DOR DE COTOVELO?

Moro, julgado suspeito e parcial, pede "impessoalidade" a Lula

Ex-juiz, que aceitou ser ministro de Bolsonaro na esperança de conseguir uma vaga no STF, critica possível indicação do atual presidente à Corte e é detonado nas redes sociais

Sergio Moro e Jair Bolsonaro.Créditos: Marcos Corrêa/PR
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O senador Sergio Moro (UB-PR) está sendo detonado nas redes sociais após fazer uma publicação em que pede "impessoalidade" ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva na indicação do próximo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF)

Através do Twitter, neste domingo (12), o ex-juiz, que foi considerado suspeito e parcial pelo STF nos processos que conduziu contra Lula, criticou a possibilidade do presidente indicar para a vaga do ministro Ricardo Lewandowski, que se aposentará em maio, seu advogado Cristiano Zanin.

"Um bom resumo do Governo Lula até aqui: ataque à lei das estatais para loteamento político, esposas de ministros nos Tribunais de Contas e o desejo de ter o advogado e amigo pessoal no STF. Onde está a impessoalidade? Como fica a independência das instituições? Estaremos de olho", escreveu. 

Zanin foi o advogado que conduziu a defesa de Lula nos processos liderados por Moro e conseguiu não só tirar o ex-presidente da prisão, como anular junto à Justiça as sentenças proferidas pelo ex-juiz. Cabe lembrar que o ex-magistrado, conforme mostram diálogos entre procuradores da Lava Jato vazados em 2019, aceitou ser ministro da Justiça no governo de Jair Bolsonaro com a intenção que fosse agraciado com um indicação ao STF por parte do ex-presidente. 

Os dois fatos fizeram com que Moro passasse a receber "invertidas" de usuários das redes sociais nos comentários de sua publicação.

"Ué, quem é vc para falar em impessoalidade e independência das instituições? Zanin atuou em processos fajutos que vc julgou. Vc foi derrotado e ficou com a alcunha de juiz ladrão. Vc também, foi derrotado em suas articulações para integrar o STF. É dor de cotovelo que se fala?", escreveu, por exemplo, o deputado federal Nilto Tatto (PT-SP)

"Peraí, como é??? Você PRENDEU o adversário do candidato que seria eleito presidente, se torna MINISTRO DELE, é cotado para esse mesmo STF e vem falar de impessoalidade? Tua cara não treme não, homem???", comentou, por sua vez, o jornalista Fred Santana, em meio a inúmeras outras reações do tipo. 

Pressão por mulher negra no STF

No mês de maio, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fará a primeira indicação de um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) neste terceiro mandato. Há uma campanha que tem ganhado corpo para que o nome seja de uma mulher negra.

A vaga será aberta com a aposentadoria do ministro Ricardo Lewandowski, que completará 75 anos em maio.

Nesta semana, no Dia Internacional da Mulher, celebrado na quarta-feira (8), entidades jurídicas lançaram um manifesto pela indicação inédita de uma jurista negra para a Suprema Corte que foi encaminhado ao gabinete da Presidência da República. (leia o texto na íntegra ao final desta matéria)

O documento afirma que a representação dos órgãos do sistema de Justiça deve espelhar a representatividade da população e que a falta de mulheres negras na composição do STF arranha a capacidade de percepção da realidade.

O texto tem como signatários uma centena de entidades, entre elas a Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD), o Grupo Prerrogativas, o Coletivo de Defensoras e Defensores pela Democracia, a Associação da Advocacia Pública pela Democracia, a Coalizão Nacional de Mulheres.

O ministro do STF Edson Fachin, também no dia 8 de março, afirmou durante a sessão que "quem sabe em um lugar futuro" a corte terá uma integrante negra. Ele fez a declaração ao cumprimentar as ministras Cármen Lúcia e Rosa Weber e a ministra aposentada Ellen Gracie pelo Dia Internacional da Mulher. Na fala, ele disse que pedia licença para cumprimentar uma eventual "quarta ministra", negra.

Os ministros Silvio Almeida, dos Direitos Humanos, e Anielle Franco, da Igualdade Racial, engrossaram o coro em favor de uma mulher negra para o STF. 

Almeida, ao comentar a fala de Fachin, disse que, apesar de estarem discutindo uma tese central sobre a questão racial no Brasil, não havia "nenhuma pessoa negra ou mulher negra discutindo a questão racial naquele plenário". Depois, afirmou que uma ministra negra no Supremo "vai ser de importância fundamental, central, para que a gente comece a discutir a democratização dos espaços de poder no Brasil".

Já Anielle Franco afirmou, em entrevista à GloboNews, que pretende pedir a Lula a indicação de uma negra ao STF.

O posicionamento dos dois ministros de Lula diverge do perfil de um dos principais cotados para a vaga, o advogado Cristiano Zanin. Em entrevista a Reinaldo Azevedo, no último dia 2, o presidente afirmou que "todo mundo compreenderia" caso ele indicasse o advogado para uma vaga no STF. Zanin defendeu o mandatário nos processos da Operação Lava Jato, que o levaram à prisão e, depois, foram anulados pelo Supremo.

Juízes que integram o  Encontro Nacional de Juízas e Juízes Negros (Enajun), coletivo criado há seis anos para aumentar a presença de magistrados negros nas cúpulas do Poder Judiciário, também trabalham pela indicação de uma juíza negra de carreira, algo que dizem ser fundamental. Além disso, Defensoria Pública e Ministério Público estudam nomes para a corte.

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