CAI QUEM QUER

Mauro Cid dá desculpa bizarra sobre Rolex com diamantes que tentou vender

Esquema do ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro para surrupiar objeto valioso que deveria ser incorporado ao patrimônio da União foi flagrado em e-mail obtido pela CPMI dos Atos Golpistas

Mauro Cid em depoimento à CPMI dos Atos Golpistas.Créditos: Edilson Rodrigues/Agência Senado
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Preso há 3 meses por um esquema de falsificação de cartões de vacina e alvo de investigações por conspirações golpistas e tentativa de roubo de joias, o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid, deu uma desculpa bizarra sobre o caso do Rolex cravejado de diamantes recebido pelo ex-presidente em viagem oficial e que ele tentou vender

Uma troca de e-mail em inglês, obtida por parlamentares da CPMI dos Atos Golpistas e datada de 6 de junho de 2022, mostra o militar negociando a venda de um relógio da marca Rolex que, como presente dado por autoridade estrangeira, deveria ter sido incorporado ao patrimônio da União. 

A familiares, de acordo com o jornalista Guilherme Amado, Mauro Cid se pronunciou sobre o assunto. Segundo o ajudante de ordens, apesar da negociação registrada em e-mail, sua real intenção não seria vender o relógio de luxo, mas apenas cotar o seu preço

Entenda o escândalo 

A quebra pela CPMI dos Atos Golpistas do sigilo telemático do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro na Presidência da República, começa a revelar o destino de presentes luxuosas recebidos durante viagens oficiais do ex-presidente.

Uma troca de e-mail em inglês, datada de 6 de junho de 2022, mostra o militar negociando a venda de um relógio da marca Rolex "cravejado de platina e diamante" que teria sido recebido durante viagem oficial.

“Obrigado pelo interesse em vender seu rolex. Tentei falar por telefone, mas não consegui", diz, em inglês, a interlocutora. “Quanto você espera receber por ele? O mercado de rolex usados está em baixa, especialmente para os relógios cravejados de platina e diamante, já que o valor é tão alto. Eu só quero ter certeza que estamos na mesma linha antes de fazermos tanta pesquisa", emenda.

Na resposta, o assessor de Bolsonaro afirma que não possuía o certificado porque o relógio foi um "presente recebido em viagem oficial. Cid ainda afirma que estava pedindo 60 mil dólares pelo Rolex, algo em torno de R$ 300 mil pela cotação atual.

Rolex

Em outubro de 2019, durante viagem a Doha, no Catar, e Riade, na Arábia Saudita, Bolsonaro recebeu um conjunto de joias que inclui um relógio da marca Rolex de ouro branco cravejados com diamantes. O valor das joias é estimado em R$ 500 mil.

As joias foram dadas pelo rei sauditan Salman bin Abdulaziz Al Saud. No total, ao menos três conjuntos de joias recebidos em viagens oficiais foram surrupiados por Bolsonaro.

Jair Bolsonaro e Mauro Cid (Reprodução)

O conjunto de joias que incluia o Rolex foi devolvido pela defesa de Bolsonaro em abril deste ano, após a Polícia Federal instaurar uma investigação para apurar outro conjunto de joias da Arábia Saudita, avaliado em R$ 5 milhões, retido pela Receita Federal no aeroporto internacional de Guarulhos.

Mauro Cid foi o comandante da operação que tentou, sem sucesso, resgatar as joias em posse do Fisco. O militar está preso desde maio por participar de um esquema de supostas fraudes no cartão de vacina e por manter conversas de teor golpista.

Certificados de diamantes intrigaram PF 

Quando no último dia 3 de maio a Polícia Federal fez uma operação na casa do tenente-coronel Mauro Cid, ficou intrigada com certificados de diamantes encontrados na cozinha do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. O documento serve para atestar a veracidade de uma joia, se a pedra preciosa é verdadeira ou não. No caso, os certificados haviam sido emitidos pela prestigiosa Saddik Omar Attar Est, parceira dos luxuosos relógios Rolex, como o recebido pelo ex-presidente que Cid tentou vender.

Na mesma semana a PF divulgou a apreensão de 35 mil dólares (equivalente a 170 mil reais) na casa do ex-faz-tudo de Bolsonaro. À época, a corporação afirmou não havia indicativo de que os certificados fossem referentes às joias de Bolsonaro, que entraram ilegalmente no país, ou pertencentes à família de Mauro Cid, mas esse quadro pode estar mudando.

Isso ocorre porque a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ) revelou na última terça-feira (1), durante a CPMI dos Atos Golpistas, que segundo dados da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), no dia 26 de outubro de 2022, o ex-presidente Jair Bolsonaro e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro receberam, respectivamente, um envelope e uma caixa contendo pedras preciosas. Mas os presentes não constam na lista de 46 páginas e 1055 itens recebidos durante o mandato.

Na denúncia, a deputada aponta que em troca de e-mails analisada pela CPMI, o ajudante de ordens Cleiton Henrique Holzschuk ordena aos colegas Adriano Alves Teperino e Osmar Crivelatti que as pedras não deveriam ser cadastradas no acerto do Palácio do Planalto mas entregues em mãos ao tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordens e braço direito de Bolsonaro.

“Foi guardado no cofre grande, 01 (um) envelope contendo pedras preciosas para o PR (presidente) e 01 (uma) caixa de pedras preciosas para a PD (primeira-dama), recebidas em Teólifo Otoni em 26/10/22. A pedido do TC (tenente-coronel) Cid, as pedras não devem ser cadastradas e devem ser entregues em mão para ele (Cid). Demais duvidas, Sgt Furriel está ciente do assunto,” diz o e-mail de Holzchuk.