JAIR BOLSONARO

Militares golpistas faziam piadas com punição: "apagar fogo com gasolina"

Mensagens no grupo "Dossss!!!", criado por Mauro Cid, faziam pouco caso de Moraes: não vai querer "mexer nesse vespeiro"

O tenente coronel Mauro Cid.Créditos: Pedro Ladeira/Folhapress
Escrito en POLÍTICA el

Militares golpistas que integravam o grupo "Dossss!!!", criado pelo tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), faziam piadas com a possibilidade de serem punidos por conta da tentativa de golpe de Estado.

Segundo conversa do dia 4 de janeiro de 2023, que integra o relatório da Polícia Federal (PF), ele diziam que o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, não iria querer "mexer nesse vespeiro" e que, se houvesse "caça às bruxas" dentro do Exército, seria como "apagar fogo com gasolina".

"Se alguém tiver lido nossas mensagens, vai preferir fingir que não leu. Primeiro que além desse grupo existem milhares outros. Vão mandar prender ou punir todo mundo? Na bucha eles preferem fingir que está tudo bem, que as FA não são golpistas. (...) Mas na prática ninguém quer mais instabilidade ainda. Imagina o AM (Alexandre de Moraes) mexendo nesse vespeiro! Imagina dentro da própria Força essa eventual caça às bruxas!!! = apagar fogo com gasolina", afirma a mensagem.

Carta pressionando Freire Gomes

O grupo passou a ser investigado após um integrante postar uma carta para pressionar o então comandante do Exército, general Freire Gomes, a aderir à tentativa de golpe, no final de 2022. "E aí, agora todos colocaremos o nome nessa rela aí. Ou seremos leões de Zap", escreveu um militar que pedia adesões ao documento.

Segundo as investigações da PF, Freire Gomes se recusou a participar da trama, assim como o comandante da Aeronáutica, Baptista Junior.

Um dos integrantes afirmou em depoimento à PF que o nome do grupo se referia à última sílaba do termo "Comandos". O militar afirmou ainda que o grupo era formado por cerca de 90 militares que passaram pelos batalhões das Forças Especiais, conhecidos como "kids pretos".

De acordo com as investigações da PF, pelo menos seis integrantes dos “Kids Pretos” participaram do plano de captura e "neutralização" do ministro do STF Alexandre de Moraes, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do vice Geraldo Alckmin.

Um deles ainda perguntou:

"Vai ter careca sendo arrastado por blindado em Brasília?", numa clara referência a Moraes.

O indiciamento

A Polícia Federal indiciou na quinta-feira da semana passada o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outros 36 homens, a maioria militares por tentativas de golpe de Estado e de abolição do Estado democrático de direito, além de organização criminosa. O inquérito foi tornado público pelo relator do caso, o ministro Alexandre de Moraes, na última terça-feira.