A nomeação do ex-deputado olavista e antipetista Heitor Freire (União Brasil-CE) a cargo na diretoria da Sudene foi mantida pelo Palácio do Planalto. Muito criticado por suas posturas passadas, Freire conseguiu salvar seu novo cargo após publicar carta pública renegando seu passado como aluno de Olavo de Carvalho e admirador do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra.
Após a nomeação ser publicada no Diário Oficial da União, no último dia 11 de maio, uma série de críticas a Freire começaram a circular, lembrando seu passado de feroz combate antipetista. O governo então enviou o ministro Waldez Góes (PDT), do Desenvolvimento Regional, para negociar uma solução para o caso.
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Foi após a intervenção do ministro, Freire publicou sua carta de arrependimento, onde explica que suas posturas de ultradireita ficaram no passado. Agora ele deve ser mantido no cargo de diretor de fundos, incentivos e atração de investimentos da Sudene até uma segunda ordem. Sua exoneração dependerá de “fatos novos”, conforme disseram representantes do Governo ao portal Metrópoles.
O novo emprego funciona em Recife (PE), sede da autarquia vinculada ao Ministério do Desenvolvimento Regional. O salário de Freire será de R$ 14.849,50 e sua tarefa é analisar como serão empregados os recursos do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE). Ele foi indicado ao cargo por Luciano Bivar, presidente do seu atual partido.
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Passado antipetista e rompimento com Bolsonaro
Freire se diz ex-bolsonarista. Ele se elegeu deputado federal em 2018 com o número 1717, e se declarou ao longo da sua trajetória política como um ‘discípulo’ de Olavo de Carvalho – morto por Covid-19 em 2022. Também já defendeu a extinção do PT e da própria esquerda brasileira.
Freire permaneceu no PSL (partido em que Bolsonaro se elegeu em 2018) no segundo semestre de 2019 mesmo com a debandada em massa dos aliados de Bolsonaro e, mais tarde, em 2021, após a fusão entre PSL e DEM, se viu no União Brasil.
Naquele momento de permanência no partido teria rompido com o ex-presidente, mas até então era um dos quadros mais radicais do bolsonarismo no seu Estado. O rompimento se deu em outubro de 2019 quando Bolsonaro acusou Freire de ter vazado áudios sobre uma disputa interna no PSL e então passou a ser chamado de traidor pelos bolsonaristas.
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Freire foi um dos ex-aliados de Bolsonaro que, em depoimento à CPI das Fake News em 2020, confirmou a existência das chamadas milícias digitais.
Antes do rompimento, em março de 2019, chegou a propor que o governo Bolsonaro criasse a ‘Secretaria de Desesquerdização da Administração Pública’ para evitar o que segundo ele seria o “aparelhamento gradual do Estado por militantes e sindicalistas”. Foi nessa época que defendeu, com unhas e dentes, a própria extinção do PT.
No mesmo ano de 2019, defendeu que as escolas brasileiras adotassem livros do suposto filósofo Olavo de Carvalho, ‘guru’ de Bolsonaro, e do torturador criminoso Carlos Alberto Brilhante Ustra. À época, justificou a indicação como uma forma de “reverter o quadro da educação falida do Brasil”.
Em suas redes sociais, que foram desativadas após a nomeação ser divulgada pelo portal Metrópoles, não faltavam elogios a Olavo de Carvalho. Apresentando-se como um seguidor do guru do bolsonarismo, fez uma postagem emocionada homenageando o “querido mestre” logo após sua morte, por Covid-19, em 2022. “Muito obrigado por dividir conosco a sua sabedoria. Tive o prazer de ser seu aluno”.
Procurado pelo Uol, Freire reconheceu que teria sido da “ala radical” do bolsonarismo até o rompimento em 2019 e diz que reviu uma série de conceitos e opiniões. “Não concordo mais com a desesquerdização. Aprendi com o tempo que ninguém está condenado a ser a mesma pessoa para o resto da vida”, declarou.