VIAGEM ESTRATÉGICA

Michelle ironiza imprensa ao confirmar ida aos EUA, onde deve combinar defesa com Bolsonaro

Ex-primeira-dama embarcou para encontrar seu marido e definir estratégia diante do escândalo das joias

Jair e Michelle Bolsonaro.Créditos: Alan Santos/PR
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Michelle Bolsonaro teve que reprogramar sua agenda após o escândalo das joias milionárias vir à tona. A ex-primeira-dama, recentemente, foi agraciada por Valdemar Costa Neto com o cargo de presidente do PL Mulher, e estava organizando um giro pelo país para se firmar como uma nova liderança da extrema direita. A agenda, no entanto, foi cancelada para dar lugar a uma viagem de última hora aos Estados Unidos

A esposa de Jair Bolsonaro acompanhou o ex-presidente em sua "fuga" aos EUA em 30 de dezembro de 2022 e retornou ao Brasil no final de janeiro. A nova ida de Michelle ao país da América do Norte - ela embarcou na manhã desta terça-feira (14) - ocorre em meio às investigações sobre as joias de R$ 16,5 milhões dadas de "presente" pelo governo da Arábia Saudita ao Estado brasileiro e que foram apreendidas pela Receita Federal após Bolsonaro tentar fazê-las chegar ilegalmente ao Brasil

Essa será a primeira vez que Michelle e Bolsonaro se encontrarão pessoalmente após o escândalo ganhar holofotes. Especula-se, portanto, que o casal tenha organizado a viagem para que ambos possam discutir conjuntamente as estratégias de defesa

O nome da ex-primeira-dama foi envolvido na trama pelo ex-ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, que tentou dar uma "carteirada" para liberar as joias na Receita Federal em outubro de 2021 dizendo que eram para Michelle.

Jair Bolsonaro, no entanto, teria sido o mentor da estratégia de recuperar as joias apreendidas, no valor de R$ 16,5 milhões, além de ter confessado que embolsou outro conjunto de joias, estimado em R$ 400 mil, dado pelos árabes.

Nesta terça-feira (14), Michelle confirmou a ida aos EUA, através dos stories no Instagram ironizando a imprensa. Ela divulgou o print de uma matéria do portal Metrópoles sobre o assunto, destacando o trecho em que é informado que o maquiador Augustin Fernandez a acompanha na viagem, e escreveu: "Pela primeira vez uma comunicação assertiva (emojis de aplausos) 'Acompanhada do amigo pessoal' (emoji de coração)"

Reprodução/Instagram Michelle Bolsonaro

Bolsonaro diz que está disposto a depor à PF

As "férias" de Jair Bolsonaro nos Estados Unidos podem estar com os dias contados diante do escândalo das joias milionárias vindas da Arábia Saudita que ele tentou fazer entrar ilegalmente no país.

Através de sua defesa, o ex-presidente enviou petição à Polícia Federal (PF), nesta segunda-feira (13), informando não só que pretende entregar ao Tribunal de Contas da União (TCU) o segundo conjunto de joias que se apossou de forma clandestina, como também que está "à disposição" para prestar depoimento no âmbito das investigações. 

O próprio Bolsonaro chegou a admitir, em entrevista já após o escândalo ser revelado, que incorporou o segundo estojo árabe ao seu “acervo pessoal”, sob a alegação de que trata-se de um presente “personalíssimo”. O ex-presidente, no entanto, não poderia se apossar das joias. Pela lei, elas deveriam ir para o acervo da presidência da República

Na última quinta-feira (9), então, em resposta a uma representação protocolada pela deputada federal Luciene Cavalcante (PSOL-SP), o ministro Augusto Nardes, do TCU, concedeu uma medida cautelar em que proíbe Bolsonaro de utilizar ou vender joias dadas como "presente" pelo governo da Arábia Saudita. Diante da determinação da Corte, a defesa de Bolsonaro enviou petição à PF solicitando que as joias fiquem sob posse do TCU até a conclusão das investigações. No documento, os advogados do ex-presidente dizem ainda que ele está à disposição para depor sobre o caso aos investigadores da PF. 

Segundo a petição enviada à Delegacia de Crimes Fazendários de São Paulo, Bolsonaro vai comparecer "de forma espontânea" e se coloca "à total disposição para atender a quaisquer determinações no interesse do esclarecimento da verdade real, especialmente sua oitiva".

Mudança de planos

Documentada a disposição de Bolsonaro para depor, o ex-presidente, caso seja convocado de fato pela PF, terá que cancelar um evento no qual havia confirmado presença na última semana. O ex-presidente é anunciado como participante de um seminário sobre "sustentabilidade" a ser realizado no dia 30 de março na Flórida (EUA), pela empresa Geoflorestas. 

Na última semana, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) havia anunciado, através das redes sociais, que seu pai, Jair Bolsonaro, retornaria ao Brasil no dia 15 de março. “No dia 15 de março, o nosso Johnny Bravo volta para o Brasil. Já pode pendurar a bandeira verde e amarela e vestir as cores do nosso País”, postou.

Minutos depois, no entanto, o senador voltou atrás, apagou a publicação e se desculpou: “Peço desculpas pela postagem anterior, deve ser a saudade grande! Na verdade a data de retorno do nosso líder Jair Bolsonaro no dia 15/março era provável, mas não confirmada ainda. Assim que houver uma data definitiva ele mesmo divulgará, tá ok!”. 

Se Bolsonaro não retornar, prisão deve ser decretada

Se até há pouco tempo a prisão de Jair Bolsonaro era considerada uma possibilidade remota, o escândalo das joias milionárias mudou este entendimento dentro da Polícia Federal. Investigadores da corporação têm falado em prazo para pedir o encarceramento do ex-presidente à Justiça diante de sua permanência nos Estados Unidos em meio ao inquérito que apura o caso. 

As revelações sobre a tentativa de Bolsonaro de fazer entrar de forma ilegal no Brasil joias de R$ 16,5 milhões e ter se apropriado de outro conjunto de artigos de luxo milionário já dão base para a PF pedir a prisão preventiva do ex-presidente, e investigadores têm estudado a forma de fazê-lo. 

Segundo reportagem da jornalista Carolina Brígido, do portal UOL, policiais federais que apuram a questão das joias vêm cogitando pedir a prisão de Bolsonaro caso ele não retorne ao Brasil até o mês de abril. O ex-mandatário está nos EUA desde 30 de dezembro de 2022 e, de acordo com a PF, sua permanência no país da América do Norte diante do inquérito pode configurar "evasão do distrito da culpa", dispositivo que consta no artigo 302 do Código de Processo Penal e que pode justificar a solicitação para uma prisão cautelar. 

Além das joias de R$ 16,5 milhões, o governo da Arábia Saudita deu ao Estado brasileiro um segundo estojo com artigos valiosos e este outro "presente" foi para o acervo privado de Bolsonaro sem ser declarado à Receita Federal e desrespeitando acórdão do Tribunal de Contas da União (TCU) que versa sobre a questão. Caso este conjunto de peças milionárias não seja apresentado publicamente e devolvido ao patrimônio da União, a PF pode vir a realizar operações de busca e apreensão em endereços do ex-mandatário