FUNDADOR DO MBL

Padre Júlio usa vídeo de bispo chamado de "comunista" pela Ditadura e se antecipa à CPI

Júlio Lancellotti virou alvo do fundador do MBL, Rubinho Nunes (União), que obteve assinaturas para instalar comissão para investigar o trabalho do religioso com os pobres da região central de São Paulo

Dom Hélder Câmara e Padre Júlio Lancellotti com os pobres.Créditos: Instituto Dom Hélder / Instagram
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Alvo de perseguição do vereador Rubinho Nunes (União), um dos fundadores do Movimento Brasil Livre (MBL), que articulou junto à cúpula da Câmara Municipal de São Paulo a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), padre Júlio Lancellotti resgatou um vídeo antigo de Dom Hélder Câmara para se antecipar sobre a explicação que terá que prestar sobre sua atuação junto ao povo pobre que vive na região central da capital paulista.

Lancellotti vem sendo perseguido pelo fundador do MBL, Rubinho Nunes, que tenta levar o trabalho feito pelo padre para o centro dos debates das eleições municipais.

Partido de Rubinho, o União já decidiu apoiar o atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB), na tentativa à reeleição. A legenda ainda tem como pré-candidato o deputado federal Kim Kataguiri (União-SP), também fundador do MBL.

Para responder ao questionamento do vereador, que já conseguiu apoiar para instalar a CPI em fevereiro, Lancellotti relembrou as palavras de Dom Hélder, um dos fundadores da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e símbolo de resistência ao regime militar.

Dom Hélder foi classificado como "demagogo" e "comunistas" dias após o golpe, quando divulgou um manifesto apoiando a ação católica operária no Recife. O bispo também foi proibido de dar entrevistas e a mídia liberal, alinhada aos militares, não podiam sequer falar no nome do religioso.

Em entrevista em 1987, após a redemocratização, Dom Helder, explicou os motivos do ódio que a Ditadura nutria contra ele.

"Houve um tempo em que aqui, no Brasil, era assim: se um leigo, uma religiosa, um padre, um bispo trabalhava diretamente com o povo, 'meu Deus é um santo', 'é uma santa religiosa'", disse.

"Mas, quando a pessoa mesmo continuando a ajudar o pobre tinha a audácia de falar em justiça. Já viu palavra mais perigosa: justiça. Falar em promoção humana. Imediatamente era chamado de comunista", emenda o bispo.

Dom Hélder, no entanto, errou ao colocar dizer que isso teria ficado no passado. "Hoje isto é ridículo", disse o religioso, sem saber que mais adiante o mesmo discurso seria ressuscitado por adoradores da mesma Ditadura.

Veja vídeo mais extenso da entrevista de Dom Hélder.