A sessão desta terça-feira (11) da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Atos Golpistas, que recebeu o militar Mauro Cid, faz-tudo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), foi marcada pelo silêncio do depoente e ataques transfóbicos contra a deputada Erika Hilton (PSOL-SP).
Tudo começou quando Erika Hilton chamou a atenção do deputado Abilio Brunini (PL-MT), que tem tumultuado todas as sessões da CPMI. "É muito difícil, durante toda a sessão, o deputado atrapalhar os trabalhos da CPMI, causar tumulto. Eu aconselharia que o deputado procurasse tratar a sua carência em outro espaço. Este espaço [da CPMI] é sério, é de trabalho e é incompatível com este tipo de interrupção, filmagem e constrangimento, não apenas pelo deputado Abílio, mas por outros que agem da mesma forma enquanto a senadora relatora fazia o seu discurso [...] peço a vossa excelência, presidente, que conduza esta CPMI com ordem para que sejamos respeitadas ao expressarmos nossas opiniões. Dito isso..."
Te podría interesar
A fala de Erika Hilton é interrompida pelo senador Rogério Carvalho (PT-SE), que está sentado à frente de Abílio Brunini e revela que ele fez uma piada homofóbica direcionada a Erika Hilton. "Presidente, o deputado Abilio Brunini fez uma fala homofóbica quando a companheira estava se manifestando, ele a acusou e disse que ela estava 'oferecendo serviços'. Isso é um desrespeito e eu peço que vossa excelência peça para o deputado se retirar por homofobia". Carvalho é questionado se tem provas do que está falando, e o parlamentar, então, sugere que sejam solicitadas as gravações da sessão.
O presidente da CPMI, deputado Arthur Maia (União Brasil-BA), afirma que vai pedir à polícia legislativa que investigue o caso. "Tanto o senador Rogério Carvalho quanto a senadora Soraya Thronike (União Brasil-DF) afirmam ter ouvido o deputado...", o presidente da comissão é interrompido pelo deputado André Fernandes (PL-CE), que começa a ter um ataque.
Te podría interesar
"E daí se ele falou isso? A deputada mandou ele procurar serviço para curar carência", disse ele e foi prontamente alertado pelo presidente da Comissão. "Não interrompa quando o presidente da Comissão fala [...] o deputado Abílio diz que não falou, então, a nossa decisão é a seguinte: nós vamos fazer uma investigação".
Após o presidente da sessão afirmar que vai mandar investigar o caso, o deputado André Fernandes tem um ataque de nervos, levanta-se e começa a gritar com todos os presentes, que debocham da cena: "que valente, nossa!". Irritado, o parlamentar deixa a sessão.
Erika Hilton, depois de ter novamente a palavra, tenta falar. "Eu não vou entrar nessa seara de baixo nível...", Hilton é interrompida pelos deputados bolsonaristas, que começam a debochar de sua postura. Indignado, o presidente da CPMI sai em defesa de Hilton. "Ela se inscreveu, chegou no horário correto, ela tem o direito de fazer uso da palavra e ela tem o respaldo da população brasileira. Eu peço desculpas a vossa excelência, deputada, em nome de todo este plenário", disse Arthur Maia.
Finalmente, depois de muitas cenas protagonizadas pelos deputados bolsonaristas, Erika Hilton consegue retomar a palavra. "Em todas as sessões, o deputado parece querer chamar a nossa atenção, e isso me parece um comportamento baseado na psicanálise, não em questões de gênero ou sexualidade, que é a única coisa que tem na cabeça dessa gente. Eu jamais entraria nessa discussão... isso não é da minha competência, quem discute essa temática e persegue a comunidade não sou eu, é essa gente que está do lado de lá. Quando eu falei sobre carência, é exatamente sobre o comportamento de querer chamar atenção o tempo todo".
Posteriormente, Erika Hilton dá outras dicas para Abilio Brunini (PL-MT) se sentir melhor. "Eu até poderia sugerir que ele adotasse um cachorrinho para não se sentir tão só. Era sobre isso que eu me referia. O comportamento do deputado não condiz com esta CPMI. Agora, todos os argumentos de baixo calão, de baixo nível, fora de um decoro parlamentar que estão sendo apresentados aqui por parte dessa gentalha, é de fato assustador. Jamais entraria neste campo em um debate... esse caos histérico presente neste plenário é uma tentativa de nos confundir, uma tentativa de desviar nossa atenção daquilo que realmente importa, que são as tentativas de golpes antidemocráticos que aconteceram.
"Não aceitarei, não tolerarei ser desrespeitada, interrompida ou colocada em situações de baixo calão ou de baixo nível. Trato todos os colegas com respeito, com diplomacia, e exijo o mesmo tratamento. E aqueles que fugirem dessa diplomacia terão de responder criminalmente por qualquer tentativa de estereotipar a minha identidade", finalizou Erika Hilton.