COMO FOI

Passagem relâmpago de Jair Bolsonaro para apoiar Ricardo Nunes tem churrasco, culto e pizza

Equipe de campanha do prefeito e candidato à reeleição pôde respirar aliviada após visita do ex-presidente ao afilhado político ter sido rápida, discreta e com possibilidade de contaminação controlada

Ricardo Nunes ao lado do governador Tarcísio de Freitas e do ex-presidente Jair Bolsonaro.Créditos: Julio Costa Barros
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Ricardo Nunes (MDB), prefeito de São Paulo e aspirante à reeleição, e o seu padrinho político Jair Messias Bolsonaro (PL) fizeram nesta terça-feira (22) a primeira agenda oficial juntos desde o início da campanha eleitoral da capital. Os três encontros em um só dia foram cercados de cuidados para evitar que a alta rejeição do ex-presidente e líder da extrema direita entre o eleitorado paulistano contaminasse a provação do candidato emedebista.

Os compromissos de campanha de Nunes com o seu padrinho Bolsonaro aconteceram a portas fechadas e em ambientes controlados. O primeiro encontro público do dia aconteceu na hora do almoço em uma churrascaria do Morumbi, bairro nobre da região oeste da cidade.

Lá, os dois discursaram em um palanque improvisado ao lado do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), o ex-presidente Michel Temer (MDB), de Baleia Rossi, presidente nacional do MDB, e o candidato a vice-prefeito coronel Ricardo Mello Araújo (PL) para um público selecionado formado por empresários e apoiadores próximos.

"Vou baixar um decreto que vai valer agora só para este ambiente. Vocês estão proibidos de viajar no dia 27 [de outubro, dia do pleito]", pediu o prefeito. "Vocês precisam nos ajudar a falar com todo mundo para que todos possam ir às urnas, para que todos possam nesses últimos cinco dias falar com amigos, falar com parentes para que a gente vá no domingo votar", suplicou o bolsonarista Ricardo Nunes aos empresários milionários, que aplaudiam a tudo e a todos.

No menu, um variado leque de opções de proteína animal importada e uma carta sofisticada de vinhos estrangeiros. O cardápio fugia da propaganda política de austeridade e simplicidade e contava com, entre outros pratos, "Wagyu A5 do Japão Maçaricado" – porção de 120 gramas com cinco fatias de carne – do boi popularizado no Japão que custa R$ 149, ou cerca de R$ 1.240 o quilo.

"O apoio do presidente Bolsonaro é de suma importância [para a nossa campanha]. Ele é o maior líder da direita do nosso país, nos ajudou a construir com o PL para que fizessem parte da nossa aliança", agradeceu o candidato do MDB ao padrinho político.

Esse Bolsonaro tão próximo e convicto do apoio dado a Ricardo Nunes é o mesmo que chegou a dizer em uma entrevista que o prefeito não era o seu "candidato dos sonhos" e, ao longo da campanha, chegou a flertar e a distribuir acenos ao principal adversário do emedebista, o ex-coach Pablo Marçal (PRTB), que terminou o 1º turno em terceiro lugar, ficando atrás do deputado federal Guilherme Boulos (PSOL).

“Você quer saber como começou tudo isso?”, começou o ex-presidente ao falar com a imprensa. “Há uns três meses eu tive uma reunião reservada com Pablo Marçal. Ele saiu dali dizendo que eu iria apoiá-lo. O que não era verdade. Quando ‘O Estado de São Paulo’ repercutiu isso passou para o país inteiro. E me deu uma dor de cabeça imensa”, completou o líder da extrema direita.

Em outro momento, o ex-presidente explicou se teria outras agendas marcadas para fazer ao lado de Nunes. “Já fiz de tudo o que tinha que fazer aqui em São Paulo", explicou Bolsonaro.

O trio Nunes, Bolsonaro e Tarcísio se reencontrou no início da noite para um culto realizado em homenagem a eles numa igreja neopentecostal do bairro da Saúde, zona sul da cidade. O pastor Robson Rodovalho, fundador e presidente da Igreja Sara Nossa Terra, disse haver uma batalha espiritual entre o bem e o mal acontecendo nas eleições.

O governador Tarcísio – que sempre que pode se arrisca a fazer sermões ou passar as suas interpretações de passagens bíblicas – foi quem mais falou na ocasião. O bolsonarista chegou a comparar Ricardo Nunes ao profeta Moisés, responsável por liderar o povo de Israel que era feito escravo no Egito.

“Deus mandou a confusão dos seus inimigos. Isso aconteceu com você, Ricardo. Sabe por quê? Deus mandou confusão para os seus inimigos porque esse projeto é abençoado. Deus vai matar a confusão dos seus inimigos”, arriscou o político bolsonarista em tom messiânico.

Bolsonaro subiu ao púlpito do templo mas falou pouco, não mencionou o pleito de domingo e orou para que a população brasileira “não sinta as dores do comunismo”. Jovens na plateia da igreja vestiam a camisa do time da CBF e, alguns, empunhavam bandeiras do Brasil.

Estiveram no culto religioso um grupo de parlamentares bolsonaristas. Entre eles, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), além dos deputados estaduais Gil Diniz (PL) e Paulo Mansur (PL).

Nunes, Bolsonaro, Tarcísio e seus partidários se dirigiram, após o culto, a um restaurante localizado em frente à igreja. O grupo encerrou a jornada festejando o sucesso da estratégia para evitar que a rejeição de mais de 60% do ex-presidente – segundo o Instituto Datafolha – manchasse a imagem do prefeito.

A reunião bolsonarista ocupou uma mesa cumprida e a festa foi regada por otimismo, guaraná e pizza de mussarela.

*Julio Costa Barros é jornalista