O CORINGA E O CAPITÃO

ATENTADO. Que outro terrorista planejou explodir bombas, mas foi preso antes?

Quase 40 anos de distância separam dois homens que preferiram as bombas ao debate democrático

Palácio do STF.Palácio do Supremo na noite, logo após o atentado de 13/11/2024Créditos: Agência Senado from Brasilia, Brazil, CC BY 2.0 , via Wikimedia Commons
Escrito en POLÍTICA el

Na noite desta quarta-feira, 13, o terrorista Francisco Wanderley Luiz, de 59 anos, lançou bombas contra a estátua da Justiça em frente ao Supremo Tribunal federal e depois se matou. Ele estava vestindo roupa semelhante ao personagem Coringa.

Segundo um segurança do STF que presenciou o atentado, Tiü França se dirigia ao STF com uma mochila, quando foi abordado pelo segurança à distância. Ele então voltou, "pegou um extintor, desistiu e o colocou no chão. Saiu com os artefatos para a lateral e lançou dois ou três artefatos, que estouraram".

 

Segundo o relato do segurança, depois de tentar explodir dois artefatos, Francisco Luiz se deitou no chão. “(Ele) acendeu o último artefato, colocou na cabeça com um travesseiro e aguardou a explosão”. Natanael disse saber que, após a morte de Francisco Luiz, ainda pode ver que havia “algo” atado a seu corpo, mas não soube precisar o que era. Também não soube informar se outras pessoas participaram da tentativa de explodir bombas no local.

 

Foi um atentado planejado há tempos e a Polícia Federal está investigando para descobrir os motivos que levaram o autor a cometer o atentado exatamente no dia de ontem.

No apartamento que alugou em Brasília onde ficou uns dias até o atentado, Tiü França escreveu uma mensagem no espelho:

 

“Débora Rodrigues, por favor não desperdice batom!!! Isso é para deixar as mulheres bonitas!!! Estátua de merda se usa TNT”. A referência à mulher citada se deve ao fato de ela ter escrito “perdeu mané” na estátua da Justiça em frente ao STF durante os atos antidemocráticos de 8 de janeiro do ano passado. [Correio Braziliense]

 

O "Coringa" e o Capitão

 

Em 2020, Tiü França concorreu a vereador pelo Partido Liberal (PL) em sua cidade, Rio do Sul (SC), mas não se elegeu.

Dois anos depois, em 2022, um outro candidato do PL concorreu nas eleições, mas as presidenciais, e também não se elegeu.

O Partido Liberal não é a única coincidência a ligar o "Coringa" ao Capitão. Há uma outra: a troca do diálogo democrático pelas bombas.

Em 1987, o capitão Bolsonaro confessou à repórter da Veja Cassia Maria a participação na operação Beco Sem Saída, onde detonaria bombas em quartéis reivindicando melhores vencimentos para a tropa.

O plano foi desbaratado, Bolsonaro passou 15 dias preso e depois foi afastado de vez da vida militar, que foi sua única punição.

A impunidade do Capitão, que se estende aos dias de hoje, quando ainda não foi julgado por nenhum dos crimes de que é acusado, inclusive o principal —de planejar e tentar realizar um golpe de Estado, como confirmaram em depoimento os comandantes das Três Forças na época— , está na raiz do atentado de ontem, conforme opinião do ministro do STF Alexandre de Moraes.

Em discurso na manhã desta quinta-feira (14) no Conselho Nacional do Ministério Público (CBMP), o ministro do STF Alexandre de Moraes falou sobre o atentado terrorista e apontou qual seria o contexto que teria dado origem ao atentado de ontem.


"Mas o que ocorreu ontem não é um fato isolado do contexto. Queira Deus e a Polícia Federal vai analisar. Os autos já estão com o presidente do Supremo Tribunal Federal, o ministro Barroso, para analisar... a presidência que analisa eventual prevenção em relação às demais investigações já em curso. Como eu disse que era a Deus que seja um ato isolado esse ato. Mas no contexto é um contexto que se iniciou lá atrás, quando o gabinete do ódio, o famoso gabinete do ódio, começou a destilar discurso de ódio contra as instituições, contra o Supremo Tribunal Federal, não só como instituição, mas contra as pessoas, os ministros do Supremo Tribunal Federal principalmente, contra a autonomia do Judiciário, contra o Supremo Tribunal Federal não só como instituição, mas contra as pessoas, os ministros do Supremo Tribunal e as famílias, os familiares de cada um dos ministros. E isso foi se avolumando, foi se avolumando sob o falso manto de uma criminosa utilização da liberdade de expressão, ofender, ameaçar, coagir. Em nenhum lugar do mundo, isso é liberdade de expressão. Isso é crime. Isso foi se agigantando e isso resultou a partir da tentativa de descrédito das instituições, isso resultou no 8 de janeiro."

 

O "Coringa" está morto, mas o Capitão deve ser punido exemplarmente para desestimular que outros atentados à democracia sejam cometidos pela impunidade ou anistia de criminosos anteriores.

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