AÇÃO SUSPEITA

Chefe da inteligência da Receita copiou dados sigilosos de inimigos de Bolsonaro

Sem nenhuma motivação técnica ou investigação em curso, Ricardo Pereira Feitosa acessou informações confidenciais de desafetos do ex-presidente

Créditos: Marcelo Camargo/Agência Brasil
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Ricardo Pereira Feitosa, coordenador-geral de Pesquisa e Investigação da Receita Federal no início do governo de Jair Bolsonaro (PL), acessou e copiou dados fiscais confidenciais de inimigos do então presidente da República.

Os alvos de Feitosa foram o empresário Paulo Marinho, o ex-ministro Gustavo Bebianno, ambos ex-aliados que tinham rompido com a família Bolsonaro, e o procurador-geral de Justiça do Rio de Janeiro, Eduardo Gussem.

Este último era o responsável pelas investigações do esquema de “rachadinha” no gabinete do hoje senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), quando o filho do ex-presidente era deputado estadual.

De acordo com documentos e depoimentos obtidos pela Folha de S.Paulo, não havia nenhuma motivação técnica ou investigação em curso contra os três para que Feitosa acessasse os dados nos dias 10, 16 e 18 de julho de 2019.

O chefe da inteligência da Receita fez cópias das declarações completas de Imposto de Renda (IR) do procurador Eduardo Gussem de 2013 a 2019. De Bebianno, também foram extraídos dados do IR referentes ao mesmo período, além de outros documentos. Marinho teve os IRs de 2008 a 2019 acessados e copiados (exceto de 2012). Sua esposa, Adriana, os de 2010 a 2013.

Feitosa também investigou dados dos inimigos de Bolsonaro em outros três sistemas sigilosos da Receita, um que reúne ativos e operações financeiras de interesse do Fisco, um de comércio exterior e uma plataforma integrada alimentada por 29 bases de informações distintas.

O ex-chefe da inteligência da Receita divulgou uma nota para tentar se justificar. Ele afirmou que não cometeu violação, que não vazou dados sigilosos e que sempre atuou no estrito cumprimento do dever legal.

Quem são os alvos do ex-chefe da inteligência da Receita

Eduardo Gussem chefiou o Ministério Público do estado do Rio de Janeiro (MP-RJ) de 2017 a janeiro de 2021. Neste período, o órgão recebeu, durante investigação, relatório produzido pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), que apontou movimentação financeira atípica de Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio (Alesp).

Marinho e Bebbiano, que vieram a se tornar amigos próximos, participaram do comando da campanha de Bolsonaro em 2018. O primeiro cedeu sua mansão no Jardim Botânico, no Rio, para ser quartel-general e estúdio de gravações para o horário eleitoral gratuito.

O segundo coordenou a campanha de Bolsonaro no mesmo ano e, após a vitória, se tornou ministro da Secretaria-Geral da Presidência. Porém, ambos romperam com o clã Bolsonaro no início da gestão.