Wellington Macedo de Souza, de 47 anos, é o jornalista que está foragido desde o último dia de 24 de dezembro de 2022 acusado de integrar a organização criminosa que planejou um atentado a bomba no aeroporto de Brasília. Nesta quarta-feira (26), a Folha publicou uma entrevista com ele, que declarou estar se abrigando em fazenda de empresário bolsonarista, se diz vítima de perseguição e prometeu não se entregar à Justiça.
“Não voltei mais para casa, fui para outra cidade. Estou numa fazenda de pessoas que conheci no acampamento [montado diante do Quartel-General do Exército em Brasília]. Estou bem isolado, longe”, declarou por telefone ao jornal. A localização da fazenda e o nome do seu proprietário não foram divulgados.
Te podría interesar
Ajude a financiar o documentário da Fórum Filmes sobre os atos golpistas de 8 de janeiro. Clique em https://bit.ly/doc8dejaneiro e escolha o valor que puder ou faça uma doação pela nossa chave: pix@revistaforum.com.br.
Macedo está foragido desde o último Natal, depois que o plano de explodir a bomba no aeroporto de Brasília foi aos ares. Na ocasião, ele retirou a tornozeleira eletrônica que estava usando e se mandou do Distrito Federal.
Te podría interesar
Na recente entrevista, ele contraria a investigação da Polícia Civil do Distrito Federal que o coloca como o motorista do carro que transportou o artefato e alega que não sabia da existência da bomba e nem do plano para detoná-la.
Além dele, também estão envolvidos no caso George Washington de Oliveira Sousa, que teria preparado o explosivo, e Alan Diego dos Santos e Sousa, que colocou a bomba em um caminhão que transportava combustível de aviação para o aeroporto de Brasília. Os três foram tornados réus em janeiro depois que o TJ-DF aceitou denúncia do Ministério Público. George Washington e Alan Diego estão presos.
O objetivo do grupo seria detonar a bomba logo na entrada do aeroporto a fim de criar pânico na população e fomentar uma eventual ‘intervenção militar’ na capital federal que abrisse caminho para um golpe de Bolsonaro. A promotora Vera Gomes, em documento obtido pela TV Globo, reafirmou exatamente essa linha de investigação. Ela alega ter produzido provas suficientes, através de vídeos, laudos periciais e relatórios, que comprovam as autorias do crime e a motivação.
“Os planos dos réus eram mesmo colocar o artefato perto do aeroporto, plano, aliás, que foi relatado por George Washington em conversa com vizinhos, conforme informação obtida pelos órgãos de inteligência e relatado pelas testemunhas policiais em juízo. O objetivo era criar pânico na população e, com isso, motivar imaginária ação militar no país”, declarou a promotora.
A Revista Fórum está concorrendo o prêmio Top10 do Brasil do iBest. Contamos com o seu voto!
O MP pediu as condenações de Alan Diego e George Washington pelo crime de expor a vida e a integridade física de terceiros mediante explosão, arremesso ou colocação de explosivos. A pena, que é de 3 a 6 anos de prisão, pode aumentar em um terço de acordo com o MP uma vez que o alvo da explosão era uma reserva de combustível. No caso de pena máxima, ambos podem permanecer encarcerados por 8 anos. Wellington ficou de fora do pedido justamente por ainda estar foragido.
Prisão por incitar golpismo em 2021
A tornozeleira eletrônica se refere a uma prisão de 2021, determinada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, por ter instigado a turba de terroristas bolsonaristas a invadir a mais alta instância do Judiciário brasileiro no feriado de 7 de Setembro de 2021, durante uma transmissão na qual disse que “a possibilidade é de 80% (de invasão ao STF). São centenas de ônibus. Quando falamos que o povo está indo para Brasília para retomar o poder, é a retomada do poder, já que o presidente da República não tem mais poder”.
Por conta disso, Wellington foi detido e ficou uns meses na cadeia, para posteriormente, uma vez condenado, ser colocado em liberdade vigiada por meio de tornozeleira eletrônica. O repórter retirou ilegalmente o dispositivo de monitoramento, não se sabe exatamente quando, o que configura um novo crime.
Dizendo ser o fundador da “Marcha da Família Cristã pela Liberdade”, o jornalista frequentava diariamente o acampamento golpista instalado pelos bolsonaristas na porta do Quartel-General do Exército Brasileiro em Brasília, de onde saiu boa parte dos terroristas que devastaram a capital federal no dia 8 de janeiro deste ano, destruindo as sedes dos três poderes da República.
Assessor de Damares Alves e Linkedin suspeito
Entre as muitas atividades que ocuparam a vida profissional de Wellington, está um cargo exercido entre fevereiro e outubro de 2019 no Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, criado por Bolsonaro e entregue a Damares Alves. Lá, Wellington teve a oportunidade de ter ‘excelentes’ colegas de trabalho, como a ativista neonazista Sara Winter, que liderou o movimento “Os 300 do Brasil” – que promoveu um ataque com fogos de artifício ao STF em 2020, em plena pandemia.
Mas para além do bolsonarismo, a ocupação do suspeito parece não ter consistência. De acordo com o perfil do jornalista na rede de relações profissionais LinkedIn, ele teria realizado trabalhos para importantes veículos de imprensa brasileiros, como os jornais O Estado de S. Paulo, Folha de S.Paulo e para a revista Veja. Nenhum desses órgãos de comunicação confirmou as informações até o momento.
O bolsonarista extremista afirma também em seu perfil que trabalhou para a agência espanhola EFE, que por meio de nota à redação da Fórum explicou jamais ter mantido qualquer vínculo com o jornalista, negando que ele tenha sido seu correspondente. Há cinco anos, diz a EFE, a agência comprou para uma extinta produtora, a Mediamca, três materiais audiovisuais que foram produzidos por Wellington, mas sem qualquer responsabilidade pela escolha do jornalista, assim como sem saber se existiria algum laço entre ele e a produtora que já não existe mais.
A vaga ocupada por Wellington na pasta chefiada por Damares Alves parece encerrar a discussão sobre sua proximidade com Jair Bolsonaro e o núcleo de poder de seu governo, uma vez que a nomeação para um dos ministérios mais “ideológicos” da gestão bolsonarista se deu por conta de seu alinhamento com as posturas reacionárias e antidemocráticas da administração de extrema direita.