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Aécio Neves é reabilitado pelos tucanos

PSDB revisita diretrizes do passado, tenta se firmar como terceira via e tira da gaveta logotipo com a ave que havia sido abandonado

Créditos: Reprodução YouTube - Tucanos Aécio Neves e Eduardo Leite em seminário do PSDB
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Após a derrota nas eleições do ano passado e de se transformar em um partido sem relevância, o PSDB tenta se viabilizar como uma terceira via. O partido expressou sua determinação em seguir um rumo que não se alinhe nem com Jair Bolsonaro (do PL) nem com Lula (do PT). A alternativa foi reabilitar o hoje deputado federal  Aécio Neves (PSDB-MG), que já foi senador, governador e candidato à Presidência da República, derrotado na disputa com a presidenta Dilma Rousseff (PT), em 2014, e que vivencia o ostracismo.

A ressurreição de Aécio foi feita durante seminário do partido realizado em Brasília na última quinta-feira (24). O parlamentar mineiro foi recebido com entusiasmo pelos tucanos e saudado no palco com palavras de apoio pelo presidente nacional e governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite.

"Quero saudar especialmente Aécio pelo término do longo calvário em um processo que se instaurou e foi comprovadamente julgado improcedente pela Justiça", declarou Leite.

Os tucanos resolveram também revisitar diretrizes do passado e até trouxeram de volta o símbolo do tucano em seu logotipo, e internamente reintegrou Aécio que foi recentemente absolvido pela Justiça.

No final de julho, o Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF-3) confirmou a absolvição do deputado federal em relação às acusações de corrupção no caso JBS, incluindo a acusação de corrupção passiva, seis anos após a divulgação das gravações de Joesley Batista.

No evento do PSDB, Aécio recebeu aplausos calorosos e quebrou o protocolo para ceder a palavra ao deputado mineiro. "Nunca duvidei que esse dia chegaria", afirmou Aécio, agradecendo pelo "apoio" expressado por Leite.

Tucanos encolhidos

Aécio inaugurou a prática adotada pelo bolsonarismo de questionar o resultado das urnas eletrônicas quando perdeu para Dilma em 2014. Desde então o partido tem colecionado desempenhos negativos nas eleições.

Em 2022, a legenda do ex-presidente por dois mandatos Fernando Henrique Cardoso registrou o pior desempenho eleitoral de sua história, em mais um episódio da crise que levou a legenda, pela primeira vez em sua existência, a ficar fora da corrida presidencial.

Os tucanos conseguiram eleger três governadores no segundo turno, mas perderam o domínio histórico que mantinham sobre São Paulo nas urnas, não conseguindo eleger nenhum senador também. Na Câmara, a bancada da sigla, que já era pequena com 22 deputados federais, foi reduzida a 13.

Retorno do Tucano como logotipo

Agora, em 2023, o PSDB resgata o tucano em seu logotipo, uma marca que havia sido abandonada há quatro anos sob a liderança de Bruno Araújo. Na camiseta de Leite estava estampada uma citação de Fernando Henrique Cardoso, que diz: "Nós lutamos não para vencer no dia seguinte, mas para criar um horizonte de alternativas".

O partido também apresentou novos pilares, como a promoção de uma economia competitiva e aberta ao mundo, porém sustentável, além de reforçar políticas públicas, mantendo, no entanto, uma máquina governamental enxuta.

Nem Lula nem Bolsonaro

O atual presidente nacional do partido, o governador do Rio Grande do Sul Eduardo Leite expressou preocupação de que nos últimos anos o partido tenha sido afetado pela polarização eleitoral entre Lula e Bolsonaro, o que forçou seus líderes a tomarem posições claras. No segundo turno das eleições do ano passado, o tucano optou por manter uma postura neutra.

Em conversa com jornalistas, Leite posicionou o PSDB como uma terceira via.

A gente está aqui depois desse processo de discussão todo para dizer que não somos nem Lula, nem Bolsonaro. Não é simplesmente que não somos nenhum dos dois, somos PSDB, que tem DNA, visão, propósito para o país, uma forma de fazer política e a gente está buscando resgatar isso. Nessa reconexão com sentimentos originais do partido, naturalmente com visão atualizada dentro desse novo contexto.

Ao ser  perguntado sobre a polarização eleitoral no Brasil. Ele disse acreditar que esse cenário será superado. "Tenho certeza que o Brasil não deseja permanecer com essa radicalização, tensionamento no ambiente político. Quando isso for superado, o PSDB vai ser alternativa"

Com relação ao Governo Lula, o governador gaúcho reconheceu que o petista trouxe serenidade ao ambiente político, mas criticou algumas falas do presidente que, para ele, reforçam a polarização. "De um ponto de vista político, há um pouco de serenidade dos ânimos, embora muitas vezes o presidente acabe falando também em relativizar a democracia", disse, em referência às falas de Lula sobre democracia ser um conceito relativo.

Com informações da Folha de S.Paulo