ELEIÇÕES 2024

Bolsonaro vai indicar ex-PM extremista, que comandou a Rota e militarizou Ceagesp, para vice de Nunes

Bajulador contumaz, o coronel Mello Araújo levou alimentos para Araraquara para justificar fake news de Bolsonaro de que população comia carne de cachorro. Ele defende abordagem diferente na periferia e nos bairros ricos.

Coronel Mello Araújo e Jair Bolsonaro.Créditos: Instagram
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Após Guilherme Boulos (PSOL) oficializar Marta Suplicy (Sem partido, que voltará ao PT) como vice, Jair Bolsonaro (PL) deve indicar um ex-PM extremista e considerado por ele "leal" como vice de Ricardo Nunes (MDB), candidato à reeleição na disputa à prefeitura de São Paulo.

Ex-comandante da Rota e responsável pela militarização do Ceagesp durante o governo Bolsonaro, o coronel Ricardo Augusto Nascimento de Mello Araújo deve ser o vice de Nunes, caso o atual prefeito queira realmente o apoio do ex-presidente.

A indicação, revelada por Lauro Jardim no jornal O Globo, contraria as expectativas de aliados próximos de Nunes, que queriam um bolsonarista menos radical para o posto, dada a rejeição que o ex-presidente tem na capital paulista.

Diferentemente do que ocorreu no Estado, Lula venceu as eleições na capital com 53,54% dos votos válidos. Bolsonaro obteve 46,46%.

Aliados do atual prefeito e até mesmo Valdemar da Costa Neto queriam uma pessoa mais moderada, como o deputado Antonio Carlos Rodrigues, coordenador da bancada paulista do PL na Câmara, que tem trânsito antigo na política paulista.

No entanto, Bolsonaro pretende esticar a corda ao indicar o ex-PM, um bajulador contumaz e próximo a ala mais radical do bolsonarismo.

Histórico autoritário

Nascido em São Paulo, Ricardo Augusto Nascimento de Mello Araújo, o coronel Mello Araújo, entrou na Polícia Militar de São Paulo em 1987 e comandou batalhões no interior, antes de voltar para a capital, onde ingressou nas Rondas Ostensivas Tobias Aguiar (ROTA), uma das tropas mais violentas da corporação.

Com trânsito fácil na política, ele comandou com mão de ferro a Rota entre maio de 2017 e fevereiro de 2019, quando encerrou sua carreira na PM.

Apoiador contumaz de Bolsonaro, o ex-Rota foi alçado pelo ex-presidente à presidência da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp) em outubro de 2020.

Em seu discurso de posse, Mello Araújo fez uma promessa específica. "Essa grande empresa de reconhecimento internacional, com segundo maior giro financeiro do país, que só perde para a Bolsa de Valores, vai ser privatizada", afirmou

Ao assumir, Mello Araújo nomeou 22 policiais militares nos 26 cargos comissionados para empregados sem vínculo com a Administração Pública disponíveis na Companhia.

Entre os ex-policiais, foi nomeado Renato Nobile, que em 2019 havia protagonizado um ato de homofobia após um sargento da Polícia militar fardado pedir seu namorado em casamento.

Nobilie  publicou um texto em seu perfil nas redes fazendo ameaças ao noivo. "Desgraçado, canalha e safado. Desonra para a minha corporação. Esse tinha que morrer na pedrada", afirmou

Além dos PMs, Mello Araújo nomeou o ex-secretário de Segurança Pública de São Paulo, Antônio Ferreira Pinto, para o cargo de diretor de operações, com salário de R$ 30.530. A contratação ocorreu em 4 de janeiro de 2021, dois meses após o ex-comandante da Rota assumir presidência da Ceagesp.

À frente da Ceagesp, Mello Araújo ainda protagonicou uma das cenas mais deploráveis durante a pandemia para tentar justificar a fake news propagada por Bolsonaro de que haviam pessoas comendo carne de cachorro devido à fome em Araraquara.

Administrada pelo ex-ministro de Comunicações de Dilma Rousseff, Edinho Silva (PT), a cidade do interior paulista foi considerada exemplo mundial na pandemia ao decretar isolamento e frear o aumento de casos de Covid-19.

Por esse motivo, virou alvo de Bolsonaro, que propagou a fake news que as pessoas estavam passando fome na cidade e, ecoando o que diz sobre a Venezuela, estariam matando cães para se alimentar.

Desmentido nas redes, o ex-presidente mandou o então presidente da Ceagesp partir em comboio até Araraquara, que fica a 273 quilômetros da capital, para entregar alimentos.

“Nesse momento, comboio parte da Ceagesp rumo a Araraquara/SP, levando alimentos para aqueles vitimados pela política do ‘fique em casa que a economia a gente vê depois’”, disse à época Bolsonaro, que parabenizou o presidente da Ceagesp, coronel da reserva Mello Araújo, permissionários, Exército e Polícia Militar paulista pela ação.

Antes da Ceagesp, Mello Araújo já havia tido destaque na imprensa, não exatamente por seus bons serviços como policial. Em entrevista ao portal UOL, em 2017, o ex-comandante da Rota afirmou que recomendava aos seus comandados que abordassem os cidadãos da periferia e de bairros ricos de forma diferente.

"É uma outra realidade. São pessoas diferentes que transitam por lá. A forma dele (policial) abordar tem que ser diferente. Se ele for abordar uma pessoa na periferia da mesma forma que ele for abordar uma pessoa aqui nos Jardins, ele vai ter dificuldade. Ele não vai ser respeitado", afirmou Mello Araújo.

"Da mesma forma, se eu coloco um policial da periferia para lidar, falar com a mesma forma, com a mesma linguagem que uma pessoa da periferia fala aqui no Jardins, ele pode estar sendo grosseiro com uma pessoa do Jardins que está ali, andando", concluiu o ex-presidente da Ceagesp.

Com informações do Brasil de Fato