ANTONOV

Tarcísio telefona para Lula para "explicar" fake news sobre estatal da Ucrânia; caso vai parar no MP

Informação falsa sobre suspensão de investimento bilionário no país por falas de Lula sobre a guerra foi repassada à CNN por secretário do governo paulista, que agora estaria com o cargo em jogo

Lula e Tarcísio Gomes de Freitas.Créditos: Ricardo Stuckert
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Em meio ao desgaste provocado pela notícia falsa envolvendo supostos investimentos da estatal ucraniana de aviação Antonov no Brasil, o governador de São Paulo, Tarcísio Gomes de Freitas, telefonou para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva nesta sexta-feira (28) com o objetivo de arrefecer os ânimos e tentar "explicar" o caso. A ligação entre ambos foi confirmada à Fórum pela assessoria do Palácio do Planalto. 

A partir de informações supostamente repassadas pelo governo de São Paulo, CNN Brasil veiculou entre esta terça (25) e quarta-feira (26) matérias informando que a Antonov teria suspendido um investimento de US$ 50 bilhões no Brasil para a fabricação de aeronaves após declarações de Lula sobre a guerra Rússia-Ucrânia. 

Segundo a emissora, representantes da Antonov estiveram no Palácio dos Bandeirantes recentemente para negociar o investimento bilionário e, dias depois, a empresa teria enviado um e-mail ao Executivo paulista informando que suspenderia as tratativas, motivada por falas de Lula que teriam sido interpretadas como pró-Rússia. 

A CNN informou, ainda, que a Antonov foi representada nas negociações com o governo de São Paulo pelo escritório Kuntz Advocacia e Consultoria Jurídica. 

A notícia, entretanto, é falsa. Em nota oficial divulgada nesta quarta-feira (26), a Antonov desmentiu a CNN e o governo paulista afirmando que sequer possui representantes no Brasil. 

"A ANTONOV Company declara oficialmente que realiza constantemente consultas com parceiros estrangeiros de vários países, incluindo a República Federativa do Brasil, como parte de suas atividades visando a promoção de produtos e serviços no mercado externo. No entanto, a ANTONOV Company não possui um representante autorizado no Brasil e não concedeu a quaisquer pessoas, incluindo escritórios de advocacia, qualquer autoridade para representar os interesses da Empresa", diz um trecho do comunicado. 

Crise 

Diante da exposição da fake news, membros do governo Lula passaram a cobrar tanto a CNN Brasil, que veiculou a notícia falsa, quanto o governo de São Paulo, de onde teria partido a informação. Paulo Pimenta, ministro-chefe da Secom do governo Lula, foi às redes sociais criticou a emissora de TV. 

"Publicar notícia falsa sem ouvir os dois lados é jornalismo? Usar um site oficial de um governo de estado para ‘esquentar’ uma Fake News é honesto? É jornalismo ? Onde eu estudei, na UFSM, e me formei jornalista, aprendi que isso não é jornalismo", escreveu o ministro. 

A CNN, então, pediu desculpas a Pimenta no rodapé de uma matéria sobre a nota em que a Antonov desmente a informação sobre a suposta suspensão do investimento no Brasil. 

"Erramos: em uma falha de procedimento, a CNN não procurou, antes da publicação da reportagem, a Secretaria de Comunicação Social (Secom) da Presidência da República, à qual pedimos desculpas pelo erro", diz a emissora. 

Já o ministro dos Portos e Aeroportos, Márcio França, se dirigiu diretamente ao governo de São Paulo.

"É lamentável ver o Governo de SP produzir, 'oficialmente', Fake News contra o Governo Federal. Eu fui Governador de SP, o presidente também não era do meu partido, mas tínhamos atitudes republicanas, respeitosas. Esse NUNCA foi o padrão de São Paulo", escreveu França através das redes sociais. 

O caso teria provocado uma crise no Palácio dos Bandeirantes e, no telefonema a Lula, o governador Tarcísio teria informado ao presidente que cogita demitir Lucas Ferraz, secretário de Negócios Internacionais e que teria sido o responsável por difundir a informação sobre supostos negócios com a Antonov. A principal suspeita é de que, de fato, tenha ocorrido uma reunião, mas que o secretário tenha recebido pessoas que se apresentaram falsamente como representantes da empresa ucraniana. 

Fórum entrou em contato com o governo de São Paulo, via e-mail e telefone, pedindo um posicionamento sobre o caso, mas a administração paulista informou que, até o momento, não possui uma manifestação oficial. 

Caso vai parar no MP 

O deputado estadual Paulo Fiorilo (PT-SP) anunciou que vai entrar com uma representação no Ministério Público de São Paulo (MP-SP) para que o secretário de Negócios Internacionais do governo paulista seja investigado por supostamente plantar uma notícia falsa com motivações políticas. 

"Causa perplexidade o modo de produção e divulgação de notícias sem a devida comprovação oficial. A publicação de fake news pode caracterizar o crime de difamação e por isso é fundamental que o Ministério Público apure o que de fato ocorreu e se houve motivação política", diz o parlamentar. 

O petista afirmou, ainda, que vai propor uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) com o intuito  de investigar produção de fake news dentro do governo. 

"Um governo sério não pode se prestar a produzir FAKE NEWS. Irresponsabilidade é pouco para classificar essa ação do governo de SP, comandada por Tarcísio. Vou apresentar um pedido de CPI na Alesp e propor um projeto que combata as FAKE NEWS em âmbito estadual", escreveu através de suas redes sociais.