BEM À VONTADE

Tarcísio em Lisboa: “Temos um guardião da Constituição que funciona muito bem”

Com postura amena, dialogável e nada bolsonarista, governador de SP elogiou STF e a democracia brasileira no 11° Fórum Jurídico de Lisboa, ao lado do ministro Flávio Dino

Ministro Flávio Dino e governador Tarcísio de cumprimentam amigavelmente.Créditos: Henrique Rodrigues/Revista Fórum
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De LISBOA | O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), participou na manhã desta segunda-feira (26) do 11° Fórum Jurídico de Lisboa, um dos mais importantes eventos da área do Direito no mundo lusófono, realizado na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa e organizado pelo Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP) e a FGV. O que chamou a atenção mesmo no comportamento do ex-ministro de Jair Bolsonaro (PL) foi a descontração, o trato ameno e a face bem-humorada e nada bolsonarista na relação com as autoridades presentes, muitas delas abertamente de esquerda, como o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, que participou do mesmo debate que Tarcísio, cujo tema foi “Riscos para o Estado de Direito e defesa da democracia”.

Em seu discurso inicial, o chefe do Executivo paulista pediu desculpas por ser ali um “peixe fora d’água”, já que estava cercado por juristas respeitados do Brasil e de Portugal, e ele, Tarcísio, é um engenheiro. Após falar sobre “direito natural e direito positivo”, tentando se familiarizar com a atmosfera do juridiquês, e de suas expectativas de que “surja um Estado capaz de solucionar conflitos sociais” no Brasil, uma declaração do carioca que governa São Paulo gerou perplexidade na plateia.

“Nós temos um guardião da Constituição que tem funcionado muito bem”, soltou Tarcísio, referindo-se ao Supremo Tribunal Federal (STF), representado no auditório pelos ministros Luis Roberto Barroso e Gilmar Mendes, sentados na primeira fileira da plateia. Tanto Dino quanto o presidente da OAB, José Alberto Simonetti, já tinham falado de forma direta ou indireta sobre o perigo que representou ao Brasil a figura de Jair Bolsonaro nos últimos quatro anos, e salientando o papel do Supremo para contê-lo em suas ambições autoritárias.

A frase, que sai da boca de um peso-pesado do bolsonarismo e do homem que foi escolhido pelo líder radical de extrema direita para disputar o cargo mais importante depois da Presidência da República, inclusive vencendo o pleito e se projetando para ser um herdeiro natural na fração política ultrarreacionária brasileira, veio no contexto de uma analogia que traçou antes, ao dizer que o país passou por “um choque de placas tectônicas” e que isso “libera muita energia e que talvez não tenha se dissipado totalmente”.

Tarcísio, ao garantir que “a Constituição está muito bem guardada”, arrancando aplausos da plateia após o fim de sua explanação, foi na direção totalmente oposta do que Bolsonaro e a maior parte de suas franjas extremistas falam sobre o STF, que seria um tribunal que atua politicamente e que extrapola suas funções, acusando até de “favorecer a esquerda”.