Os deputado federal Eduardo Pazuello (PL-RJ), o senador Luiz Carlos Heinze (PP-RS) e os empresários Meyer Nigri (Tecnisa) e Luciano Hang (Lojas Havan) são apontados pela Polícia Federal como membros do grupo que planejava um golpe de estado para manter o então presidente Jair Bolsonaro (PL), hoje inelegível, no poder. As revelações estão sendo publicadas nesta quarta-feira (14) nos meios de comunicação.
Os federais chegaram aos nomes por meio da delação do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. Segundo Cid, todos os citados se posicionaram favoravelmente a um golpe de estado diante do então presidente. Uns pediam um golpe violento e direto, outros preferiam desacreditar as urnas e melar as eleições.
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De acordo com apuração da Revista Veja, um áudio enviado por Mauro Cid ao general Freire Gomes, então comandante do Exército, o ex-ajudante de ordens dizia que Bolsonaro já estava desiludido de um possível golpe a seu favor.
No entanto, segundo os investigadores, o mandatário de então teria sido convencido do contrário pelos correligionários logo a seguir.
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Eduardo Pazuello
Eduardo Pazuello (PL-RJ), atualmente general da reserva e deputado federal era à época general da ativa e ministro da Saúde. Ele está envolvido no maior de todos os crimes cometidos por Bolsonaro: o descaso diante da pandemia de Covid-19 que deixou pelo menos 700 mil brasileiros mortos.
Na trama golpista, Cid mencionou uma conversa entre Bolsonaro e Pazuello em que o general indica uma interpretação do artigo 142 da Constituição Federal, a mesma proposta pelo suposto filósofo Olavo de Carvalho, para justificar o golpe a partir de uma "intervenção militar". Pazuello teria defendido, sem cerimônia, a ruptura institucional.
“O diálogo já demonstra uma atuação do deputado federal Eduardo Pazuello no sentido de propor uma ruptura constitucional, com fundamento em uma interpretação anômala do artigo 142 da Constituição. Nesse sentido, o colaborador Mauro Cid afirmou, em acordo de colaboração, que o general Pazuello integraria o grupo de radicais que queriam reverter o resultado das eleições”, diz o relatório da PF.
Meses depois, em agosto de 2023, Pazuello faria um discurso na Câmara dos Deputados elogiando a ministra Nísia Trindade, da Saúde, e o próprio SUS (Sistema Único de Saúde).
“A fala é curiosa, uma vez que o próprio Pazuello afirmou que ’não conhecia o SUS’ quando tornou-se o primeiro ministro da Saúde de Bolsonaro a não peitá-lo no que tangia ao combate à pandemia e o negacionismo científico que marcou o último governo. Anteriores ao então general da ativa, os médicos Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich estiveram no comando da pasta e protagonizaram brigas públicas com o ex-presidente que insistia em teses como a da imunidade de rebanho e do tratamento precoce com a famosa cloroquina”, diz trecho de matéria da Fórum sobre o discurso de Pazuello.
A pandemia começou em março de 2020. Os ministros anterior, Mandetta e Teich, já haviam caído em 15 de maio quando o general assumia o ministério de forma interina. Durante seu mandato, Pazuello ordenou secretários a assinarem o protocolo da cloroquina; errou o envio de oxigênio para Manaus, enviando o insumo para Macapá; e calou-se diante dos hospitais militares que, mesmo com leitos sobrando, não os disponibilizaram para civis.
A gestão foi tão desastrosa que chegou a ser taxada como criminosa por um estudo da professora Deisy Ventura, da USP, que comparou as políticas de saúde daquele momento a um verdadeiro massacre silencioso, praticamente uma política de extermínio deliberada. Não falta material online com a pesquisadora.
Luciano Hang e Meyer Nigri
Segundo Cid, quando indagado por Pazuello, Bolsonaro não demonstrou muito interesse nos planos golpistas. No entanto, dias mais tarde, ao ser pressionado pelos empresários Luciano Hang, das Lojas Havan, e Meyer Nigri, da Tecnisa, o mandatário teria avaliado pedir ao Ministério da Defesa um “documento mais duro” para “virar o jogo”, ou melhor, reverter os resultados eleitorais.
Meyer Nigri foi indiciado pela CPMI dos Atos Golpistas como difusor de conteúdos mentirosos nos aplicativos de mensagens. Fake news sobre vacinas e sobre o sistema eleitoral brasileiro seriam suas especialidades. Ele está no grupo de 8 empresários investigados por financiarem um esquema de disparos de mensagens e informações falsas em favor do ex-presidente. Em agosto, Bolsonaro chegou a repassar uma mensagem golpista a Nigri em que dizia que que “teremos sangue” e “haverá uma guerra civil” ao lado de um vídeo em que atacava Alexandre de Moraes.
Luciano Hang, das Lojas Havan, é outro empresário investigado ao lado de Nigri. Em janeiro passado ele foi condenado a pagar quase R$ 90 milhões em danos morais coletivos por coagir funcionários das suas empresas a votarem para Bolsonaro em 2018. Um ano atrás, em 11 de janeiro de 2023 – 11 dias após a posse de Lula e 3 depois dos ataques de 8 de janeiro – ele fez uma postagem nas redes sociais desejando boa sorte ao novo presidente e condenando os ataques a Brasília.
Luís Carlos Heinze
Luis Carlos Heinze (PP-RS), senador pelo Rio Grande do Sul, é outra figura do bolsonarismo oriunda da pandemia. Ele ganhou notoriedade nacional durante a CPI da Covid, quando foi um dos ferrenhos defensores de Jair Bolsonaro durante as apurações presididas por Omar Azis (PSD-AM) e relatadas por Renan Calheiros (MDB-AL).
Notório defensor do “tratamento precoce”, o senador e engenheiro agrônomo quase foi indiciado pela CPI ao ser acusado por colegas de difundir informações mentirosas sobre remédios e tratamentos não verificados cientificamente. Ele é citado num dos trechos da delação de Mauro Cid.
De acordo com o ex-ajudante de ordens, um grupo de radicais “era a favor de um braço armado” e pedia uma ruptura institucional mais direta e violenta, enquanto outro preferiria seguir batendo nas urnas e melar as eleições. O senador estaria no segundo grupo.
Nesse sentido, Cid delatou que Heinze teria sugerido que Bolsonaro usasse as Forças Armadas para confiscar uma urna eletrônica, sem o consentimento do TSE, a fim de realizar testes que comprovariam as teorias conspiratórias bolsonaristas sobre o equipamento e o próprio sistema eleitoral brasileiro.
“O senador Heinz (sic), que também integrava esse grupo, usava um documento do Ministério Público Militar que dizia que como o país estava em GLO, para garantia das eleições, o senador entendia que as Forças Armadas poderiam pegar uma urna, sem autorização do TSE ou de qualquer instância judicial, para realização de testes de integridade. O senador encaminhava esse entendimento tanto ao colaborador, quanto ao ex-presidente Jair Bolsonaro para que repassassem esse entendimento ao ministro da Defesa”, diz trecho da delação de Cid revelado pela Veja.