Ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), pasta a qual a Agência Brasileira de Informação (Abin) era subordinada, o general da reserva Augusto Heleno enfrentará uma saia justa diante de dados coletados pelos investigadores no depoimento à Polícia Federal (PF), marcado para a próxima terça-feira (6), sobre o sistema de arapongagem ilegal montado no coração do ex-governo de Jair Bolsonaro (PL).
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Após as operações contra Carlos Bolsonaro (Republicanos) e Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor da agência, a PF já tem dados que revelam que Heleno tinha conhecimento dos monitoramentos ilegais feito pelos subordinados na Abin.
Além disso, há um histórico de ações que ligam diretamente Heleno à estrutura montada por Carlos Bolsonaro na Abin após a exoneração do general Carlos Alberto dos Santos Cruz e de Gustavo Bebbiano do núcleo duro do governo logo no início do mandato do ex-presidente, em 2019.
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Em sua defesa, Heleno deve contar o histórico de aproximação de Ramagem do clã Bolsonaro e afirmar que as tratativas do ex-diretor-geral da Abin se davam diretamente com o ex-presidente.
Caso o general confirme realmente o que tem dito a interlocutores, Jair Bolsonaro (PL) deve virar alvo da investigação e ser convocado a prestar depoimentos sobre o caso.
De acordo com os investigadores, os arapongas lotados na Abin obedeciam ordens direta de Ramagem que, por sua vez, era subordinado a Heleno e a Bolsonaro.
Heleno sabia
Em entrevista ao Roda Viva em 3 de março de 2020, o ex-secretário geral da Presidência Gustavo Bebianno afirmou que Heleno tinha conhecimento de que Carlos Bolsonaro queria montar uma Abin paralela dentro do governo. Bebianno morreu 11 dias depois da entrevista.
Na ocasião, o ex-secretário geral da Presidência revelou que o filho de Bolsonaro articulava com "um delegado da PF" a montagem da Abin paralela logo nos primeiros meses de governo.
"Um belo dia o Carlos Bolsonaro aparece com um nome de um delegado federal e três agentes que seriam uma Abin paralela. Isso porque ele não confiava na Abin".
Ainda segundo o ex-secretário, ele e o general Santos Cruz afirmaram a Bolsonaro que eram contra a ideia.
"O general Heleno (chefe do gabinete Institucional da presidência) foi chamado. Ficou preocupado. Mas ele não é de confronto e o assunto acabou comigo e o general Santos Cruz. Nós aconselhamos o presidente a não fazer aquilo porque também seria motivo de impeachment. Eu não sei se isso foi instalado porque depois eu acabei saindo do governo".
Questionado se o delegado seria o atual diretor da Abin, Alexandre Ramagem, Bebianno preferiu não responder. “Eu lembro o nome do delegado. Mas não vou revelar por uma questão institucional e pessoal”, afirmou.
Na mesma entrevista, Bebianno revelou que Carlos Bolsonaro comandava o Gabinete do Ódio.
“Eu disse ao presidente que as notícias falsas não podiam estar dentro do Planalto porque poderiam dar em impeachment. Mas a pressão que o Carlos faz é tão grande que o pai não consegue se contrapor ao filho. É como aquela criança que quer um presente no shopping, esperneia e o pai não tem pulso para dizer não”, contou.
Gabinete do ódio e "Abin paralela"
Após se aproximar de Ramagem e em meio à tentativa de criar a "Abin paralela" para atuar junto ao Gabinete do Ódio, Carlos Bolsonaro instalou a primeira grande crise no Planalto.
O alvo era justamente o general Carlos Alberto dos Santos Cruz, que se opôs aos planos do filho de Bolsonaro e foi demitido em 13 de junho de 2019.
Menos de um mês depois, Ramagem foi nomeado por Bolsonaro como diretor-geral da Abin e, sob o aval de Augusto Heleno, iniciou a instalação da Organização Criminosa que virou alvo da PF - e resultou na ação contra o agora deputado federal nesta quinta-feira (25).
A investigação da PF segue a mesma linha de raciocínio exposta por Bebbiano e escancara a relação espúria com o clã Bolsonaro que fez Ramagem alavancar sua carreira política e se lançar pré-candidato à prefeitura do Rio - tendo como coordenador de redes sociais, Carlos Bolsonaro.