O juiz Eduardo Appio, titular da 13ª Vara Federal de Curitiba, que já foi comandada por Sergio Moro, e responsável pelos processos da operação Lava Jato, quebrou o silêncio nesta segunda-feira (22) sobre a sigla de acesso ao sistema processual da Justiça que usava e que é motivo de questionamento por parte de bolsonaristas e lavajatistas: "LUL22".
Trata-se de uma sigla de identificação para acesso ao sistema eletrônico que faz uma referência clara ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Em entrevista à GloboNews, Appio explicou o porquê usava tal inscrição. Segundo o magistrado, tratou-se de um "protesto pessoal" contra a prisão do mandatário, que para ele foi ilegal.
"Alguns anos atrás, quando o presidente Lula ainda estava preso, a minha sigla de acesso ao sistema da Justiça Federal era 'LUL22'. Na época eu trabalhava com matéria previdenciária e esse foi um protesto isolado, individual, contra uma prisão que eu reputava ilegal. E depois, de fato, o STF considerou a prisão ilegal", declarou.
Na mesma entrevista, o juiz ainda teceu elogios ao presidente da República.
"Eu acho que o atual presidente Lula é uma figura histórica muito importante para o país. Erros e acertos vão ser julgados pela Justiça", pontuou.
Deltan Dallagnol
Eduardo Appio ainda garantiu que Deltan Dallagnol, que perdeu seu mandato de deputado federal após julgamento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), será intimado a prestar depoimento no âmbito das investigações que envolvem Rodrigo Tacla Duran, ex-advogado da Odebrecht.
A oitiva será realizada de forma presencial no dia 19 de junho. O ex-deputado, agora sem o foro privilegiado que o mandato parlamentar garantia, prestará depoimento, por enquanto, na condição de testemunha, pois foi citado por Duran no processo em que o advogado acusa o procurador Walter José Mathias Júnior de suspeição, já que ele teria relações pessoais com Dallagnol, suspeito de participar de um esquema de extorsão contra investigados na operação.
"Não tendo a prerrogativa de foro, naturalmente fica sujeito à jurisdição aqui de Curitiba, da Justiça Federal. Vamos intimá-lo sim e deve comparecer como qualquer cidadão comum. Não há nenhum privilégio pelo fato de ser o Deltan Dellangnol ou qualquer outro", afirmou Appio.
Denúncias contra Dallagnol e Moro
O advogado Rodrigo Tacla Duran, acusado de ter praticado lavagem de dinheiro para a Odebrecht quando trabalhava para a construtora, foi ouvido no dia 27 de março na 13ª Vara Federal de Curitiba pelo juiz Eduardo Appio. Em depoimento, denunciou o ex-juiz da mesma vara e hoje senador Sergio Moro e o ex-procurador Deltan Dallagnol de estarem envolvidos em um caso de extorsão do qual foi vítima.
De acordo com Tacla Duran, em 2016, o advogado Carlos Zucolotto Júnior teria exigido o pagamento 5 milhões de dólares para que ele pudesse obter benefícios em acordos de colaboração com a Lava Jato e, assim, se livrar da prisão. Na conversa, feita por aplicativos de mensagens e da qual Duran alega ter capturas de tela, Zucolotto Júnior teria apontado que DD (Deltan Dallagnol) acertaria os termos do acordo. Cerca de um mês se passou até que Duran fizesse uma transferência de 613 mil dólares para o escritório de Marlus Arns.
Marlus atuava com Rosângela Moro em casos que envolviam a Apae e em processos relativos à chamada Máfia das Falências. Já Zucolotto era sócio da esposa de Moro e foi seu padrinho de casamento. Duran afirma que, após a negativa em aderir ao esquema de extorsão, teria sido ameaçado por um outro delator, além de acusar o Ministério Público de utilizar subterfúgios para impedi-lo de prestar depoimentos.
“Com relação a Deltan Dallagnol e outros procuradores, inclusive coloquei na petição, que insistem em manter contatos extra conduto legal para continuar me perseguindo aqui na Espanha e em outros países. Ele se comunicava, tem provas nos autos, e tem uma questão de delator me ameaçando, por isso a urgência. Inclusive nessas trocas de mensagens foi comunicado que eu estava sendo ameaçado nos EUA por um relator. Precisa saber se o delator era a mando deles ou não, porque nada foi feito e as provas estão na própria petição”, denunciou.
Tacla Duran prossegue:
“Fui testemunha em uma série de países onde há cooperação internacional sobre os casos da Odebrecht. Fui testemunha no Panamá, Argentina, Peru, Suíça, Andorra, vários países. É a primeira vez que sou ouvido no Brasil. Estou em causa própria nesse processo há um ano e pouco. E os subterfúgios processuais utilizados até agora para que eu não fosse ouvido são diversos”.
Duran também afirmou que tem de responder uma série de processos sobre o mesmo fato em cinco países diferentes como forma de perseguição por não ceder às pressões para extorsão. Ele vive na Espanha atualmente e prestou seu depoimento por videochamada.
“O processo penal no Brasil tem dois objetivos: a repatriação e a execução penal. O doutor foi contra a minha repatriação e a favor de me processar na Espanha, ao mesmo tempo em que tenta me citar. Eu realmente não sei o que o Ministério Público quer além de me perseguir. Fui processado pelo mesmo fato em 5 países, por uma simples questão de vingança, por eu não aceitar a extorsão. E porque eu não aceitei ser extorquido e, para falar no linguajar de cadeia que ele gosta, ‘arregado’, eu fui perseguido e sou até hoje", afirmou.