O escândalo das joias de diamantes avaliadas em R$ 16,5 milhões, supostamente presenteadas à ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro pelo governo da Arábia Saudita, e que o governo Bolsonaro tentou trazer ao Brasil sem a devida declaração à Receita Federal, estão tirando o sono não apenas do clã Bolsonaro, como de seus aliados. Importantes figuras do Partido Liberal (PL), legenda que abriga o ex-presidente e boa parte dos seus aliados, avalia que o escândalo pode comprometer a manutenção da liberdade de Jair, caso volte ao Brasil neste mês conforme programado, e tentam convencê-lo a permanecer nos EUA.
A avaliação vem após as declarações da ex-primeira-dama de que teria sido “a última a saber das joias”, que as mesmas deveriam ser “devolvidas para a Arábia Saudita”, e seu marido, o responsável pelos bens, não a avisou sobre o caso. Com a alegação, dada à toda a imprensa nacional, Michelle automaticamente coloca Jair na cena do crime e dá munição ao argumento de que as joias foram presenteadas ao casal como uma espécie de propina pela venda de ativos da Petrobrás ao grupo saudita Mubadala.
Tudo isso fez o PL voltar atrás com os planos de que Bolsonaro retornaria ao país no próximo dia 15 de março, para fazer uma nova cirurgia. Na avaliação do partido, ao contrário de quando o planejamento do retorno foi traçado, agora existem possibilidades reais de que Bolsonaro vá para a cadeia.
No novo planejamento, e novamente por conta das declarações da ex-primeira-dama, o PL quer que Michelle dê uma “sumida” da imprensa e das redes sociais. Além disso, o partido terá de convencer Jair a cancelar sua vinda e consequentemente a cirurgia que precisa fazer.
O ex-presidente está nos EUA desde 31 de dezembro, quando tomou um avião na noite anterior a fim de fugir da posse de Lula. Sua suposta volta em janeiro acabou cancelada por conta dos ataques de seus apoiadores às sedes dos Três Poderes, em Brasília, no dia 8 daquele mês. No final de fevereiro, com a poeira desse escândalo tendo abaixado, o líder da extrema direita e seus aliados começaram a avaliar um possível retorno para março. Mas o mês começou e logo veio à público a denúncia sobre as joias.
Ainda não se sabe se Bolsonaro irá acatar a recomendação do PL e permanecer nos EUA ou se insistirá com a viagem. De qualquer forma, o ex-presidente acabou traído pelas declarações da esposa e, ao contrário do que dizem seus apoiadores, a tendência é de que ele mantenha distância de qualquer possibilidade de ser preso.