A divulgação da movimentação milionária nas contas de Jair Bolsonaro (PL), que revoltou os filhos e aliados, foi fruto de mais uma trapalhada na estratégia de defesa do ex-presidente, que deve ser indiciado criminalmente pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPMI) dos atos golpistas como mentor intelectual da tentativa de golpe de Estado que culminou na depredação das sedes dos três poderes em 8 de Janeiro.
Ex-ajudante de ordens da Presidência, o tenente-coronel Mauro Cid tinha procuração de Bolsonaro para movimentar as contas pessoais do ex-presidente até o dia 16 de julho deste ano, quando a CPMI já cogitava quebrar o sigilo bancário do militar.
Te podría interesar
No dia 11 de julho, a comissão já havia aprovado a quebra do sigilo telemático dele e de assessores no gabinete da Presidência. No entanto, a base governista, no entanto, já cogitava pedir a quebra de sigilo bancário e fiscal do ex-ajudante de ordens.
Seis dias depois, Bolsonaro suspendeu a procuração que autorizava Mauro Cid movimentar dinheiro em suas contas pessoais. No entanto, um relatório do Coaf que apontava movimentações atípicas na conta do tenente-coronel incluía dados de Bolsonaro em razão do militar atuar como seu procurador.
Te podría interesar
"O Flávio ou o Eduardo Bolsonaro - sei lá qual - fez um escândalo quando chegaram os resultados da conta do Mauro Cid, onde estava [os dados do] Bolsonaro: 'Coaf não poderia ter mandado a conta do Bolsonaro'. O Coaf mandou a conta do Mauro Cid, só que ele era procurador do Bolsonaro. E eles sabiam que isso era um risco", afirmou Rogério Correia (PT-MG) ao Fórum Café nesta quinta-feira (10).
"Agora eu descobri ontem que o chororô deles de que o Coaf não poderia fazer pois o Mauro Cid não era mais procurador. Mas, isso foi no dia 17 de julho, quando a CPI estava ainda engatinhando, mas nós já começamos a pedir a quebra do sigilo. Dia 17 de julho o Bolsonaro retirou o Mauro Cid da procuração. Eles viram que a gente ia pedir a quebra de sigilo e eles retiraram rapidamente a procuração", emendou o parlamentar, que é membro titular da CPMI.
Entre os dados que vieram à tona com o relatório do Coaf está o recebimento por Bolsonaro de cerca de R$ 17 milhões via Pix, que teriam sido doados por apoiadores - mas que a CPMI suspeita de lavagem de dinheiro.
"Foi no dia 17 de julho que ele [Bolsonaro] pediu para não ser mais o Mauro Cid procurador da conta. Eu fiquei com a reclamação do Flávio na cabeça e pensei: será que o Coaf vai mandar coisa de mais para nós. Não, o Coaf mandou até o dia 17, porque no dia 17 ele pediu para que não fosse mais, pois sabia que ia quebrar e eles temiam que ia chegar no Bolsonaro. Por exemplo, os R$ 17 milhões que os patriotários foram dando dinheiro e ele gastando com a família, com a Michelle, pra condomínio do Flávio, do Eduardo. E até para a Wal do Açaí, para Mega Sena", disse Correia.
Segundo o deputado, nesta quarta-feira (9) chegaram à comissão cerca de 17 mil e-mails que se encontravam na lixeira de militares que atuavam junto com Mauro Cid na ajudância de ordens de Bolsonaro, que devem revelar mais indícios da atuação de Bolsonaro na tentativa de golpe.
"É impressionante a trapalhada, a ladroagem deles. A articulação golpista. Tudo isso vem sendo revelado", disse Correia, salientando que "a CPMI já tem dados concretos para indiciar Bolsonaro e pedir a prisão dele".
Assista a entrevista no Fórum Café