Em entrevista ao Fórum Café nesta sexta-feira (7), o médico e pesquisador Táki Athanássios Cordás, do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) afirmou que o 7 de Setembro foi sequestrado pelo bolsonarismo que, a exemplo de regimes fascistas, tem um apego a um "passado mítico".
"Os bolsonaristas sequestraram o 7 de Setembro, a camisa da seleção brasileira - 'a pátria de chuteiras' -, a bandeira, o hino nacional. E qualquer regime fascista tem um apego pelo passado mítico, um passado heróico, que fascina. Dentro dessas cabeças interessa propagandear que tivemos um passado heróico, de gente que lutava pela independência - aliás, independência daqui a pouco vira neoliberalismo. É algo que se vê em regimes fascistas anteriores. Mussolini glorificava o passado romano. Só que é um retorno a um tempo mítico de um tempo que era melhor que o nosso. Só que é tão mítico. Se vocês forem ver o quadro do Pedro Américo, Independência ou Morte, ele é tão mítico que cercando Dom Pedro I tem os Dragões da Independência, que nem existiam nessa época", explicou Cordás.
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O psiquiatra afirma que Bolsonaro atuou como "O Flautista de Hamelin", conto folclórico dos irmãos Grimm em que um músico conduz ratos para livrar uma cidade alemã da infestação, diante de uma parcela da população brasileira que tem ranços racistas, machistas, misóginos e preconceituosos em sua personalidade.
"Existe no país ainda uma camada muito silenciosa com ranço muito racista, misógino, que de repente achou o flautista de Merlin e ai saíram todos os ratos dos esgotos", ilustrou.
Segundo Cordás, diferentemente do que ocorreu na Alemanha, não houve no Brasil um processo de "desnazisação" após a Ditadura, que permitiu a ascensão de Bolsonaro.
"A gente não fez o que na Alemanha se fez que foi a desnazisação, afastar os elementos mais radicais. E isso começa lá atrás por não ter feito o que a Argentina fez, assim como no Chile, de julgar os verdadeiros torturadores e responsáveis pelo golpe. O fato de não ter julgado essas pessoas, fez com que elas se mantivessem", afirma.
"O resto, que é o bolo de bolsonaristas, que é o inocente útil, o medíocre, a banalidade do mal. O cara acaba entrando porque tem um domínio cognitivo menor, é um idiota que entra naquele círculo de tolices. E gente boa, tenho certeza que a gente encontra. É aquele tiozinho que, a partir de ficar ouvindo essas porcarias, se sentiu o grande herói da pátria, o bastião de resistência da pátria. É gente que não tinha o mundo interno rico, não tinha o porque da vida e de repente ele acha um objetivo e se torna o patriota idiota, que vai salvar a pátria. Esses caras que não tinham valores internos humanísticos, achou algo pelo que lutar", emendou o psiquiatra.
Assista a entrevista no Fórum Café.