RELIGIÃO E POLÍTICA

Otoni chama Bolsonaro de “Bezerro de Ouro” e se diz traído pelo clã do ex-presidente

Segundo o deputado federal, é uma vergonha a forma como parte da igreja evangélica trata Bolsonaro, "como se fosse um Deus"

Otoni de Paula diz que Bolsonaro é um "bezerro de ouro" para a igreja.Créditos: Reprodução / Alan dos Santos PR
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Nesta quarta-feira (16), o deputado federal Otoni de Paula (MDB) criticou duramente a igreja evangélica e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), referindo-se a ele como "bezerro de ouro" adorado pela igreja. A declaração foi feita poucas horas após Otoni participar de uma cerimônia no Palácio do Planalto com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Para quem não está acostumado aos textos e expressões bíblicas, “bezerro de ouro” é uma alusão à narrativa do livro do Êxodo que, após a fuga do povo hebreu do Egito, acampou aos pés do Monte Sinai enquanto o líder Moisés subiu ao monte para receber de Deus as tábuas da lei, conhecidas como “Os Dez Mandamentos”. Após demorar muito tempo, o povo impaciente pediu ao irmão de Moisés, Aarão, que fizesse uma imagem para que os hebreus adorassem ao Deus que os livrou da tirania egípcia. Aarão fez, então, um “bezerro de ouro”, o que causou furor em Moisés e a punição daqueles que “adoraram a um outro deus” por desobedecerem a ordem de esperar Moisés descer do monte antes de fazer qualquer coisa.

O parlamentar também atacou a postura de líderes evangélicos que têm criticado os eleitores de Lula. "Não sou ponte nenhuma do PT com a igreja, não sou ponte do Lula com a igreja, mas sou ponte de oração. Essa briga vou comprar. Onde eu for, vou dizer: orem pelo Lula, orem pelo governo. Não sou daqueles que torcem para o avião cair, só porque não gostam do piloto. Eu estou no avião", disse Otoni ao portal O Fuxico Gospel.

Otoni explicou que nunca foi convidado pelo governo Lula para atuar como um intermediário, mas expressou seu desejo de assumir esse papel para combater a idolatria a Bolsonaro dentro da igreja evangélica. "O próprio governo Lula nunca me convidou para ser uma ponte, e acho que nunca me convidaria. Mas gostaria, sim, de ser uma ponte. Sabe para quê? Para tirar esse bezerro de ouro que construímos na igreja. Esse bezerro de ouro que nós construímos. Construímos uma adoração a um ser humano, que não é Deus, não é divino. É um político", afirmou.

O deputado ainda continuou, na entrevista, criticando o comportamento de algumas igrejas durante as eleições: “Quando ele (Bolsonaro) entra no templo, começa ‘mito, mito, mito, mito, mito.’ Irmão, se você gritar mito na rua, tudo bem, na rua, manifestação política. Agora você gritar mito dentro da igreja do Senhor Jesus? E volto a dizer: eu não tô culpando o Bolsonaro porque ele é um ignorante. Ele não é crente, ele conhece a salvação porque já foi pregado pra ele, mas ele não aceitou Jesus, certo?”

De Paula declarou abertamente, segundo a visão evangélica mais conservadora, que Bolsonaro “conheceu a verdade, mas não quis segui-la”:
“Esse tempo todo que Bolsonaro está conosco, nós não fomos capazes de ganhar ele pra Jesus. Tá certo? Nós não fomos capazes. Aliás, na última eleição de Bolsonaro, é só você pesquisar as redes sociais dele, faltando alguns dias pra eleição, no segundo turno, Bolsonaro aparece com uma foto diante de uma imagem de escultura, uma santa dessa aí, que eu não sei agora o nome dela, consagrando o Brasil a essa Nossa Senhora. Lembra disso?  “A ti consagro esta nação, minha mãe!”
A minha mulher, pastora, quando viu aquilo, disse pra mim, ‘Bolsonaro perdeu agora’. Ela disse, ‘ele conhece a verdade. Pode não ter aceito (sic) a verdade ainda, mas ele conhece a verdade.’ narrou o deputado.

Traição e rasteira do clã Bolsonaro

Otoni, que tem sido chamado por muitos de traidor, também recordou um conflito com a família Bolsonaro, ocorrido quando ele optou por apoiar a reeleição do prefeito Eduardo Paes (PSD) em vez de Alexandre Ramagem, candidato do PL, à Prefeitura do Rio de Janeiro. Otoni relatou ter sido "esculhambado" pelo senador Flávio Bolsonaro (PL), pelo partido e por Ramagem. Segundo o deputado, ele foi impedido pelo grupo de se candidatar no Rio. " O PL, o Flávio Bolsonaro, o Ramagem, não me respeitaram, me esculhambaram, não permitiram que eu fosse candidato e ainda queriam que eu babasse ovo. Desculpe o termo, babasse ovo. Não, vocês me tiraram a condição de ser candidato a prefeito, me deram uma rasteira”, declarou.

Criticando a visão maniqueísta de alguns apoiadores de Bolsonaro, Otoni afirmou: " Queriam que eu estivesse com eles ‘porque Deus está com Bolsonaro e o Capeta está com Lula’. Não sou criança nesse nível e não sou retardado mental de achar que Deus está com Bolsonaro e o Diabo está com Lula, como se Deus e o Diabo não tivessem mais o que fazer da vida deles”, afirmou.