Ex-ministro da Casa Civil do primeiro governo Lula, José Dirceu saiu em defesa do pacote de ajuste fiscal do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, dizendo que é a proposta possível diante da "correlação de forças atual", mas ressaltou que o mercado quer "sangue", busca antecipar as eleições de 2026 e que a burguesia brasileira não vê a "hecatombe" que será provocada no mundo com a volta de Donald Trump à Presidência dos EUA em 2025.
Dirceu afirmou, na longa entrevista ao jornal O Globo nesta quarta-feira (4), que a proposta apresentada por Haddad não precisa de correções e que o mercado quer "sangue" ao querer diminuir o crescimento do salário mínimo, Bolsa Família, Previdência e Benefício de Prestação Continuada.
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"A proposta está certa nas circunstâncias atuais, na correlação de forças atual. Mas eles querem mais, querem sangue. O governo já fez a parte dele, agora a palavra está com o Congresso", afirmou, ressaltando que "se tivéssemos maioria, faríamos Reforma Tributária na renda, riqueza e propriedade", sobre a bancada progressista no Congresso, que é minoria.
O ex-ministro ainda rebateu uma pergunta capciosa do jornal da família Marinho, de que a "decisão de anunciar o pacote junto com a reforma do IR não minou o objetivo do governo" e escancarou o conluio entre mercado e mídia, que buscam atrair o governador de São Paulo, Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos), como candidato da terceira via anti-Lula em 2026.
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"Por que pode diminuir salário mínimo, Previdência e Bolsa Família, que envolvem quase metade da população, e não pode aumentar o imposto para 100 mil brasileiros? É evidente que isso é inaceitável. Se querem fazer isso, eles têm que eleger um presidente que o faça ou convencer o Congresso de fazê-lo. Até as Forças Armadas aceitaram. A contragosto, mas aceitaram. A não ser que você queira desmontar o estado de bem-estar social previsto na Constituição. Então você disputa eleição e diga que quer desmontar", disparou.
Para Dirceu, o movimento especulativo mostra que "o mercado está querendo antecipar 2026" e, rebateu outra pergunta capciosa, sobre "o governo duelar com o mercado", em relação às críticas de Lula ao sistema financeiro.
"Quem duelou com o governo foi o mercado. Foi apresentada uma proposta dentro das possibilidades que o Executivo tem. Se faz a proposta do mercado, ele deixa de ser governo que foi eleito, ele praticamente trai seu programa. Estão pedindo que nós façamos haraquiri. É isso que eles estão pedindo".
Dirceu ainda alertou para a crise que será provocada com o retorno de Trump, que já prometeu aumentar a taxação de produtos estrangeiros, em especial da China, nos EUA.
"Tem que fazer aquilo que garanta o crescimento do país. Imagina se vem uma crise por causa do trumpismo, o país está em recessão", afirmou o ex-ministro, ressaltando que burguesia brasileira estaria cega diante da "hecatombe" mundial com a volta do trumpismo, que impactará a disputa presidencial no Brasil.
"Vejo o jogo aberto para 2026. Ainda é cedo para dizer o que acontecerá porque existe um fator: as medidas que Donald Trump tomará quando assumir os Estados Unidos. Dependendo da intensidade, toda a conjuntura política mundial e brasileira mudará. É quase jardim de infância o que estamos assistindo agora pelo ajuste fiscal. Fico estarrecido que a elite brasileira não se dê conta da gravidade do que acontecerá no mundo. Outros países já estão tomando medidas. O Brasil devia estar se preparando. É evidente que a crise na bolsa é um chuvisco perto da tempestade que vai ter no mundo. Se ele fizer o que ele está declarando, vai ser uma hecatombe mundial".