repetindo em alto e bom tom: “sem anistia”. Pesquisa da Confederação Nacional do Transporte (CNT) divulgada em 23 de janeiro materializa esse clamor em números: para a grande maioria, 81%, os envolvidos nos atos golpistas devem ser punidos. Somente 14,8% acreditam que aqueles que participaram da tentativa de golpe devam ser perdoados. 

Levantamento mais recente, da Genial/Quaest, feito logo após a manifestação de Bolsonaro na avenida Paulista, mensurou a opinião da população sobre punição ao próprio ex-presidente: a maioria, 50%, avalia ser justo que o ex-mandatário seja preso, enquanto 39% consideram uma eventual prisão injusta.