INVESTIGAÇÃO DA PF

"Lula não sobe a rampa": o documento do assessor de Braga Netto achado na sede do PL

Relatório da Polícia Federal traz detalhes da "Minuta 142", descrita em material apreendido na mesa do Coronel Pelegrino, que trabalhava como assessor do candidato a vice de Bolsonaro

Ideia era evitar a posse de Lula como presidenteCréditos: Limongi/Creative Commons Attribution 2.0
Escrito en POLÍTICA el

A Polícia Federal (PF) apreendeu material na sede do PL em Brasília que ajudou a compreender melhor como se desenrolou a trama golpista em operação por parte do entorno do então presidente Jair Bolsonaro.

Na mesa ocupada pelo Coronel Peregrino, assessor de Walter Braga Netto, que foi candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro, foi encontrado um documento que descreve perguntas e respostas relacionadas ao acordo de colaboração premiada firmado por Mauro Cid com a PF. 

Segundo os investigadores, o conteúdo indica se tratar de respostas dadas pelo delator a questionamentos feitos por alguém, possivelmente do grupo investigado, que aparenta preocupação sobre aqueles temas descritos, relacionados à tentativa de golpe. Entre os questionamentos está a “Minuta do 142”, que se refere ao documento que esboçava o decreto de instauração de estado de exceção no Brasil.

O nome dado ao documento faz alusão ao artigo 142 da Constituição Federal (CF), que trata das Forças Armadas e era frequentemente invocado pelos bolsonaristas, de forma equivocada, como se tratasse de um "carta branca" para intervenção militar em caso de conflito entre Poderes. A interpretação, rejeitada pela ampla maioria dos juristas, também foi rejeitada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em julgamento realizado em abril deste ano.

"Lula não sobe a rampa"

Conforme o relatório da PF, o documento, dentro do tópico “Linhas de esforço”, propõe ações que incluíam “interrupção do processo de transição”, “mobilização de juristas e formadores de opinião” e “enquadramento jurídico do decreto 142 (AGU e MJ)”.

Havia ainda a descrição de termos alusivos a medidas autoritárias, demonstrando a intenção dos investigados em executar um golpe de Estado para manter Bolsonaro no poder: “Anulação das eleições”, “Prorrogação dos mandatos”, “Substituição de todo TSE" e “Preparação de novas eleições”.

No tópico EFD Pol (Estado Final Desejado Político) do documento, a investigação destaca a frase “Lula não sobe a rampa”. O texto aponta que Braga Netto, segundo os investigadores, "tinha clara intenção golpista, com o objetivo de subverter o Estado Democrático de Direito, utilizando uma intepretação anômala do art. 142 da CF, de forma a tentar legitimar o golpe de Estado".