ORCRIM BOLSONARISTA

Golpe: assessor de Carla Zambelli que pagou Delgatti é elo com "estrategista" de Milei

Jean Hernani Guimarães Vilela foi exonerado depois que o hacker de Araraquara provou que foi pago por ele para invadir o site do CNJ e publicar mandado de prisão fake de Moraes. Filho é assessor de Silvia Waiãpi.

Walter Delgatti com Carla Zambelli e Jean Hernani Vilela de Sousa com Eduardo Bolsonaro.Créditos: Facebook Carla Zambelli e Jean Hernani Vilela de Sousa
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Assessor de Carla Zambelli (PL-SP), demitido em agosto do ano passado, Jean Hernani Guimarães Vilela seguiu orbitando a horda extremista e teve uma participação ativa no plano golpista traçado por Jair Bolsonaro (PL) para tentar se perpetuar no poder.

Vilela tem um longo histórico em propagação de discursos de ódio nas redes e foi o responsável pelo pagamento de Walter Delgatti Neto quando hacker de Araraquara foi contratado por Carla Zambelli para atuar nos bastidores da campanha de Jair Bolsonaro (PL).

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Antes, Vilela trabalhou com Joice Hasselman e depôs contra a ex-deputada em um processo em que Carla Zambelli acusa a ex-amiga de criar perfis falsos nas redes sociais para atacar adversários. Em depoimento ao então procurador-geral da República Augusto Aras, ele confirmou a acusação.

Agora, o ex-assessor de Carla Zambelli aparece como um dos principais elos da organização criminosa golpista com Fernando Cerimedo, publicitário argentino que protagoniza um vídeo divulgado em novembro de 2022 com fake news sobre fraudes nas eleições, vencidas por Lula. Cerimedo é uma espécie de guru da ultradireita fascista latino americana e atuou como estrategista digital na campanha de Javier Milei na Argentina.

Segundo a PF, o publicitário argentino fazia parte do "núcleo de desinformação e ataques ao sistema eleitoral", composto por figuras como o ex-ministro Anderson Torres (Justiça) e o assessor Tércio Arnaud Tomaz, que estava com Bolsonaro durante a apreensão do passaporte na casa de veraneio na vila de Mambucaba.

Reportagem de Aguirre Talento, no portal Uol neste sábado (17), afirma que Vilela foi o responsável por disponibilizar o link do vídeo de Cerimedo, que foi propagado pelo grupo golpista, entre eles o general Walter Braga Netto e a própria Carla Zambelli.

Apesar de ter sido exonerado por Carla Zambelli logo após seu nome ser citado por Delgatti Neto, Vilela conseguiu emplacar o filho Gabriel Hernani de Sousa Guimarães Vilela no gabinete da deputada Silvio Waiãpi (PL-AP) como secretário parlamentar.

Vídeo golpista

Segundo a PF, o vídeo disponibilizado pelo assessor de Carla Zambelli foi produzido por Fernando Cerimedo a pedido da orcrim golpista para incitar extremistas com a fake news de fraude na vitória de Lula.

"O episódio envolvendo FERNANDO CERIMEDO, com divulgação em uma live de notícias fraudulentas sobre uma suposta investigação sobre as eleições brasileiras e constatação de disparidades entre a distribuição de votos nas urnas eletrônicas mais novas e mais antigas (que implicariam anomalia favorável ao candidato de número 13 nas urnas fabricadas antes do ano de 2020) é exemplo de tal estratégia ilícita e antidemocrática", diz o relatório, que consta na decisão de Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, que desencadeou a megaoperação Tempus Veritatis.

Próximo a Eduardo Bolsonaro (PL-RJ) - que chegou a contratar Giovani Larosa, jornalista do grupo de Ceridemo no Brasil -, o publicitário recebeu o filho de Bolsonaro na Argentina para gravar vídeos para a campanha de 2022.

Após a derrota de Bolsonaro para Lula, Cerimedo usou seu portal, La Derecha Diario, e suas redes sociais para propagar um vídeo com a chamada "O Brasil foi roubado" para acusar o TSE de fraude na eleição.

Na investigação, a PF comprova que o vídeo feito por Cerimedo foi combinado diretamente com Mauro Cid e fazia parte da estratégia de "disseminar informações falsas sobre o processo eleitoral brasileiro".

Prisão de Moraes

Antes de se envolver na trama golpista, o assessor de Carla Zambelli participou de outra estratégia de ataque às instituições.

Vilela foi um dos assessores do clã Zambelli que pagou Delgati Netto para invadir o sistema do conselho Nacional de Justiça (CNJ) para inserir um mandado de prisão falso contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.

Vilela foi nomeado secretário parlamentar de Carla Zambelli em 17 de maio de 2023, na função SP14, com salário de R$ 6.674,12.

No entanto, a Hernani Filmes, empresa que está em nome de Monica Romina Santos de Sousa, esposa de Vilela, recebeu R$ 94 mil por um serviço de "divulgação parlamentar" de Carla Zambelli.

Os pagamentos foram realizados entre outubro de 2022 e abril de 2023, a maioria em repasses de R$ 9 mil. Em dezembro, um mês antes da invasão do sistema do CNJ, o gabinete de Zambelli repassou R$ 31 mil à empresa.

Em declaração após a busca e apreensão em seus endereços, a deputada bolsonarista confirmou que fez um contrato com "empresa" que subcontratou o hacker para fazer "melhorias em seu site".

"Os pagamentos que houve (SIC) foram sempre relacionados ao site, para ele fazer melhorias no site. Não foi da minha cota. Todo dinheiro foi de empresa que eu subcontratei, e essa empresa pagou, mas do meu bolso, não da cota", disse Zambelli buscando maquiar a transação.

Em entrevista ao Jornal Nacional, Vilela confirmou que contratou Delgatti, mas "com o dinheiro meu, pessoal".

“A situação do hacker foi o seguinte: eu com, não sei se inocência... Eu quero fazer algo bonito para a deputada para ela poder ficar impressionada. Eu contratei o Walter com o dinheiro meu, pessoal. Não foi pago dinheiro da Hernani Filmes para o Walter, foi pago dinheiro do Jean, pessoa física”, afirmou, sem revelar que a empresa da esposa recebeu R$ 94 mil do gabinete de Carla Zambelli.