"DEUS, PÁTRIA, FAMÍLIA E LIBERDADE"

Quem é o assassino de Chico Mendes, que virou liderança no PL de Jair Bolsonaro

Ele matou o mais famoso ambientalista brasileiro e foi presidir diretório do partido do ex-presidente. Darci Alves foi condenado a 19 anos de prisão. Veja o perfil do “cidadão de bem”

O assassino Darcy Alves Pereira, um "patriota" do PL.Créditos: Redes sociais/Reprodução
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O diretório municipal do Partido Liberal (PL), legenda que abriga o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e as falanges mais extremistas do bolsonarismo, na cidade de Medicilândia, no Pará, foi presidido por algumas horas pelo assassino do líder ambientalista Chico Mendes. Parece inacreditável, mas a sigla que um dia já fez parte do centrão clássico, e que agora tenta se firmar na extrema direita, simplesmente permitiu a posse na chefia de uma de suas representações de Darci Alves Pereira, cruel homicida conhecido nacionalmente e que protagonizou um crime com repercussão mundial, em 1988, e pelo qual já foi condenado há décadas a 19 anos de prisão.

A desculpa oficial do presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, é de que não tinha conhecimento de que Darci Alves Pereira era a figura que assumiria o diretório de Medicilândia, versão semelhante à apresentada pelo presidente da sigla no estado do Pará, o delegado Éder Mauro, que diz ter sido informado pelo filho, Rogério Barra, sobre a identidade do correligionário. O fato é que é simplesmente impossível que duas figuras com mais de 60 anos de idade não saibam que aquele filiado era um condenado por algo que repercutiu em todo o planeta por mais de um terço de século.

Darci Alves Pereira assassinou Chico Mendes, um líder seringueiro e afamado ambientalista, com tiros de escopeta calibre 12 no peito, em 22 de dezembro de 1988, enquanto o sindicalista tomava banho nos fundos de sua casa humilde, em Xapuri, no Acre. A ordem para matá-lo foi dada pelo próprio pai, Darly Alves, um conhecido grileiro da localidade amazônica. O caso teve uma repercussão mundial parecida com a execução da vereadora carioca Marielle Franco, levando o rosto de Chico Mendes a faixas e cartazes nos mais distintos países do globo, com pedidos de justiça.

Dois anos após o crime, em 1990, Darci e Darly, filho e pai, respectivamente, receberam, cada um, condenações de 19 anos de prisão pelo homicídio. Eles cumpriram parte da pena, conseguiram um novo julgamento em 1992, que manteve a sentença, mas fugiram da cadeia logo depois, permanecendo alguns anos foragidos. Recapturados, eles cumpriram o restante da pena.

Muitos anos depois, já no estado do Pará, Darci assumiu a identidade de “pastor Daniel”. Pois é, o frio assassino que tirou a vida de um líder ambientalista agora teria se tornado um “religioso” evangélico que atende por um nome que não é o seu, filiando-se a um partido que tem “Deus, Pátria, Família e Liberdade” como lema, e que criminaliza e condena todo tipo de comportamento dos adversários. Em síntese, um clássico “cidadão de bem”, como gosta de frisar Jair Bolsonaro quando fala de seus seguidores de extrema direita.