PRÓXIMOS PASSOS

Caso Marielle: Freixo comenta prisão dos mandantes e fala sobre futuro do Rio

Amigo e companheiro de trabalho por mais de dez anos de Marielle, Marcelo Freixo comenta o assunto que acordou o Brasil hoje

Créditos: Reprodução de redes sociais
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Marielle Franco trabalhou na campanha e depois foi assessora parlamentar de Marcelo Freixo por dez anos, até ser eleita vereadora. A relação dos dois era tão próxima que houve quem levantasse a hipótese de que ela teria sido assassinada como uma forma de punir Freixo.

Hoje, presos os mandantes do assassinato, Marcelo Freixo, atualmente presidente da Embratur, fez várias postagens no X, antigo Twitter, comentando o assunto que ele conhece tão bem, não apenas pelo relacionamento estreito com Marielle mas por ter sido o presidente da CPI das Milícias, de 2008, que já denunciava a família Brazão como uma das mais poderosas milícias do Rio.

Por uma coincidência, no dia da prisão dos mandantes, 24 de março, Renato, irmão de Freixo, foi assassinado pela milícia, em 2006.

Freixo fala de sua expectativa de que o Rio de Janeiro aproveite este momento para dar uma virada geral na nefasta ligação entre crime, polícia e política.

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A família Brazão é um projeto político no Rio de Janeiro. Tem vereador, deputado estadual, deputado federal, membro do Tribunal de Contas. E indica cargos nos governos. A operação da Polícia Federal hoje vai nos ajudar a entender a relação de crime e política desse projeto, é uma investigação fundamental para entendermos o tamanho do buraco que está o Rio.

Por que escolheram a Marielle? Sem dúvida porque é uma mulher negra, eles tinham certeza de impunidade. No dia seguinte, no velório, já tinha uma multidão. A resposta que a sociedade deu teve a ver com a grandeza do que Marielle representava, coisa que eles nunca foram capazes de enxergar.

O delegado Giniton Lages, ex-titular da Delegacia de Homicídios, afastado das funções pelo STF por envolvimento na obstrução das investigações do assassinato de Marielle, escreveu um livro sobre ela. O nível de barbárie e deboche é inacreditável.

Foram 5 delegados que comandaram as investigações do inquérito do assassinato da Marielle e do Anderson, e sempre que se aproximavam dos autores eram afastados. Por isso demoramos seis anos para descobrir quem matou e quem mandou matar. Agora a Polícia Federal prendeu os autores do crime, mas também quem, de dentro da polícia, atuou por tanto tempo para proteger esse grupo criminoso. Essa é uma oportunidade para o Rio de Janeiro virar essa página em que crime, polícia e política não se separam.

Foi para Rivaldo Barbosa que liguei quando soube do assassinato da Marielle e do Anderson e me dirigia ao local do crime. Ele era chefe da Polícia Civil e recebeu as famílias no dia seguinte junto comigo. Agora Rivaldo está preso por ter atuado para proteger os mandantes do crime, impedindo que as investigações avançassem. Isso diz muito sobre o Rio de Janeiro.

Hoje é 24 de março, dia em que meu irmão Renato, que foi retirado de nós pela milícia, faria aniversário de 52 anos. No caso dele, ficamos 14 anos sem saber quem matou e quem mandou matar. Quando o caso foi resolvido, os crimes já estavam prescritos e os assassinato estão livres até hoje. Hoje, que estaríamos em festa com Renato por seu aniversário, eu amanheço com os mandantes da morte da Marielle presos.

Em 2008, quando fiz a CPI das Milícias, nós escrevemos no relatório que crime, polícia e política não se separam no Rio. 16 anos depois, com o caso da Marielle resolvido, reafirmo a mesma frase. Um membro do Tribunal de Contas, um vereador (agora deputado) e um chefe da polícia presos envolvidos no assassinato da Marielle.

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Um adendo aos comentários de Freixo. Em 2008, quando da criação da CPI da Milícias, apenas dois deputados votaram contra: Flávio Bolsonaro e Chiquinho Brazão, hoje preso como um dos mandantes do assassinato de Marielle e Anderson.

 

 

Antonio Mello é autor de "ELA", "Madame Flaubert" e outros, escreve no Blog do Mello e aqui na Fórum. Conheça os livros do Mello