CONFIRMADO

O dia em que Braga Netto aprovou plano para assassinar Lula, Alckmin e Moraes

Relatório da PF coloca o candidato a vice de Bolsonaro em 2022 no centro da "operação" com kids pretos para matar autoridades

General Walter Braga Netto em coletiva de imprensa vestindo um uniforme camuflado do Exército Brasileiro
Braga Netto, que segundo a PF aprovou plano para matar Lula, Alckmin e Moraes.General Walter Braga Netto em coletiva de imprensa vestindo um uniforme camuflado do Exército BrasileiroCréditos: Marcelo Camargo/Agência Brasil
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O general Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e da Casa Civil no governo Bolsonaro e candidato a vice do ex-presidente na eleição de 2022, foi o responsável por aprovar o plano elaborado por militares golpistas para assassinar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). 

Quem diz é a Polícia Federal (PF) no relatório final do inquérito sobre a tentativa de golpe de Estado no Brasil, cujo sigilo foi derrubado por Moraes nesta terça-feira (26), mesma data em que o documento com mais de 800 páginas foi encaminhado à Procuradoria-Geral da República (PGR), que deve apresentar um parecer denunciando ou não os investigados para que, então, o STF possa julgá-los. 

Segundo os investigadores, Jair Bolsonaro e as outras 37 pessoas indiciadas pela PF planejaram um golpe de Estado no país após a vitória de Lula na eleição de 2022 que incluiria várias frentes, entre elas a incitação de manifestações golpistas, a decretação de um estado de sítio ou de defesa e até mesmo uma "operação" para assassinar autoridades. Essa operação, batizada de "Punhal Verde e Amarelo", seria executada por oficiais das Forças Especiais do Exército, os chamados "kids pretos". 

O general Mario Fernandes, secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência no governo Bolsonaro e ex-comandante do Comando de Operações Especiais do Exército, teria sido o responsável por elaborar, em novembro de 2022, o plano para assassinar Lula, Alckmin e Moraes. Ele foi preso na recente operação "Contragolpe" da PF junto a outras 4 pessoas – três militares kids pretos e um agente da Polícia Federal. 

No relatório final do inquérito, a PF traz detalhes sobre a operação criminosa: em 8 de novembro de 2022, militares investigados teriam começado a discutir o plano. No dia seguinte, Mario Fernandes teria impresso um documento sobre o "Punhal Verde e Amarelo" em uma impressora do Palácio do Planalto e, depois, o levado até Jair Bolsonaro no Palácio da Alvorada. O documento em questão continha explicações sobre como os assassinatos seriam realizados e a estrutura e logística que seriam necessárias para o cometimento do crime. Tudo isso, depois, viria a ser apresentado e aprovado por Braga Netto. 

"No dia 08/11/2022, os investigados ajustaram a elaboração de um planejamento operacional para ações de Forças Especiais a ser apresentado para o general BRAGA NETTO. O documento denominado 'punhal verde amarelo' foi elaborado e impresso no dia 09/11/2022, no palácio do Planalto, pelo Secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência, general MARIO FERNANDES", diz trecho do relatório da PF.

"O documento descreve o levantamento da estrutura de segurança do ministro ALXANDRE DE MORAES, os meios que deveriam ser empregados e a ação final de prisão/execução do ministro. O planejamento também estabelece a possibilidade, dentre as ações dos 'Kids Pretos', de assassinarem o então presidente eleito LUIZ INÁCIO LULA DA SIVLA, por envenenamento ou uso de químicos, e o então vice-presidente eleito GERALDO ALCKMIN, com a finalidade de extinguir a chapa presidencial vencedora. Após a elaboração do documento, MARIO FERNANDES se deslocou até o palácio do Alvorada, local em que estavam o então presidente JAIR BOLSONARO e seu ajudante de Ordens MAURO CESAR CID", prosseguem os investigadores. 

Na sequência, a PF relata que, em reunião com militares golpistas em sua casa em Brasília, Braga Netto aprovou o plano para assassinar Lula, Alckmin e Moraes. 

"No dia 12 de novembro de 2022, MAURO CESAR CID, o Major do exército RAFAEL MARTINS DE OLIVEIRA, o Tenente-Coronel FERREIRA LIMA e o General BRAGA NETTO reuniram-se na residência funcional do General para apresentarem o planejamento das ações clandestinas com o objetivo de dar suporte às medidas necessárias para tentar impedir a posse do governo eleito e restringir o exercício do Poder judiciário. Após a aprovação do documento, iniciaram-se as ações clandestinas para implementação do planejamento operacional, além de condutas voltadas a orientar e financiar as manifestações que pregavam um Golpe Militar para manter o então Presidente da República JAIR BOLSONARO no poder", detalha a PF. 

"No dia 12/11/2022 ocorre a reunião na residência de BRAGA NETTO, contando com a presença de MAURO CID, RAFAEL DE OLIVEIRA e HÉLIO FERREIRA LIMA, onde o planejamento é apresentado e aprovado conforme o transcorrer dos fatos a seguir descritos", emendam os investigadores no relatório. 

Segundo a PF, o plano de assassinato de Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes foi abortado em 15 de dezembro de 2022 devido a circunstâncias externas, como a resistência de comandantes militares em apoiar o golpe, a conclusão antecipada de uma sessão do STF e a falta de coesão entre os envolvidos. Apesar de ações clandestinas, como o monitoramento dos alvos, o plano foi inviabilizado. 

Linha do tempo

Veja abaixo um resumo com datas e detalhes sobre o plano para matar Lula, Alckmin e Moraes aprovado pro Braga Netto, segundo a PF: 

  • 08/11/2022: Planejamento inicial

Os investigados discutem um planejamento operacional para ações de Forças Especiais.

Objetivo: Apresentar o plano ao general Braga Netto, que já havia desempenhado papel próximo a Bolsonaro durante o governo.

  • 09/11/2022: Elaboração do documento “Punhal Verde e Amarelo”

Documento é elaborado no Palácio do Planalto pelo general Mario Fernandes, secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência e ex-comandante do Comando de Operações Especiais do Exército.

Conteúdo: descrição da estrutura de segurança do ministro Alexandre de Moraes; propostas de prisão ou execução de Moraes; planejamento para assassinar Lula e Alckmin, com métodos como envenenamento ou uso de químicos. 

Após concluído, Mario Fernandes leva o documento ao Palácio da Alvorada e o apresenta ao presidente Jair Bolsonaro e ao ajudante de ordens Mauro Cesar Cid.

  • 11/11/2022: Mobilização de grupos

Os "Kids Pretos" (termo usado para designar militares de Forças Especiais) começam a atuar direcionando manifestantes em Brasília para alvos estratégicos, como o Congresso Nacional e o STF.

Objetivo: Organizar o cenário para manifestações pró-golpe.

  • 12/11/2022: Reunião na casa de Braga Netto

Participantes: Mauro Cesar Cid (ajudante de ordens de Bolsonaro); Major Rafael Martins de Oliveira (militar com formação em Forças Especiais); Tenente-Coronel Hélio Ferreira Lima; General Braga Netto.

Discussão: apresentação do plano operacional descrito no “Punhal Verde e Amarelo”; planejamento de ações clandestinas para impedir a posse do governo eleito e restringir o Judiciário; aprovação do plano por Braga Netto, que teria dado aval às ações.

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