Em longa entrevista à jornalista Raquel Krähenbühl, correspondente da Globo em Washington, divulgada pelo Jornal Nacional neste sábado (11), o presidente Lula afirmou que entre os temas tratados na reunião com Joe Biden propôs a organização de um grupo formado por países não alinhados à Rússia e à Ucrânia para selar um acordo de paz.
"Eu acho que nós precisamos construir um grupo de países que comece a se organizar pela paz, ou seja, criar uma espécie de G20 pela paz. Nós criamos o G20, quando houve a crise econômica. Portanto, nós precisamos criar um outro instrumento político de países que não estão participando de nenhuma atividade nesta guerra e conversar com eles", disse.
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Ao falar sobre a guerra, Lula listou países que podem contribuir para o diálogo entre Ucrânia e Rússia e apontou que as duas nações estão erradas.
"Primeiro, o Putin (Vladimir Putin, presidente russo) tem que entender que ele está errado ao fazer invasão territorial de um país e ele precisa voltar atrás. É preciso que a guerra pare para gente começar a conversar. E eu disse para ele que eu tenho interesse, o Brasil tem potencial disso. O México tem potencial, a Indonésia tem potencial, a China tem potencial, a Índia tem potencial. Tem muitos países que não estão envolvidos e é isso que eu desejo. Alguém vai ter que falar para o Putin: ‘Cara, para essa guerra.’ Ou: ‘Zelensky (presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky), para essa guerra.’ Ou seja, vamos parar, vamos começar a conversar, que a gente pode encontrar uma solução para que o mundo seja pacificado", disse o presidente brasileiro.
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Lula ainda revelou que Biden tem clareza sobre duas coisas: "primeiro, que a guerra tem que parar, ela já foi longe demais. Segundo, é que as pessoas precisam reconhecer as suas falhas e seus acertos".
"Eu disse ao presidente Biden que nós nos propúnhamos a conversar. Nós já tínhamos conversado com os Estados Unidos na Guerra do Iraque. Nós já tínhamos conversado com o Irã na questão do enriquecimento de urânio, que ninguém conseguia fazer. O Brasil foi lá e fez. Ou seja, então nós temos que colocar em prática toda a nossa experiência para a gente tentar convencer as pessoas de que a única coisa que não interessa é a guerra, o resultado da guerra é destruição de patrimônio e destruição de vidas humanas que não serão mais recuperadas. Então, vamos parar e vamos encontrar uma solução".
Liga
A jornalista da Globo ainda lembrou que o encontro com Biden que havia sido planejado para durar 15 minutos e durou uma hora. E indagou Lula sobre o que teria dado "liga" entre os dois líderes mundiais.
"Olha, possivelmente, de todos os presidentes americanos, o presidente que mais tem vínculo com o movimento dos trabalhadores, com o sindicato é o Biden. Ontem, eu uma reunião com 18 sindicalistas, eu perguntei se o discurso do Biden, que ele fez no Congresso Nacional, ele tinha falado muito de trabalhadores, se ele era um defensor dos trabalhadores ou eu que estava entendendo mal. E os trabalhadores me disseram que ele é, na história dos Estados Unidos, o presidente que mais está ligado aos trabalhadores e aos sindicatos. Ora, isso deu uma proximidade, deu uma liga, porque eu venho do movimento sindical. E a visão dele sobre o mundo do trabalho, a visão dele sobre o papel do sindicato é muito importante, porque, veja, tem muita gente que acha que tem que destruir o sindicato para melhorar as coisas. Não. Quanto mais forte for o sindicato, quanto mais forte, quanto mais lutador, quanto mais brigador for o sindicato, mais a democracia será fortalecida. É assim que tem que se pensar. A democracia não é um pacto de paz. A democracia é uma sociedade em movimento, em ebulição. Uma sociedade querendo cada vez mais. É isso que a democracia é. Eu acho que ele entende isso, eu entendo isso. E eu posso dizer que nós vamos nos dar muito bem", respondeu.