Jair Bolsonaro tem depoimento marcado na superintendência da Polícia Federal (PF) de São Paulo, nesta terça-feira (27), apenas dois dias após liderar uma manifestação na avenida Paulista para, segundo o próprio, "se defender" das acusações de ter articulado um golpe de Estado no Brasil.
O novo depoimento de Bolsonaro, entretanto, está ligado a outra investigação: a que apura a suposta importunação intencional de uma baleia jubarte, cuja pena para o crime varia entre dois e cinco anos de prisão, além de multa. O caso ocorreu em junho de 2023, quando o ex-mandatário teria importunado o animal com um jet-ski em São Sebastião, litoral norte de São Paulo.
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Da última vez que esteve frente a frente com um investigador da PF, o ex-presidente se acovardou e manteve o silêncio por quase 2 horas, sem responder a nenhuma pergunta. O depoimento desta terça-feira (27) está marcado para 14h30.
Fala em manifestação será usada pela PF em investigação
O Jair Bolsonaro manso, que busca a "pacificação", anistia e "passar uma borracha no passado", do discurso de pouco mais de 20 minutos no ato na Avenida Paulista, em São Paulo, neste domingo (25) não convenceu a Polícia Federal (PF), que acompanhava in loco a manifestação.
Muito pelo contrário. Para os investigadores, o ex-presidente revelou um elo com o golpe ao falar sobre a minuta golpista.
"O que é golpe? É tanque na rua, é arma, conspiração. Nada disso foi feito no Brasil", disse. "Agora o golpe é porque tem uma minuta do decreto de estado de defesa. Golpe usando a Constituição? Tenha paciência", emendou.
A informação será usada pela PF como evidência de que Bolsonaro sabia da existência do documento, que segundo as investigações, teria sido levado a ele pelo ex-assessor Filipe Martins, que está preso e negou as acusações em depoimento à PF.
A minuta, que em princípio sugeria a prisão de Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, teria sido alterada a pedido de Bolsonaro, determinando o encarceramento apenas do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), inimigo declarado pelo ex-presidente.
Para os investigadores, o discurso de Bolsonaro explicando os motivos pelos quais não teria sido um golpe mostram, na realidade, o contrário.
“Deixo claro que estado de sítio começa com o presidente da República convocando os conselhos da República e da Defesa. Isso foi feito? Não. Apesar de não ser golpe o estado de sítio, não foi convocado ninguém dos conselhos da República e da Defesa para se tramar ou para se botar no papel a proposta do decreto do estado de sítio", disse o ex-presidente.
Segundo Malu Gaspar, no jornal O Globo, os agentes da PF que cuidam da investigação vão incluir o discurso de Bolsonaro na Paulista como mais uma evidência da participação de Bolsonaro na trama golpista.