INVESTIGAÇÃO AVANÇA

Os novos detalhes do esquema de Bolsonaro com as joias na fazenda de Piquet

Militares fizeram revelações em depoimento à Polícia Federal no âmbito do inquérito que apura o escândalo das joias da Arábia Saudita

Jair Bolsonaro e Nelson Piquet.Créditos: Anderson Riedel/Presidência da República
Escrito en POLÍTICA el

Dois militares que assessoravam Jair Bolsonaro deram detalhes, em depoimento à Polícia Federal prestado esta semana, sobre o esquema do ex-presidente com o ex-piloto de Fórmula 1 Nelson Piquet para armazenar ilegalmente os conjuntos de joias da Arábia Saudita que trouxe ao Brasil de maneira clandestina. 

O ex-mandatário utiliza um galpão em propriedade de Piquet no Distrito Federal para armazenar bens e presentes que recebeu durante seu mandato e, no local, estavam guardados dois kits de joias milionários dados pelo governo saudita e que deveriam ter sido incorporados ao patrimônio da União. Os "recebidos" só foram entregues ao Estado recentemente, após o escândalo vir à tona e o Tribunal de Contas da União (TCU) obrigar o ex-presidente a fazê-lo. 

De acordo com o coronel da reserva do Exército Marcelo da Costa Câmara, somente ele e o tenente Osmar Crivelatti tinham acesso ao galpão e não há nenhum registro escrito sobre o manuseio das joias. 

"Não há controle de acesso ao local, mas apenas o depoente e Marcelo possuem esse acesso", relatou Crivelatti em seu depoimento à PF. 

Militares de confiança 

Dois militares de confiança máxima se incumbiram de transferir e armazenar na fazenda do ex-piloto Nelson Piquet os mais de oito mil itens recebidos de presente pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. 

A operação começou dez dias antes de terminar seu mandato. Bolsonaro incumbiu o coronel e ex-assessor parlamentar do comando do Exército, Marcelo Câmara, de atuar diretamente na mudança dos presentes.

Câmara, que é segurança do ex-presidente, contou com a ajuda do subtenente do Exército Osmar Crivelatti, que também atua como assessor do Bolsonaro. Foi o subtenente quem entregou as joias e armas recebidas pelos regimes árabes, após os casos serem revelados e levarem à determinação de devolução dos itens pelo Tribunal de Contas da União.

Uma funcionária do Gabinete Adjunto de Documentação Histórica (GADH), que atuava no setor durante a gestão Bolsonaro, confirmou à Polícia Federal (PF) a atuação direta de Marcelo Câmara e Osmar Crivelatti no trâmite.

Foi essa funcionária que declarou, em depoimento à Polícia Federal, que a então primeira-dama Michelle Bolsonaro recebeu em mãos, no fim do ano passado, o segundo kit de joias enviado pelo regime da Arábia Saudita e que entrou ilegalmente no Brasil.