CRISE INTERNA

União Brasil: entenda a disputa no partido que resultou até em casa incendiada

Legenda decidirá sobre afastamento do presidente Luciano Bivar, fundador do PSL que impulsionou Jair Bolsonaro em 2018

Luciano Bivar (UniãoBraisl -PE) é presidente da sigla até junho.Créditos: Vinicius Loures/Câmara dos Deputados
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A Executiva Nacional do União Brasil deve decidir pelo afastamento do presidente da sigla, o deputado federal Luciano Bivar (PE), na tarde desta quarta-feira (13). A reunião ocorrerá em meio a uma crise interna da legenda, que teve um novo episódio de tensão com os incêndios que atingiram duas casas da família do presidente eleito, Antonio Rueda.

O encontro terá como principal pauta o afastamento de Bivar, fundador do PSL, que deu guarida à eleição de Jair Bolsonaro (PL) em 2018. Foi sob o comando dele que o PSL e o DEM se fundiram, dando origem ao União Brasil, terceira maior bancada da Câmara, com 59 deputados, e três ministros no governo Lula (PT).

Após uma reunião da bancada do partido na Câmara, na terça-feira (12), Elmar Nascimento (BA), líder da sigla na Casa, comunicou que políticos de extrema relevância no União Brasil serão convocados para tomar "uma decisão definitiva sobre tudo que está acontecendo". 

"Para nós juntos, em primeiro lugar, tomarmos uma decisão definitiva sobre tudo que está acontecendo e, em segundo lugar, mostrar a unidade do nosso partido. [...] A opção é afastar o presidente [Luciano Bivar] ou não", disse.

Luciano Bivar, presidente em exercício da legenda, permanece na função até junho, conforme previsto na convenção partidária. Caso seja afastado, o atual vice-presidente, Antonio Rueda, assumirá o comando do partido provisoriamente, até o início de seu mandato oficial como presidente eleito.

O afastamento pode ser determinado de forma cautelar, de acordo com o estatuto do partido. A legenda deve abrir um prazo para que Bivar apresente sua defesa frente às denúncias no Conselho de Ética do União Brasil. A votação deve ocorrer na semana que vem.

"São 17 que votam. É preciso ter 11 votos. Neste cenário, sendo ele (Bivar) afastado, suspenso, expulso, o que aconteça, nós temos os votos", disse o ex-prefeito ACM Neto.

Casa incendiada

Na noite de segunda-feira (11), incêndios atingiram casas de Antonio Rueda e de sua irmã e tesoureira da legenda, Maria Emília Rueda, em Ipojuca, no litoral sul de Pernambuco. "O incêndio é criminoso. Não sei quem fez. A casa tem indício de arrombamento e colocaram algum líquido inflamável nos móveis", afirmou Rueda. 

A família Rueda sustenta-se no entendimento do secretário de Defesa Social de Pernambuco, Alessandro Carvalho, que afirmou que as ocorrências têm indícios de crime. Ele argumenta que hipóteses de curto-circuito e aquecimento foram descartadas, pois teriam ocorrido somente em uma casa.

 "O fato de ter sido nas duas casas, dos dois irmãos, é um indício de que deve ter sido criminoso. É um indício, quem vai dizer se é criminoso ou não é a conclusão da investigação", informou.

As acusações de suspeita dos incêndios caíram sobre Bivar, que teria "motivações político-partidárias", de acordo com a família Rueda. Os dois disputavam a presidência do União Brasil, vencida por unanimidade em eleição com os integrantes do partido, em 29 de fevereiro.

"Embora não se possa assegurar a autoria do incêndio, naturalmente a suspeita inicial vai ser de quem vem ameaçando, há 10 dias, a vítima", declarou o advogado de Rueda, Paulo Catta Preta. Segundo ele, a investigação do incêndio será incluída na denúncia encaminhada ao Supremo Tribunal Federal (STF) por ameaças diretas de Bivar contra Rueda.

"Desde 26 de fevereiro, uma série de ameaças têm sido perpetradas por parte do deputado Luciano Bivar contra Antonio Rueda. Esse cenário de disputa inicial se dá em um contexto de disputa partidária", explica. 

A defesa do presidente eleito da sigla alega ter acesso a uma gravação com registros de ameaças de Bivar diretamente contra seu cliente e seus familiares. O advogado afirma que comunicou a existência da gravação à Polícia Civil do Distrito Federal no dia 28 de fevereiro, dia anterior à convenção partidária.

Negação do acusado

Bivar negou relação com os incêndios e apontou que as duas casas estavam com estruturas físicas comprometidas: "Tudo é ilação, é mais um factoide. [...] e acho que caberia investigar se tinha seguro para esses danos", disse, em evento no Palácio do Planalto, em Brasília. A suspeita de participação do deputado nos incêndios é reforçada pela casa de Bivar no mesmo condomínio.

O presidente do partido aproveitou a oportunidade para devolver acusações contra Rueda: "A mulher do presidente foi ao meu apartamento e roubou meu cofre. Eu tinha um valor significativo", apontou.

Ele ainda afirmou ter recebido três denúncias contra Rueda por supostas irregularidades no uso do fundo partidário e eleitoral, ao ter contratado um laranja para desviar verbas do partido, de acordo com Bivar. O deputado confirmou que irá apresentar as denúncias ao Conselho de Ética do União Brasil na reunião.

O governo de Goiás, de Ronaldo Caiado (União Brasil), divulgou uma nota que anuncia que o partido fará uma representação junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para que o caso seja investigado. "Também será pedida a cassação do mandato do deputado federal Luciano Bivar", conclui.

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