JAIR BOLSONARO

Entenda por que Bolsonaro disse estar “doidão” ao postar vídeo e o que ele tentou com isso

Ex-presidente apelou para desculpa ridícula e infantil, mas manobra esconde algo muito mais complexo e visa blindar alguém que pode ser preso a qualquer momento

Jair Bolsonaro.Créditos: Agência Brasil
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O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) deu uma das mais patéticas e ridículas justificativas à Polícia Federal (PF), em depoimento colhido na quarta-feira (26), para as postagens feita em suas contas oficiais nas redes sociais logo após a tentativa frustrada de golpe de Estado levada a cabo por seus fanáticos seguidores, em 8 de janeiro, alegando que o vídeo compartilhado que desacreditava o sistema eleitoral brasileiro teria sido colocado no ar em seus perfis “sem querer”, porque ele estaria “sob efeito de medicamentos”. Naturalmente, a versão virou piada e não há qualquer hipótese de tal desculpa ser aceita pelas autoridades que investigam o líder de extrema direita.

No entanto, numa análise mais aprofundada, o que emerge inequivocamente da atitude do extremista de alegar o famoso e batido “foi mal, tava doidão” é uma tentativa de puxar para si a responsabilidade pelo criminoso ato de incentivo a um golpe, ainda que se dizendo “inocente”. Jair Bolsonaro, ao alegar que “recebeu altas doses de morfina” para seu quadro de obstrução intestinal, estava na verdade colocando em marcha uma espécie de “operação blindagem”.

Em 15 de janeiro, portanto cinco dias após compartilhar o vídeo com uma entrevista com um integrante do Ministério Público do Mato Grosso que fazia acusações totalmente infundadas contra a lisura da eleição realizada em outubro de 2022, um ex-ministro de Bolsonaro, que pediu para não ser identificado e deu entrevista ao jornalista Josias de Souza, do Uol, disse que o autor do compartilhamento golpista era Carlos Bolsonaro, o filho mais problemático e destemperado do antigo mandatário. De fato, é pública e oficial a informação de que “Carluxo”, como é conhecido o rebento 02 de Bolsonaro, sempre foi o operador de todos os perfis do pai nas redes sociais.

Visto como o cerne do chamado Gabinete de Ódio do bolsonarismo, a complexa máquina de fake news e de assassinato de reputações da extrema direita brasileira, Carlos teria percebido momentos depois o tamanho da besteira que fez ao espalhar o arquivo criminoso e por isso apagou as postagens minutos depois. O tal ex-ministro que falou sobre aqueles tumultuados dias do ex-presidente na Flórida, logo após ficar sem mandato, confirmou que Bolsonaro àquela altura estava tão deprimido que sequer falava com seus interlocutores políticos, tendo inclusive trocado o número de telefone para não ser encontrado na mansão do ex-lutador de MMA José Aldo, em Orlando.

Mesmo com o vídeo poucos minutos no ar, a decisão de fazer tal publicação fez com que o ministro Alexandre de Moraes, do STF e do TSE, incluísse o ex-presidente no inquérito que investiga os golpistas terroristas que invadiram e destruíram as sedes dos três poderes da República na capital federa.

Um outro forte indício de que Carlos Bolsonaro foi o autor da postagem golpista é o fato de o vereador ter informado no dia 16 deste mês que estava deixando de operar as redes sociais do pai e, realmente, desde então, tanto o Twitter, Facebook, Instagram e Telegram do ex-ocupante do Palácio do Planalto seguem sem atualizações.

Para muitos atores políticos, tanto bolsonaristas como ligados ao governo Lula, a desculpa de Jair Bolsonaro dizendo-se “dopado” para ter cometido a ilegalidade de insuflar seus golpistas por meio de um vídeo criminoso teria, no fundo, a intenção de proteger Carlos de uma investigação, uma vez que a situação do filho 02 no que diz respeito à Justiça é bem complicada, podendo ele ter prisão preventiva decretada a qualquer momento por conta muitas outras acusações.