Numa entrevista à rádio Jovem Pan, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou que deu uma “ordem” ao filho Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que é senador, vista por parte dos analistas como um movimento que modificará totalmente, desde já, a disputa eleitoral para o ano que vem, quando os brasileiros irão às urnas escolherem seus prefeitos. A ação, no entanto, é lida de outra forma por quem está fora da realidade paralela do bolsonarismo.
Bolsonaro disse que não quer Flávio disputando a prefeitura do Rio de Janeiro, o que já era dado como certo pelos universos políticos local e nacional. O que já estava preestabelecido é que seu primogênito entraria na disputa com Eduardo Paes (PSD) para ver quem ficaria com a administração da segunda maior cidade do Brasil. Agora, com a declaração do “chefe” radical, que a cada dia se consolida mais como uma espécie de guru e mandachuva da extrema direita brasileira, o cenário fica totalmente embaralhado.
“Nas eleições municipais de 2024 quero ele organizando os palanques nos 92 municípios do Rio, pois o PL tem o projeto de fazer uma grande quantidade de prefeitos e vereadores em todo o Brasil. Então conversamos e ele vai comunicar ao nosso grupo político no Rio que não será candidato à prefeitura. Vamos escolher o melhor nome para disputar a capital com o nosso apoio”, disse o ex-ocupante do Palácio do Planalto à emissora alinhada ideologicamente.
Flávio, numa encenação dissimulada, foi às redes sociais “agradecer” ao pai, a quem chamou de “líder”, e aproveitou para endossar a versão de que o melhor mesmo é escolher outro nome para disputar com Paes a prefeitura carioca.
“Agradeço ao meu líder Jair Bolsonaro pelas palavras e pelo reconhecimento. Seguirei ajudando meu amado Rio de Janeiro e trabalhando por todos os cariocas e fluminenses aqui do Senado Federal”, postou o senador.
No mundo real, o movimento feito por Jair Bolsonaro foi interpretado de uma outra maneira. Diante de todos os processos em que os vários integrantes do clã são investigados, e Flávio é o maior alvo dessas ações, sobretudo por conta das acusações de "rachadinha" (crime de peculato) no seu antigo gabinete na Alerj, o medo do “líder” é de que o filho vá parar na cadeia se deixar o cargo de senador, que garante a ele o foro privilegiado.
Prefeitos não têm essa prerrogativa e, caso fosse eleito ou perdesse a disputa, o primogênito tornaria-se uma “presa” fácil para a Justiça, da mesma forma que o pai, agora, depois de três décadas impune por seus desmandos, vem “rebolando” para não ir para atrás das grades.