A ministra Cármen Lúcia, vice-presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), interrompeu o voto de Raul Araújo no julgamento que deve sentenciar a inelegibilidade por 8 anos de Jair Bolsonaro, nesta quinta-feira (29), e deu um enquadro no ministro.
Araújo, até o momento, foi o único ministro que votou contra a cassação dos direitos políticos de Bolsonaro, enquanto o relator Benedito Gonçalves e os ministros Floriano de Azevedo Marques e André Ramos Tavares votaram a favor, deixando o placar parcial em 3x1 pela inelegibilidade do ex-presidente.
Ao sair em defesa de Bolsonaro na leitura de seu voto, Raul Araújo deu ênfase ao fato de que o ex-presidente, supostamente, não seria responsável pela minuta de um golpe de Estado encontrada na casa do ex-ministro da Justiça, Anderson Torres. O ministro disse, ainda, que seria "impossível" condenar Bolsonaro com base na suposição de que ele seria responsável pela minuta.
Acontece que, apesar do documento fazer parte do processo, ele não foi utilizado pelo relator para embasar seu voto, motivando a ministra Cármen Lúcia a dar um pito em seu colega de Corte.
“Não me pareceu que no voto do ministro relator houvesse nenhuma referência a que este documento, nem de autoria nem de responsabilidade do primeiro investigado (Bolsonaro). Eu quero só entender se Vossa Excelência está excluindo alguma coisa, mas sem pertinência com o que o relator teria dito (...) Eu, no meu voto, nem uso este dado”, disparou Cármen Lúcia.
Isso porque o objeto principal da ação, que baseou o voto do ministro relator, é a reunião que Bolsonaro realizou com embaixadores estrangeiros em julho de 2022 atacando o sistema eleitoral brasileiro e colocando em xeque a segurança e credibilidade das urnas eletrônicas.
Presidente do TSE, o ministro Alexandre de Moraes, então, interviu, endossando Cármen Lúcia em seu enquadro no ministro Raul Araújo.
“Acho importante, realmente, porque o longo voto do eminente relator se baseou na reunião. O fato de ter juntado essa minuta golpista em nada afetou, e também, ainda, não se apurou a responsabilidade disso”, declarou Moraes.
O relator Benedito Gonçalves, por sua vez, completou a invertida contra o único ministro que votou favoravelmente a Bolsonaro.
“Meu voto foi claro, explicando, primeiro: não está se apurando minuta. Foi um reflexo, que poderia ser minuta ou outra questão, da conclusão que eu tive do meu voto, dos efeitos do discurso feito do evento de 18, na reunião que se apura, no tocante à inverdade das urnas eletrônicas", pontuou o ministro.
O julgamento foi suspenso e será retomado nesta sexta-feira (30), às 12h, com o voto de Cármen Lúcia. Se a ministra votar contra Bolsonaro, estará formada a maioria e o ex-presidente será automaticamente declarado inelegível.
Veja o momento em que Raul Araújo é enquadrado pelos ministros