O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem articulado o nome da ministra Anielle Franco, da Igualdade Racial, para a chapa do candidato à reeleição à Prefeitura do Rio, Eduardo Paes (PSD). Prestes a se filiar no PT, Anielle deve acentuar a polarização contra Alexandre Ramagem (PL).
Há duas semanas, Lula dialogou sobre a composição da chapa diretamente com Paes, em um jantar na residência oficial da prefeitura. O presidente reiterou o desejo de que o posto fosse ocupado por um petista, e desde então, tem sondado correligionários acerca de sua articulação.
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O tema, porém, não agrada o PT do Rio de Janeiro, que considera como ponto negativo a atuação da ministra em pautas ideológicas e identitárias. Além disso, avalia que a indicação da ministra poderia acentuar a polarização em um estado dominado por parlamentares do PL.
Para o vice-presidente nacional do PT e deputado federal, Washington Quaquá (PT-RJ), embora a ministra seja "um quadro político e uma figura humana excepcional", seu nome ainda não seria o ideal para as eleições municipais.
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"Para o PT do Rio, é muito bom que ela se filie. Pode concorrer a qualquer cargo, mas não para vice-prefeita neste momento, em que precisamos compor com o Eduardo Paes. Quem vai escolher o vice não é Brasília. É o PT do Rio", declarou o parlamentar.
Quaquá defende que o partido abandone a disputa pela vice-prefeitura de Paes com a projeção de facilitar uma aliança para as eleições gerais de 2026, com o foco de reeleger o presidente Lula. Ele entende como uma "imposição" a interferência dos parlamentares nacionais e cacifes da sigla no projeto estadual.
"Não podemos aceitar nenhuma imposição. Pode existir, em nível nacional, uma grande estratégia. Mas se o PT entender que quer a vice, quem tem que decidir é o PT do Rio com Paes. Brasília pode muito, muito, mas não pode tudo".
A deputada federal e presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PT-RS) sinaliza que o partido deve apoiar a candidatura de Paes à Prefeitura do Rio de Janeiro caso indique o candidato a vice na chapa e aponta dois nomes cotados para o cargo: Anielle Franco e o secretário de Assuntos Federativos do governo federal, André Ceciliano.
Em janeiro, durante entrevista à coluna de Bela Megale, do O Globo, a dirigente explicou a condição de apoio: "Na minha avaliação, para Paes ter o apoio do PT no Rio na eleição municipal, o partido precisa indicar o vice"
Paes lidera as pesquisas de intenção de voto, com 36,2%, seguido de Alexandre Ramagem, com 19,1%, e Tarcísio Motta (PSOL), com 17,8%, conforme a AtlasIntel, divulgada em 31 de dezembro do ano passado. Assim como em São Paulo, o PT não planeja lançar candidatura própria na capital fluminense.
Paes não estaria satisfeito com um vice petista. Com a pretensão de concorrer para o governo estadual, o que exigiria uma eventual renúncia do mandato caso fosse eleito, o prefeito cogita um nome de confiança para os últimos dois anos de gestão, motivo pelo qual resiste às indicações do PT.
"Paes deve deixar a prefeitura para disputar o governo, portanto vai escolher alguém da sua confiança", afirma Quaquá, que reconhece a resistência do prefeito. Segundo ele, o foco da legenda deve ser a reeleição de Lula em 2026.
Por isso, petistas fluminenses entendem que os nomes da sigla que compõem o secretariado do prefeito seriam melhor aceitos, como Adilson Pires, da Assistência Social, e Tainá de Paula, do Meio Ambiente.
Adilson Pires tem o apoio de Marcelo Freixo, presidente da Embratur, e de João Maurício, presidente estadual do PT, por ter sido o vice de Paes no mandato entre 2012 e 2016. "Qualquer pessoa que tem a possibilidade de ser vice, principalmente de um cara como Eduardo Paes, vai querer ser. Não basta eu querer, mas, se porventura, for indicado, seria uma honra", declarou Pires.
Outro lado de Paes
O deputado federal Pedro Paulo (PSD) seria o vice ideal para o prefeito, porém uma acusação de agressão à ex-mulher teria fragilizado sua possibilidade de compor a chapa. O inquérito foi arquivado pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Paulo, no entanto, tem acenado a partidos que sinalizaram possível apoio a Alexandre Ramagem, segundo candidato preferido do eleitorado. Ele se encontrou com dirigentes do PP e do União Brasil, com o objetivo de facilitar a reeleição de Paes.
O PP lançou, na quinta-feira (15), o deputado federal Marcelo Queiroz como pré-candidato à prefeitura. Paes tem tentado minar a candidatura, tendo em vista que ambos disputam o mesmo eleitorado, com pautas parecidas.
No mesmo dia do lançamento da pré-candidatura, Pedro Paulo reuniu-se com o presidente estadual do PP, Doutor Luizinho, para discutir uma possível aliança. O senador Ciro Nogueira (PI), presidente nacional do PP, informou que a legenda está mais próxima do PL, mas não descartou uma aliança com Paes.
"A candidatura não está certa. Lançamos uma semente e agora vamos esperar a receptividade da população", comentou ele, a respeito de Marcelo Queiroz como o nome para alçar o PP ao governo municipal. Para Nogueira, o alinhamento de Paes com o PT de Lula dificulta a manutenção da relação.
Naquele mesmo dia, Pedro Paulo encontrou-se com o deputado estadual e vice-presidente do União Brasil, Márcio Canella. O partido integra secretarias do Rio e da gestão do governador Cláudio Castro (PL), que já declarou apoio à Ramagem.
Indicação de Bolsonaro
O vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos) será o coordenador da campanha e do trabalho de mídias sociais de Alexandre Ramagem, candidato à prefeitura do Rio de Janeiro pelo mesmo partido de Jair Bolsonaro (PL). Em 2022, Carlos já havia colaborado para a eleição de Ramagem à Câmara dos Deputados.
Carlos Bolsonaro estaria voltado para uma campanha que explorasse a polarização dos candidatos, sob a indicação de que Ramagem, ex-chefe da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), poderia colaborar com o mandato do governador Cláudio Castro na segurança pública e disputar a prefeitura com Eduardo Paes nas urnas.
O PL tem um domínio enorme sobre o Rio de Janeiro e a prefeitura é o posto que nos falta", avaliou o presidente do PL, Valdemar Costa Neto.