INVESTIGAÇÃO

Como corrida secreta por chips salvou a democracia brasileira

A articulação internacional para manter urnas operantes que brecou bolsonarismo

Chips de urnas eletrônicas motivaram esforço homérico de autoridades brasileirasCréditos: Antonio Augusto/Ascom/TSE
Escrito en POLÍTICA el

Uma reportagem publicada pelo The Brazilian Report nesta semana mostrou como a democracia brasileira foi colocada em risco por conta da crise de semicondutores ocorrida no planeta em 2021.

Como foi de fato conhecido na época, houve uma crise na cadeia global de semicondutores que fez com que preços de computadores explodissem e dificultassem o desenvolvimento global de celulares.

E justamente neste ano, a Positivo recebeu a missão de construir as urnas eletrônicas para substituir os modelos antigos que o Brasil utilizava para votar, informa a matéria assinada por Amanda Audi e Gustavo Ribeiro.

A empresa venceu a licitação, mas comunicou ao TSE que estava tendo dificuldade para comprar chips nas cadeias internacionais para montar as urnas.

O problema é que não existiam chips ao redor do mundo. E caso as urnas não fossem montadas naquele ano, o TSE não seria capaz de substituir as urnas antigas, que já estavam disfuncionais. Urnas sem bom funcionamento seriam o sonho de Bolsonaro, que já incitava um discurso pró-voto-impresso desde o início de seu mandato.

Então, Luis Roberto Barroso - que estava na presidência do TSE na época - se movimentou com diplomatas americanos aposentados e figuras por fora do Itamaraty para conseguir negociações com empresas americanas que forneceriam chips de Taiwan para o Brasil.

A peça chave da aquisição foram Tom Shannon e Anthony Harrington, que serviram como diplomatas para os EUA e hoje trabalham no mundo privado. Harrington era acionista de uma empresa de chips, a Texas Instruments, e facilitou a compra.

O embaixador dos EUA no Brasil à época, Todd Chapman, decidiu não intervir nas negociações. Carlos França optou por deixar a negociação por debaixo dos panos para não irritar Bolsonaro e a China pela movimentação entre Brasil e Taiwan.

Após a conclusão das negociações, diversas autoridades de estado nos EUA decidiram apoiar a segurança do sistema das urnas brasileiras, através de comunicados oficiais e até ameaça de sanções contra o país em caso de golpe de estado.

A matéria alerta para o fato de que Washington vê com maus olhos o não-alinhamento de Lula com o Pentágono, além de enxergar alguma ingratidão pelo esforço pela manutenção da democracia brasileira.