Em 14 de fevereiro de 2021, em pleno governo Bolsonaro, o hoje ministro da Fazenda de Lula Fernando Haddad deu uma entrevista ao programa Conexão Xangai em que fez uma crítica indignada aos empresários chupins que sugam o estado brasileiro e impedem o desenvolvimento com justiça social de que o Brasil necessita:
"O nosso problema é que o nosso estado, ele tem muito chupim, ele tem muito chupim, sabe? E você não consegue planejar o estado."
Entre os entrevistadores estavam os economistas André Roncaglia, Uallace Moreira e Paulo Gala e o escritor e geógrafo Elias Jabbour.
A seguir a transcrição de trecho da entrevista e sua publicação na rede X:
Haddad: Segundo ponto, é de natureza política. Eu acho que... E aí é uma leitura que eu faço do Estado brasileiro, mais como cientista político do que outra coisa. Eu acho que o Estado brasileiro é um Estado que não completou a sua maturação. Ele não se dissociou dos interesses particularistas durante esse período. Então se você for estudar, mesmo o período do Estado Novo ou da ditadura militar, você vai ver que aquela esfera pública que se distancia dos particularismos, e que faz uma política, o que chamava, o que o Weber chama de mercantilismo nacional. O nosso problema é que o nosso estado, ele tem muito chupim, ele tem muito chupim, sabe? E você não consegue planejar o estado. O primeiro orçamento federal que eu vi, foi em 2003, o Guido [Mantega, ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão do primeiro governo Lula] me convidou para ser assessor especial do Ministério do Planejamento, foi a primeira vez que eu vi na Minúcia um orçamento federal. Quando eu abri a peça orçamentária, eu falei, isso aqui não tem como dar certo.
Entrevistador: As pessoas reclamam da complicação tributária porque não olham direito a complicação orçamentária.
Haddad: Não de subsídio, os estímulos, os incentivos. Você tem muita gente chupinhando o orçamento público e não sobra espaço orçamentário para fazer a grande política que os países asiáticos fizeram. Então eu acho que nós fomos carcomidos, por assim dizer. Então o nacional desenvolvimentismo brasileiro não completou o seu ciclo virtuoso porque ele foi sendo carcomido não pela... Não é salário de professor que quebrou esse estado. Posso te assegurar que não foi isso. O que quebrou o estado brasileiro foi, primeiro, a gente ter, sobretudo no período militar, promovido o desenvolvimento com poupança externa sem perceber que a gente podia estar caindo numa armadilha que acabou na crise dos anos 80, que despesa aquele... E segundo lugar, porque a gente não se livrou dos empresários que chupinham o governo. E até hoje é assim. Você veja que o Congresso é a expressão dos interesses particularistas de cada setor econômico que quer um NACO do orçamento público. Então você não consegue planejar. Você que é um especialista em... projetamento, que é discípulo do Inácio Rangel, que pensou para além do óbvio, além de um palmo do nariz, conseguia enxergar a missão do Estado, como é que o Estado vai performar se não tiver alguma independência dos grupos particulares? Então a minha crítica ao período {ininteligível] é essa, a gente tem que ter um Estado mais distanciado do particular, porque a gente precisa blindar o Estado.
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