O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi informado por ofício, em 2019, pelos diretores da empresa aérea Voare, a única autorizada a operar voos na Terra Indígena Yanomami para levar médicos, enfermeiros e outros agentes públicos ao remoto local, de que o senador que indicou o coordenador da reserva, Mecias Jesus (Republicanos-RR), supostamente pedia propina à companhia. O então chefe do Executivo federal, mesmo sabendo do alegado caso de corrupção, não fez absolutamente nada em relação à denúncia. É o que informa a jornalista Daniela Lima, da CNN Brasil, que teve acesso ao documento entregue no gabinete do então ocupante do Palácio do Planalto.
“Ocorre que, recentemente, o coordenador do Distrito Indígena Yanomami foi nomeado pelo senador Messias (o correto é Mecias) de Jesus, o que nos trouxe grande indignação, pois, de início, o senador pediu propina para nos manter no contrato. Caso contrário, seriamos substituídos (...) Nosso contrato havia expirado em janeiro de 2019, estávamos trabalhando por indenização até que o contrato emergencial, em andamento no SESAI Brasília, fosse concretizado, onde a Voare sagrou-se vencedora”, diz o ofício entregue a Bolsonaro, que detalha os procedimentos para que o novo contrato fosse celebrado com a empresa aérea, o que vinha sendo “dificultado” pelo coordenador nomeado e pelo senador, que estariam pedindo “vantagens” para concretizá-lo, ainda conforme a versão dos denunciantes.
Segundo a Voare, o coordenador da Reserva Yanomami, Francisco Dias, apadrinhado do parlamentar que o indicou, teria inclusive deixado a empresa de fora da nova licitação por não ter aceito os esquemas ilegais, colocando em edital a necessidade de que os aviões fossem “aeromédicos”, modelo que a companhia não possuía. O caso, inclusive, teria ido parar na Justiça sob acusações de fraude em licitação e restrição de concorrência.
A CNN questionou a assessoria do agora ex-presidente sobre o recebimento do ofício com as denúncias e o fato de nada ter sido feito a respeito das alegadas ações de corrupção, e foi informada de que “todas as comunicações e ofícios enviados à Presidência e inerentes a outras pastas eram encaminhados aos respectivos ministérios”. Já políticos bolsonaristas próximos da antiga gestão disseram à emissora que “o gabinete era desorganizado, não conseguindo garantir que a denúncia tenha chegado ao ex-chefe de Estado”.
Francisco Dias disse à CNN, por meio de uma nota enviada pela assessoria do senador Mecias de Jesus, que “a Voare deixou de prestar serviços porque ele teria constatado diversas irregularidades, tais como aeronaves inadequadas para o serviço aeromédico” e que “assim abriram um processo de dispensa de licitação para contratação emergencial”.
Já o parlamentar acusado enviou um vídeo à emissora de notícias na qual rebatendo e negando “toda e qualquer denúncia vazia, leviana e descabida, como essa fala de que ele pediu propina”.