TEMPUS VERITATIS

Ex-comandante do Exército, investigado por golpe, rebate PF sobre troca de mensagens com Mauro Cid

Freire Gomes afirma que não se omitiu, nem prevaricou. Polícia Federal menciona cinco áudios enviados pelo tenente-coronel Mauro Cid ao então comandante do Exército após segundo turno das eleições

Mauro Cid relatou os planos golpistas da cúpula bolsonarista a Freire Gomes por um mês.Créditos: Reprodução/Commons e Agência Senado
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O ex-comandante do Exército, Marco Antônio Freire Gomes, trocou mensagens com o tenente-coronel Mauro Cid ao longo de 31 dias, segundo apurações da Polícia Federal (PF). Em depoimento, ele deverá argumentar que não foi omisso quando soube das intenções de golpe de Estado, e que articulou contra a sua execução.

Ao seus interlocutores, o general afirma que acionou os demais colegas do generalato do Exército para barrar uma possibilidade de golpe. Em tese, ele teria usado seu cargo para atuar contra a tentativa de reverter o resultado da eleição presidencial de 2022, e não foi omisso, nem prevaricou.

O atual comandante do Exército, o general Tomás Paiva, pode ser apresentado como uma testemunha a favor do depoimento de Freire Gomes. Em entrevista ao Globo, ele já declarou que, quando "comandante do Exército, [Freire Gomes] não tinha opção", referindo-se ao posicionamento contrário ao golpe orquestrado pelo alto escalão do governo à época. 

Para Freire Gomes, uma atuação junto ao Alto Comando seria mais efetivo que denunciar as intenções golpistas de Jair Bolsonaro (PL) ao Supremo Tribunal Federal (STF). Uma denúncia à Corte resultaria em uma crise institucional no país, justamente o objetivo da organização criminosa, dizem os aliados próximos do general.

"A quem o comandante poderia fazer uma denúncia contra o então presidente? Somente ao STF. Isso seria solução ou criaria mais problema?", indagou um amigo de Freire Gomes à coluna de Tales Faria, do Uol.

Freire Gomes e Mauro Cid

Na representação que embasou a operação Tempus Veritatis, deflagrada no dia 8 de fevereiro, a Polícia Federal menciona cinco áudios enviados pelo tenente-coronel Mauro Cid para o que indica ser o então comandante do Exército Freire Gomes, por meio de um aplicativo institucional da Força militar.

Ao longo de 31 dias, entre 8 de novembro e 9 de dezembro de 2022, Cid enviou relatos sobre as reuniões com a cúpula de confiança de Jair Bolsonaro, nas quais se discutiu a edição da minuta do golpe e manter a determinação de prisão do presidente do Tribunal Superior Eleitoral e ministro do STF, Alexandre de Moraes.

"Hoje o que ele [Bolsonaro] fez de manhã? Ele enxugou o decreto, né? Aqueles considerandos [sic] que o senhor viu e enxugou o decreto, fez um decreto muito mais, é… Resumido, não é?", comunicou o ex-ajudante de ordens em áudio enviado ao celular que seria de Freire Gomes, em 9 de dezembro. Ou seja, Bolsonaro teria alterado a minuta do golpe.

Dois minutos depois, ele enviou outra mensagem de voz, que pode ter confirmado "[a relação das] pessoas que participaram da reunião no dia 07/12/2022 e a existência do decreto que foi alterado e limitado".

O tenente-coronel refere-se às reuniões organizadas com o general Augusto Heleno, o ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional; Anderson Torres, ex-ministro da Justiça; o general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, ex-ministro da Defesa; o general Walter Braga Netto, ex-ministro Chefe da Casa Civil; e Mário Fernandes, ex-secretário-geral substituto da Presidência da República.

"Ele mexeu naquele decreto, né. Ele reduziu bastante [a minuta] e fez algo muito mais direto, objetivo, curto e limitado."

Na delação premiada, Cid argumenta que o ex-presidente pediu para tirar a ordem de prisão do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG),e do ministro do Supremo, Gilmar Mendes, mantendo somente o nome de Moraes.

"Cagão"

Na falta de um posicionamento favorável às intenções de golpe de Estado, Freire Gomes foi criticado pelo general Braga Netto em conversa com o militar Aílton Barros, pelo aplicativo de mensagens WhatsApp. O ex-ministro chama o então comandante do Exército de "cagão".

Confira a informação obtida na investigação da operação Tempus Veritatis:

"Meu amigo, infelizmente tenho que dizer que a culpa pelo que está acontecendo e acontecerá e do Gen FREIRE GOMES. Omissão e indecisão não cabem a um combatente'. Em resposta, AILTON BARROS sugere continuar a pressionar o General FREIRE GOMES e caso insistisse em não aderir ao golpe de Estado afirmou 'vamos oferecer a cabeça dele aos leões'. O investigado BRAGA NETTO concorda e dá a ordem: 'Oferece a cabeça dele. Cagão'"

Braga Netto pede para "oferecer a cabeça" de Freire Gomes

Com informações do Uol e O Globo.