Por Mauro Lopes, da Sucursal BRASÍLIA, e Henrique Rodrigues, da Sucursal EUROPA |
Estiveram no evento aproximadamente 200 pessoas, entre especialistas em segurança, autoridades e representantes de órgãos governamentais dos países participantes: Portugal, Espanha, Colômbia, Inglaterra, Alemanha, Estados Unidos, Argentina, Canadá, África do Sul e Itália.
A principal conclusão do encontro: em todos estes países, a segurança de chefes de Estado e de Governo é conduzida por forças civis, seja por instituições específicas para tal, seja por forças policiais, como é o caso da Polícia Federal Argentina (PFA), responsável pela segurança do Presidente argentino. Ou seja: a reivindicação do GSI de que a segurança presidencial seja novamente militarizada está em oposição ao que acontece nas democracias.
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Assista a um vídeo inédito sobre o encontro:
O I Seminário Internacional de Segurança de Chefes de Estado todo equivale a uma afronta às concepções do GSI e de seu novo chefe, o general Marcos Antonio Amaro dos Santos, sobre a segurança presidencial. “O general Amaro foi nomeado depois do seminário, mas as concepções que ele apresentou depois de sua posse contrariam todas as conclusões do nosso evento”, disse à Fórum um dos organizadores do encontro.
Nas entrevistas que concedeu depois de sua posse, o general Amaro defendeu que a segurança presidencial retome a ostensividade como solução para a contenção de ameaças. No seminário, entretanto, todos os países participantes indicaram que a tendência contemporânea de proteção a chefes de governo e Estado vai em outra direção. As ameaças atuais, como o uso de drones, ataques no meio virtual e o extremismo violento, afirmaram os palestrantes, não são solucionados com medidas apenas de reação ou de intervenção material. “A tendência atual é de empenhar esforços na prevenção de ameaças por meio do uso de informações de inteligência, análise de mídias sociais, Big Data, uso de agentes de segurança disfarçados junto ao público, planejamento operacional baseado em análise de riscos e intensificação da cooperação institucional com outras forças de segurança”, disse um dos participantes. Ele acrescentou que todos esses pontos falharam na resposta aos ataques de 08 de janeiro.
A ostensividade da segurança, de acordo com os palestrantes estrangeiros que participaram do Seminário Internacional, é uma medida intimidadora que, inclusive, afasta o presidente ou primeiro-ministro da população que efetivamente lhe dá a legitimidade de exercer o poder. O exemplo do governo Bolsonaro já se tornou um clássico: a segurança era feita integralmente pelo GSI, que mantinha a imprensa distante do presidente. Foi um tempo, disse um analista de segurança, em que a segurança presidencial não se intimidava em usar da força. Ele mencionou o ocorrido em Itamaraju, na Bahia, em 12 de dezembro de 2021, quando o coronel Gustavo Suarez da Silva, chefe do Departamento de Segurança Presidencial, agrediu e ameaçou repórteres da TV Bahia e da TV Aratu.
Um militar, o major general WP Rhoode, do Serviço de Proteção Presidencial da África do Sul, que participa do serviço comandado por civis, foi o mais incisivo de todos. Sua frase soou como um recado aos militares brasileiros e ao GSI: “Nenhuma democracia coloca os militares contra a sua própria população”.